Segredos de Sangue, 2013.


Sim, é um poster belíssimo.
Somente por ele já valeria a pena assistir ao filme. Mas o trabalho realizado nesse Segredos de Sangue é algo que poucas vezes foi levado aos cinemas com tamanha competência e paixão. Digo "paixão" porque se nota claramente que o diretor está em um gênero de filme, o suspense/vingança, que é a sua casa. O nome do "culpado" por esse sensacional filme lançado esse ano? Chan-wook Park.

Sim! É a estreia de Chan-wook Park no cinema ocidental (ou hollywoodiano, se preferirem). Ele é o meu diretor sul-coreano preferido, nunca neguei isso. Tampouco escondo que morro de amores pelo cinema da tríade Coreia do Sul/Japão/China: simplesmente adoro o jeito "cru" que eles apresentam na tela os seus filmes: repletos de poesia, violência e sem nenhum pudor. O cinema sul-coreano não é para qualquer um: é preciso ter estômago forte e mente aberta, pois tudo o que os realizadores imaginarem acontecerá. Chan-wook Park conseguiu levar para os EUA toda a beleza miserável de seus filmes como Oldboy (2003) e Sede de Sangue (2009). E Segredos de Sangue fica ainda melhor com um elenco que não deve em nada às interpretações excelentes dos atores sul-coreanos com quem Park já trabalhou: o filme é a prova de que, com certa liberdade dada aos realizadores e boas ideias na cabeça, é possível se fazer uma grande obra.

Embora contando apenas com três protagonistas principais, a bela e competente Mia Wasikowska (India Stoker), a mais não-tão-bela-por-causa-das-plásticas Nicole Kidman (Evelyn Stoker) e um ator que eu quase desconhecia e que foi uma grata surpresa - Matthew Goode (Charles Stoker), que também fez o papel de Ozymandias em Watchmen (2009) - Segredos de Sangue tem interpretação tão magistrais que é difícil pensar o filme com outros atores. A história toda gira em torno de India Stoker, uma garota que, ao completar 18 anos, recebe a notícia de que seu pai acabara de morrer em um acidente de carro, deixando ela e a viúva Evelyn sozinhas no mundo. Porém, essa "solidão" quase não tem tempo de se desenvolver, já que no funeral de seu pai, India conhece o tio que nunca havia visto, o Charles. O rapaz boa pinta resolve passar um tempo na casa das duas, deixando India inconformada com essa situação, uma vez que sua mãe mal estivera em luto pelo pai. Charles, por sua vez, é um sujeito estranho, mostrando-se extremamente educado e conquistando aos poucos a confiança de India ao mesmo tempo em que acontecimentos estranhos ocorrem em torno da casa da família. O relacionamento dos três vai se tornando cada vez mais sufocante até culminar em um final surpreendente.

E Chan-wook Park é isso: surpreendente. Ele consegue, sempre, dar reviravoltas nas tramas de seus filmes e nos deixar sorrindo diante de toda a bestialidade humana. E se todos os seus filmes são plasticamente estonteantes, Segredos de Sangue é deslumbrante: há diversas cenas que são "mescladas", com a imagem da tomada anterior formando a nova (particularmente, a passagem dos cabelos da Nicole Kidman para as matas do campo de caça é de tirar o fôlego). Outra característica marcante do filme é o posicionamento das câmeras: em diversos momentos ela está a meia altura, criando efeitos interessantíssimos na narrativa da obra (como na parte do parque de diversões em que India parece flutuar) e dando os viéses de cada protagonista (por exemplo, a conversa entre os três na cozinha após Charles e Evelyn voltarem das compras).

Se a linda Mia Wasikowska só tem no currículo um filme ruim - o execrável Alice no País das Maravilhas de Tim Burton (2010) - agora ela ganha, de vez, o respeito que merece entre as grandes atrizes de Hollywood. A bela australiana tem feito papéis difíceis (como a garota doente em Inquietos, de 2011, e a romântica mulher de Jane Eyre, de 2011), exigindo bastante de sua performance. É gratificante ver uma atriz que venho admirando há um tempo tornando-se um "monstro" a cada filme que faz. Mérito dela, claro. Mas mérito também de Chan-wook Park, que soube extrair de seus atores o máximo para levar às telas esse delicioso suspense.

Bem-vindo a Hollywood, Park! Só não se renda a ela: mantenha-se original em meio a tantas coisas rasas que imperam no cinema estadunidense.


Alex Martire


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