Bergman sua Ilha, sua solidão, eterna juventude e seus demônios
Este filme comprei entre outros em um momento de impulso consumista, mas impulsos consumistas que resultam em compras de filmes e livros são altamente recomendáveis. Não sou uma especialista em Ingmar Bergman, ainda estou conhecendo pouco a pouco a sua filmografia, mesmo não sendo uma especialista da produção Bergeniana uma coisa eu afirmo, seus filmes não são recomendados para domingos à tarde, quando estamos lamentando gradativamente a chegada da segunda-feira.
Os filmes de Bergman por falta de um adjetivo mais apropriado são de uma densidade que nos fazem ficar indo e voltando a eles, buscando as melhores interpretações, as melhores leituras, todas essas no meu ponto de vista são tentativas inconclusas. Interpretações e leituras nem sempre implicam no conhecimento de uma determinada coisa. Diante dessa minha constatação, fiquem à vontade em discordar, o que nos resta e nos rendermos a nossas experiências como espectadores, essas muito únicas e muito particulares. Daí entre outros aspectos a maravilha do cinema. Li não sei direito onde uma declaração, acho que do Andrea Tonacci, - um dos ícones do nosso Cinema Marginal – que o cinema não deve ser encarado como um retrato da realidade – e de fato ele não é.
Minimizamos seus efeitos, seus valores, seus significados, sua essência se o consentimos dessa forma. De fato ele é a representação de uma dada e pretensa realidade, mas acredito veemente que ele pode em maior ou menor escala nos ajudar a “lidar”, compreendê-la e conviver de forma mais amena com ela. Não sei se para vocês ? Mas para mim o cinema não é apenas uma válvula de escape, é muito mais o meu lugar de conforto - um porto de chegada acolhedor que me ajuda a encarar e ler melhor a realidade ou quem sabe as realidades que me rodeiam.
Sendo assim , não só os filmes de Bergman como dos demais cineastas que lidam com temáticas densas, existencialismo, dramas pessoais etc; podem nos conduzir nesse processo. Mas é claro que cabe a cada espectador optar em encarar o cinema como apenas uma diversão, não que isso seja ruim, mas aconselho experimentá-lo também como um meio de “crescimento pessoal”.
A Ilha de Bergman (2004) foi realizado por Marie Nyreröd e exibido no Festival Internacional de Cinema de São Paulo no ano de sua morte, 2007. Lançado em DVD no Brasil pela Versátil.
Na minha leitura o ponto de partida do filme é a solidão vivida pelo cineasta que resolveu por escolha própria morar na Ilha de Färö, para ele, nela ele sente-se cercado por outra realidade. A primeira vez que esteve na ilha foi em 1960: “Senti a estranha sensação de ter chegado em casa!”
Mas no transcorrer do filme essa solidão pareceu-me amena e a história de vida do cineasta – suas lembranças - seu entusiasmo com o cinema e com a vida a ofuscam, mas percebi que ele a considera necessária para sua vida.
“Às vezes eu penso que deveria ligar para alguém, mas depois deixo pra lá. Não há nada mais maravilhoso do que a solidão. ”
Os filmes de Bergman por falta de um adjetivo mais apropriado são de uma densidade que nos fazem ficar indo e voltando a eles, buscando as melhores interpretações, as melhores leituras, todas essas no meu ponto de vista são tentativas inconclusas. Interpretações e leituras nem sempre implicam no conhecimento de uma determinada coisa. Diante dessa minha constatação, fiquem à vontade em discordar, o que nos resta e nos rendermos a nossas experiências como espectadores, essas muito únicas e muito particulares. Daí entre outros aspectos a maravilha do cinema. Li não sei direito onde uma declaração, acho que do Andrea Tonacci, - um dos ícones do nosso Cinema Marginal – que o cinema não deve ser encarado como um retrato da realidade – e de fato ele não é.
Minimizamos seus efeitos, seus valores, seus significados, sua essência se o consentimos dessa forma. De fato ele é a representação de uma dada e pretensa realidade, mas acredito veemente que ele pode em maior ou menor escala nos ajudar a “lidar”, compreendê-la e conviver de forma mais amena com ela. Não sei se para vocês ? Mas para mim o cinema não é apenas uma válvula de escape, é muito mais o meu lugar de conforto - um porto de chegada acolhedor que me ajuda a encarar e ler melhor a realidade ou quem sabe as realidades que me rodeiam.
Sendo assim , não só os filmes de Bergman como dos demais cineastas que lidam com temáticas densas, existencialismo, dramas pessoais etc; podem nos conduzir nesse processo. Mas é claro que cabe a cada espectador optar em encarar o cinema como apenas uma diversão, não que isso seja ruim, mas aconselho experimentá-lo também como um meio de “crescimento pessoal”.
A Ilha de Bergman (2004) foi realizado por Marie Nyreröd e exibido no Festival Internacional de Cinema de São Paulo no ano de sua morte, 2007. Lançado em DVD no Brasil pela Versátil.
Na minha leitura o ponto de partida do filme é a solidão vivida pelo cineasta que resolveu por escolha própria morar na Ilha de Färö, para ele, nela ele sente-se cercado por outra realidade. A primeira vez que esteve na ilha foi em 1960: “Senti a estranha sensação de ter chegado em casa!”
Mas no transcorrer do filme essa solidão pareceu-me amena e a história de vida do cineasta – suas lembranças - seu entusiasmo com o cinema e com a vida a ofuscam, mas percebi que ele a considera necessária para sua vida.
“Às vezes eu penso que deveria ligar para alguém, mas depois deixo pra lá. Não há nada mais maravilhoso do que a solidão. ”
Com seus 88 esbanja muita simpatia e coerência em todas as suas declarações. Desde jovem engajou-se com a causa do cinema, dirigindo no total 67 filmes, muitos deles para televisão, além disso, Ingmar Bergman escreveu 70 roteiros . Estes, para o cineasta, surgem geralmente quando ele vê uma imagem. A história de Gritos e Sussurros (1972), por exemplo, surgiu a partir de uma imagem de um quarto de castigo com mulheres.
“Tanto
em Persona (1966) como em Gritos e
Sussurros a criatividade veio me socorrer em situações difíceis (...)
A criatividade de Persona salvou minha
vida! Já no outro a criatividade foi confortante e tranquilizante” – afirma
ele.
Em
1944, realiza seu primeiro filme Tortura
do Desejo e em 2005 seu último, Bergmanova
Sonata, um filme para televisão.
Os lugares de memória
são revistados por ele em companhia de Marie Nyeröd, a partir desses
espaços que marcaram momentos do passado do cineasta, histórias
selecionadas por ele vêm à tona, uma
vez que a memória é seletiva e influenciada diretamente por laços afetivos ou
desavenças que não deveríamos, mas trazemos conosco. E acredito que tal aspecto
influi nos relatos privilegiados pelo cineasta. Bem humorado topou a proposta da cineasta de encenar
algumas situações que remeteriam às vivenciadas em momentos de seu passado.
Sobre o filme Tortura do Desejo afirma:
“Quando realizei o meu primeiro filme, só gritei e briguei não tinha nenhuma autoconfiança!”
Para ele, Sorrisos de uma Noite de Amor (1955) foi um divisor de águas para sua carreira, um grande sucesso que rendeu bastante dinheiro, exibido em Cannes. A partir de então segundo ele: “(...) Tive a oportunidade de filmar como queria!” Levando consigo sempre que possível sua câmera de 16 mm.
No decorrer do documentário trechos de seus filmes são exibidos de forma aleatória. E compartilha com a cineasta eventos ocorridos no momento das filmagens de alguns deles.
Bergman no decorrer de sua vida casou-se várias vezes, teve 9 filhos e sempre prezou pela sua juventude: afirma que costumava dizer que saiu da puberdade apenas aos 58 anos. Mesmo mantendo esse espírito jovial que sempre esteve presente na forma como Bergman lidava com as situações de sua vida, o assunto morte aparece no documentário. Reconhece que ela é um fantasma que ora o ronda. Em um determinado momento de sua vida fez uma lista com seus demônios, o pior dentre eles é o desastre (quando as coisas não saem conforme o planejado) e o medo, afirma sentir medo de tudo. Confessa que tem um gênio terrível e que é rancoroso: “Tenho uma memória de elefante!” O nada também o apavora, quando sua criatividade e imaginação o abandonam: “(...) as coisas se tornam totalmente silenciosas e vazias.”
Recomendo demais esse documentário para os que já são conhecedores da obra de Ingmar Bergman ou para aqueles que assim como eu ainda estão conhecendo aos poucos. Pois uma coisa é obvia as experiências vivenciadas pelos artistas influem diretamente na sua produção artística. Sendo assim, talvez possamos utilizar adjetivos mais apropriados para caracterizar , assim como, alguns termos com a ambiciosa pretensão de “explicar” seus filmes.
Cleonice Elias