Impressões Recentes

O Morro dos Ventos Uivantes, 2011.



"Parece que você também não pensou em mim. Acabei de saber que você se casou. Meu plano era ver seu rosto, me vingar do Hindley e depois me matar. Mas mudei de ideia. Nunca abandonarei você. Nunca mais. Minha vida foi amarga desde a última vez que ouvi sua voz. Continuei vivendo só por sua causa."
Heathcliff

Ano passado foi produzida mais uma adaptação do livro de Emily Brontë (que usava o pseudônimo masculino Ellis Bell), publicado pela primeira vez em 1847, quando "Jane Eyre" ainda caía no gosto da sociedade inglesa do Dezenove. Dessa vez, a história é dirigida pela Andrea Arnold, que já havia feito o bom "Fish Tank" em 2009.

Nada melhor do que ter duas mulheres envolvidas! Se Emily usava um nome masculino para publicar e conseguia  fazer com que seus leitores imaginassem como um homem podia adentrar tanto na alma feminina, Andrea traz a sensibilidade da mulher para as telas. Uma sensibilidade absurda. Brilhante. Extasiante. Desde já, para mim, uma das maiores e melhores obras de Drama/Romance já produzidas para o Cinema. Absolutamente impecável. A começar pela escolha ousada da diretora de criar o personagem de Heathcliff como um homem negro (o que foi motivo de críticas por alguns que assistiram ao filme na Europa): africano e possivelmente ex-escravo (devido às marcas de chicote em suas costas), Heathcliff é acolhido nas ruas e levado pelo Sr. Earnshaw para morar no campo, no Morro dos Ventos Uivantes, junto a sua família. E se o livro tratava das diferenças de classe, agora a questão vai ainda mais a fundo: é étnica. Heathcliff é humilhado, espancado e chicoteado pelo filho mais velho de Earnshaw, Hindley, que o trata como inferior e não reconhece que, desde que chegara em sua casa, Heathcliff agora se tornara seu irmão também. A sociedade também é cruel, preconceituosa e intolerante - os vizinhos condenam o fato de Earnshaw ter acolhido não apenas um pobre morador de rua, mas, principalmente, uma pessoa negra, que muitas vezes é chamada de "macaco" e tratada como ferramenta de trabalho no campo. Mas dentro desse inferno no qual Heathcliff está inserido há uma luz de esperança: ela, Catherine Earnshaw, Cathy, a filha mais jovem e cheia de vida da casa. 

E a história que se segue todos já devem saber: eles acabam se apaixonando, por mais dificuldades que venham do mundo externo, por mais humilhações que Heathcliff sofra e por condenações das outras mulheres à Cathy. É nessa relação apaixonada que "O Morro dos Ventos Uivantes" se torna não mais um filme qualquer, mas uma pérola dentro da história cinematográfica: é a 7ª Arte em seu estado mais puro e autoral. Andrea Arnold pega Cathy e Heathcliff pelas almas e nos entrega: a construção e desenvolvimento das personagens por meio da narrativa visual é algo surpreendentemente maravilhoso! Sem sombra de dúvidas esse filme é a sinestesia do cinema em seu lado mais poético. A diretora brinca com o sol e a chuva, a grama e a lama para nos mostrar como, aos poucos, o amor entre os dois vai tomando forma. E ela faz isso com aquela técnica pela qual sou apaixonado ao extremo: câmera em mãos. Sim, as cenas vão trepidar, vão "correr", vão viajar de um ponto a outro com rapidez variável e, principalmente, vão acompanhar Heathcliff sobre seus ombros, num estilo muito parecido ao que Aronofsky adotou em seus dois últimos filmes ("O Lutador" e "Cisne Negro"). A opção de Andrea nos torna íntimos dos acontecimentos. Não somos meros espectadores passivos e parados que observam um quadro: estamos sempre próximos, sentindo aromas e ouvindo respirações. Apenas uma das cenas já é suficiente para garantir esse filme no hall dos grandes, em minha visão: quando Heathcliff e Cathy adolescentes cavalgam o mesmo cavalo; a menina vai na frente e ele segue unindo seu corpo ao dela, mas a genialidade de Andrea é mostrar algo que, até então, eu nunca havia visto em filmes - ela faz a câmera roçar os cabelos esvoaçantes de Cathy, praticamente é possível sentir sua maciez e seu perfume! É algo de arrepiar, mesmo durando tão pouco tempo, tenho certeza de que isso nunca sairá de minha memória.

Também há muita simbologia nessa adaptação: cães que brigam o tempo inteiro, mariposas coloridas em cenários azulados e frios, galhos de árvores batendo no vidro da janela e ovelhas engasgando em seus próprio sangue quando são abatidas por Heathcliff ao mesmo tempo em que é insultado por Hindley e tem de se controlar. Creio que o filme todo é uma grande metáfora para o amor: ele é colorido e sem cor ao mesmo tempo, quente como o sol do verão e chuvoso, alegre e triste. A história criada por Bronyë é assim, e Andrea soube transmitir isso visualmente, incluindo flashbacks sensoriais. 

O amor é algo que pode fazer sorrir ou chorar, curar feridas, dar forças ou - literalmente - matar. Acho que todos nós já passamos por isso. Ou passaremos. E, como disse um amigo meu esses dias: quando perdemos um amor, a gente envelhece, não importando a idade que tem. Obviamente há aqueles que só amaram uma vez na vida, que encontraram a pessoa ideal e que vivem felizes sem nunca terem conhecido a dor de um coração que sangra. Mas esses casos são raros. A obra filmada por Andrea Arnold mostra a outra face do Amor: aquela que faz você cair no chão e sofrer sem ter forças sequer para gritar - tal como Heathcliff na primeira cena do filme.

Um filme necessário.

Alex Martire


Singularidades de uma Rapariga Loura, 2009.




Mas apareceram uns cabelos louros. Oh! E Macário veio logo salientemente para a varanda aparar um lápis. Era uma rapariga de vinte anos, talvez — fina, fresca, loura como uma vinheta inglesa: a brancura da pele tinha alguma coisa de transparência das velhas porcelanas, e havia no seu perfil uma linha pura, como de uma medalha antiga e os velhos poetas pitorescos ter-lhe-iam chamado — pomba, arminho, neve e ouro” – Eça de Queirós, Singularidades de uma rapariga loura (1873).


Em janeiro de 2012, no Avery Fisher Hall do Lincoln Center, o regente da Filarmônica de Nova Iorque interrompeu abruptamente a execução da nona sinfonia de Gustav Mahler para pedir a um dos espectadores que desligasse seu iPhone, que rivalizava o colegiado com o toque de uma marimba. “Estávamos em uma parte muito espiritual da peça; foi como ser acordado bruscamente de um sono profundo”, disse o regente.

Marimbas, mastigação de pipocas, amassar de sacos plásticos, abrir e fechar de bolsas, zíperes, fricção dos canudos contra o copo, sussurros, tosses, bocejos sonoros, luz dos celulares abertos para ver as horas, celulares convertidos em lanternas, atrasar-se, abalroar-se entre as fileiras estreitas, braços cruzados atrás da cabeça, roupas barulhentas, idas ao banheiro, cochichos, sussurros, interjeições irrefreadas, comentários de qualquer natureza, risos antecipados, chutes na poltrona: o despertar abrupto de um estado de alma.

Antes do início de suas peças, a Companhia do Latão exigia silêncio já da fila, antes de se cruzarem as portas, anunciando que a sala do espetáculo é um templo sagrado e indevassável, uma extensão do direito de cátedra. Um grupo de pessoas se dedicou por anos para construir uma obra: duas horas de atenção é um preço muito modesto que se pede em troca.

Por isto mesmo, em um filme marcado pela síntese e pela objetividade, com cerca de 60 minutos, Manoel de Oliveira começa cobrando o bilhete de entrada: câmera no tripé, o fiscal autentica os tíquetes de cada um dos passageiros do vagão do trem, operação que toma cerca de 5 minutos. A impressão é a de que se cobra de cada um dos presentes na sala de projeção a preparação do espírito, a transmigração da alma para o espetáculo prestes a começar.

Este diretor é um jovem atleta português de 103 anos e portador de rebentos: apenas de 2009 para cá, quatro longas – faz frente a vulcões produtivos como Werner Herzog, porém com 35 anos de diferença do veterano cineasta alemão.

Vejamos da seguinte forma: Macário é um jovem contador tomado de assalto pela beleza de uma rapariga loura – nada é dito impunemente. O filme é uma adaptação do conto homônimo que Eça de Queirós escreveu aos seus 28 anos, e que se tornou um marco da passagem do movimento romântico para o realismo, lançado três anos depois de “O mistério da estrada de Sintra”, seu romance de estréia, dois anos antes de “O crime do padre Amaro” e cinco anos antes de “O primo Basílio”.

Trata-se de um escrito incomum em muitos aspectos, a começar pela forma da narrativa. No conto, tudo é descrito em terceira pessoa por um viajante a quem Macário confidenciou a sua história em uma estalagem – e que, no filme de Manoel de Oliveira, é representado pela interlocutora na viagem sobre trilhos para o Algarve.

Porém, a forma romântica, marcada pela subjetividade idealizadora, de início não é completamente abandonada, pois ainda existe a localização do topus romântico nos trechos em que o próprio Macário realiza o seu relato, em primeira pessoa. Nestas oportunidades, Luísa Vilaça, a loura, é “fina, fresca, loura como uma vinheta inglesa (...) os velhos poetas pitorescos ter-lhe-iam chamado — pomba, arminho, neve e ouro”. O escritor é sagaz: circunscreve a idealização pessoal do romântico a uma estrutura objetiva, direta e racionalizada.

Quanto mais o jovem se embrenha nos territórios do coração, mais barroco e pouco eficiente se torna: “seu trabalho tornou-se logo vagaroso e infiel e o seu belo cursivo inglês, firme e largo, ganhou curvas, ganchos, rabiscos, onde estava todo o romance impaciente dos seus nervos”. Mas a narrativa não se contamina com tal rebuscamento; pelo contrário, impassível, mantém o seu distanciamento: descreve, minuciosamente, a sucessão de fatos, em seus detalhes.

E o diretor, como transportar à tela o complexo mecanismo despertado por esta sutil peculiaridade da linguagem escrita? Em um dado momento do filme, o rapaz beijará a jovem de maneira apaixonada. A câmera não mostra o beijo, mas desliza para a as pernas da moça. O que de longe pareceria um conjunto harmônico de um casal apaixonado, com a garota erguendo para trás involuntariamente uma de suas pernas, olhando-se de perto ganha ares de autômato, de artificioso, caricatural e cômico. A imagem não se envolve; pelo contrário, mantém uma postura analítica da cena romântica que presencia, despindo as aparências.

Macário vive e trabalha com seu tio Francisco, um caixeiro, homem simples e vendedor de tecidos e de miúdos. É um sobrinho trabalhador da Vila Real, onde já se consolidavam os princípios, modos e costumes burgueses: “era louro, com barba curta. O cabelo era anelado e a sua figura devia ter aquele ar seco e nervoso que depois do século XVIII e da revolução foi tão vulgar nas raças plebeias”. Do andar de cima da loja do tio é que vê a loura na bancada do outro lado da rua, onde “vinha encostar-se mimosa e fresca com o seu leque”, e por quem se apaixona.

O filme é transportado para os dias de hoje: ora se vislumbra um computador com tela de LCD na mesa do contador, ora se relata uma viagem de avião pela LAN. Comentam sobre a situação econômica do país, sobre a União Européia, sobre o euro. Neste contexto, portanto, causa estranheza uma garota loura proprietária de um leque. O objeto já causaria estranheza nas mãos de uma garota não abastada no tempo em que Eça de Queiroz escreveu o conto, que registra o estranhamento: 

Leque que preocupou Macário: era uma ventarola chinesa, redonda, de seda branca com dragões escarlates bordados à pena (...). Era um leque magnífico e naquele tempo inesperado nas mãos de plebeias de uma rapariga vestida de cassa. Mas como ela era loura e a mãe tão meridional, Macário, com intuição interpretativa dos namorados, disse à sua curiosidade: ‘Será filha de um inglês’. O inglês vai à China, á Pérsia, a Ormuz, à Austrália e vem cheio daquelas jóias dos luxos exóticos, e nem Macário sabia por que é que aquela ventarola de mandarina o preocupava assim: mas segundo ele me disse — ‘aquilo deu-lhe no goto’”.


Não é possível nem desconfiar neste momento, mas o jogo vai sendo firmado. O leque desperta algo nele, mas tudo parece se imiscuir no seu obscuro objeto do desejo: Macário passará por toda sorte de provações para conquistar a mão da rapariga. Porém, a todo o momento, é feita uma única ressalva: não abrirá mão de seus princípios morais para alcançar os seus objetivos, preferindo recomeçar do zero e atrasar seus planos a deixar de honrar suas dívidas e compromissos.

A altivez moral é reafirmada com as atitudes do tio, que impõe ao sobrinho uma relação igualmente rígida e dura. Ainda que sua rispidez impressione, há ali uma ternura familiar, e, apesar de ser este o personagem que causa os sofrimentos de Macário, privando-o de lar e de emprego, entende o leitor/espectador que a sua intenção teria sido pedagógica: quando tudo está perdido, depois de aprovar as reações do sobrinho às adversidades e aos golpes da vida, ele é que viabilizará o casamento. 

O tio é, contudo, um homem duro, castiço: depois de praticamente expulsar o rapaz da loja diante da rapariga loura, que olhava os tecidos de casimira preta postos à venda, pergunta, “com a sua crítica estreita e celibatária”, se ele estava deixando que ali entrassem pessoas pobres, pois teriam sumido alguns lenços da Índia.

Um dos momentos mais incríveis do filme ocorre durante o serão frequentado pela rapariga loura e sua mãe – que Macário descobre serem as Vilaças – na casa de um tabelião rico na Rua dos Calafates. Eça de Queiroz descreve como as pessoas ali reunidas entoavam poemas românticos, jogavam prendas “do tempo de D. Maria I”, e de como veio um poeta declamar com uma roupa que lhe deixava “o pescoço entalado na alta gola do seu fraque à [moda da] Restauração”.

Tal como para nós, este ambiente se trata, a um leitor da época, de algo “fora de moda”, esquisito e estranho ao seu tempo. Soa conservador. Manoel de Oliveira neste momento flerta com o maneirismo, dando destaque aos objetos como personagens: revela-nos que o fundador da Ordem tem ligações com Salazar; há ali seu busto em bronze. A câmera desliza sobre o trilho de um cômodo a outro fazendo menção direta ao décor; o mobiliário, os quadros, a louça, o vestuário e os objetos de cena ganham prumo e causam a mesma sensação que estranhamento, de conservadorismo anacrônico, de efeméride. Macário só tem olhos à loura virginal.

O transporte é novamente exitoso: no meio de uma declamação de Alberto Caeiro, o som é entrecortado pelo plano dos acontecimentos, e a atenção é confessamente dispersiva – passamos a nos preocupar com o jogo de cartas com apostas da sala ao lado, que é onde interessa verdadeiramente; local em que se encontram os personagens. No momento em que o jogo começaria, porém, uma peça cai e se perde; ninguém a ouve tinir no chão, acham célebre, os olhos se voltam desconfiados a um dos consortes.

A todo o momento, o leitor/espectador vislumbra o belo, mas, ao mesmo tempo, um profundo desconforto o acompanha: há algo de errado por trás daquilo, algo quase imperceptível, e que o faz até mesmo rir de estranhamento. O alívio consiste no fato de que as coisas, por fim, vão se resolvendo: Macário supera um a um os seus problemas, as suas dificuldades e, por meio de muito trabalho e determinação, consegue concretizar os seus sonhos. O bom moço se fez sozinho, por seus próprios méritos e há uma empatia pelo seu esforço.

Há, contudo, sob o que parece estar perfeito e conquistado, uma história, um eufemismo, uma singularidade. O recado é bastante claro: ninguém vai engolir esta cafonice romântica. Encaminha-se, assim, um desfecho frio, seco e sem rebuscamentos. Na joalheria, ao presenciar a ingrata realidade, Macário parece indagar a si mesmo: seria a gatuna uma vilã? E logo descobre: uma Vilaça.

Leonardo Branco



O Palhaço, 2011.



Tenho de começar pelo meu ponto fraco: sempre gostei de circos. Não que eu tenha ido em muitos, longe disso (infelizmente), mas eu adoro  histórias de circo, como as pessoas vivem, as dificuldades, alegrias, a magia    e encanto que causa nas pessoas, a memória de tantos espetáculos... Enfim, sou fascinado por circos. E se um filme trata da temática, ele já começa com uns pontos a mais comigo.

Porém, esse segundo filme dirigido por Selton Mello teria alcançado pontuação máxima mesmo se eu odiasse a vida circense. "O Palhaço", arrisco dizer, é uma das melhores produções nacionais da última década - e talvez até mesmo de todo o cinema brasileiro. Não consigo achar nada de ruim nele. Bom, na verdade, há, sim, um ponto negativo, mas que parece ser comum em todos os filmes nacionais: a péssima qualidade da edição de som (ou da própria captura, não sei): ora o áudio fica muito alto, ora é quase inaudível e você gostaria que o filme tivesse legendas. Mas como eu disse, isso acontece em quase todos os filmes por aqui, e não prejudica em nada o conjunto dessa magnífica obra de Selton Mello.

Selton e Paulo José são dois grandes nomes da atuação brasileira. O Selton por tudo o que ele faz, sempre batalhando para divulgar o cinema no Brasil, e Paulo José por ser um dos maiores atores ainda em atividade, apesar de seu recente problema de saúde. Os dois fazem papéis de palhaços e de pai e filho. Benjamin (Selton) e Valdemar (Paulo) são a dupla Pangaré e Puro Sangue, donos do Circo Esperança, que conta outros atores circenses que dão um charme à história. Todos, como uma família, viajam pelo Brasil (e a região em que estão no filme é o interior da maravilhosa Minas Gerais) montando seu circo sem alvará de funcionamento e angariando plateias de 30, 50 pessoas, no máximo. As dificuldades financeiras, claro, são enormes, mas uma família permanece unida apesar dos pesares. 

Seria mais uma história de circo se não fosse a opção de Selton Mello em destacar a vida de Benjamim: um palhaço deprimido, que não se encontra no mundo, não encontra felicidade, e que tem como maior sonho na vida comprar um ventilador. Tudo bem que essa coisa de mostrar o lado triste dos palhaços não seja novidade, mas a visão de Mello sobre o tema é muito bonita, muito poética. Pangaré consegue fazer as crianças e adultos rirem mas, fora da tenda, é um homem calado, perdido em seu mundo. Numa das viagens ele conhece Ana, uma loira sorridente, e promete que irá levar o circo até à cidade dela (Passos). Embora haja muitas dificuldades e nunca consiga se livrar de sua tristeza, Benjamin acaba seguindo os passos que o levarão até a cidade da moça. Contar mais do que isso estragaria a surpresa.

Apesar de ser um filme curtinho - tem apenas 1h20 - "O Palhaço" é extremamente bem amarrado e centrado no roteiro. O terceiro ato é o ponto forte do filme: ele consegue fazer rir, chorar de tristeza e chorar de alegria, tudo ao mesmo tempo! Apoiado pela deslumbrante Direção de Arte, o filme é uma pérola do cinema brasileiro. Uma obra daquelas que deve ser vista pelo maior número de pessoas possíveis: tudo em "O Palhaço" é impecável.

Absolutamente brilhante.

Alex Martire

Apocalypse Now (Redux), 1979.



Acusar um homem de assassinato em uma guerra é, no mínimo, contraditório. Mas o coronel Walter Kurtz  (Marlon Brando), apesar de uma carreira militar invejável, comete uma série de erros e o alto comando da guerra instaurada no Vietnã resolve matá-lo, argumentando que está louco. As Forças Armadas, então, chamam o capitão Willard (Martin Sheen) para a missão de, anonimamente, acabar com o coronel. O capitão está acostumado com essas tarefas baseadas em eliminação de inimigos; contudo, é a primeira vez que fica diante da situação de matar alguém que faz parte do mesmo lado na guerra.

E assim a gente é levado pelas mãos competentes de Francis Ford Coppola à Guerra do Vietnã, já em seus momentos finais. A primeira cena é maravilhosa e faz com que se fique parado em frente à tela: as árvores (palmeiras, se não me engano) são bombardeadas ao som de fundo de "The End", do The Doors. As hélices dos helicópteros vão se mesclando com o ventilador de teto do quarto e vemos o capitão Willard deitado em sua cama, enquanto aguarda a próxima missão. Como ele mesmo diz, é a segunda vez que volta a Saigon: na primeira vez que foi para casa, não conseguiu se adaptar, e agora que retornou ao Vietnã, sente saudades dos EUA. A guerra perturba a mente daqueles que a experimentaram, e capitão Willard vai perdendo o controle sobre si mesmo aos poucos, enquanto espera a missão: esmurra o espelho, cortando a mão e fica caído ao lado da cama chorando por conta de alguma angústia que só aqueles que guerrearam devem saber como é. Os primeiros 10 minutos de filme, portanto, para mim, são viscerais. Se você não for conquistado por eles, é melhor trocar de filme, pois ainda faltarão mais de 3 horas para acabar. Coppola adorava fazer filmes longos na década de 1970, sendo impossível não mencionar sua obra-prima - e um dos melhores filmes da História do Cinema - a trilogia "O Poderoso Chefão" (uma tradução péssima  escolhida aqui no Brasil, já que o título original dá bem mais conta do contexto, "The Godfather").

E Coppola deve ter sofrido bastante para filmar "Apocalypse Now": tudo está numa escala enorme! Recriações históricas militares, figurantes como soldados, cenas de batalhas... o planejamento e o ensaio para que tudo funcionasse deve ter sido hercúleo. Creio que uma das cenas mais impactantes ainda é a da "cavalaria do ar", formada pelos helicópteros que bombardeiam uma praia no Vietnã ao som de "A cavalgada das Valquírias" de Richard Wagner ao fundo. Por sinal, desde que esse filme foi lançado, tornou-se impossível dissociar a música de algum palco de guerra. E sob o comando do coronel Bill Kilgore (Robert Duvall), vemos o quanto aquele inferno afetava as pessoas: o próprio coronel tem de abdicar do senso de realidade para sobreviver - ele conquista a praia para surfar! E manda soldados irem pegar umas ondas enquanto a batalha acontece: seria algo muito ridículo se não fosse tão triste. Aliás, acho que "Apocalypse Now" é repleto de cenas assim: acontecem coisas que, se não fossem o contexto no qual estão inseridas, nós iríamos rir. Mas é chocante... é traumatizante... é muito, muito triste ver o que somos quando estamos em guerra, e como perdemos a sanidade ao lidar com um meio ao qual já não estamos mais preparados para enfrentar. Porém, para mim, a cena mais linda do filme é a morte de Tyrone (interpretado por um Laurence Fishburne ainda adolescente): ele recebe uma fita K-7 de sua família e escuta a gravação da voz de sua mãe quando o barco em que o grupo liderado pelo capitão Willard é atacado. O garoto é alvejado e morre na hora, ao mesmo tempo em que o discurso no tocador de fitas continua, com a mãe dizendo para ele tomar cuidado, que é o único filho e que o ama muito, e que quer que ele volte logo, pois deseja ter netos para mimar... Mas tudo isso agora é em vão: ele morre aos 17 anos de idade. Mais uma vítima da guerra que ninguém sabe direito o porquê da luta. 

E nesse ponto Coppola é enfático ao criar todo um discurso sobre a inutilidade da guerra no Vietnã (principalmente na cena onde o grupo se encontra com uma família francesa, perto da fronteira do Camboja). O filme começa com a canção do Doors sobre "o fim", e a todo momento Coppola nos lembra que o que estamos vendo não é nada bom, que vai destruir vidas (mesmo que não literalmente - e talvez esse tipo de morte seja ainda pior), e termina com a famosa frase do coronel Kurtz: "O horror... o horror...". O maior horror da guerra é aquilo que nos tornamos por causa dela. E talvez "Apocalypse Now" (em sua versão Redux, com quase 50 minutos a mais do que a original), juntamente com "Platoon" (dir. Oliver Stone, 1986) e "Além da Linha Vermelha" (Terrence Malick, 1998), sejam as obras que mais retratam o lado humano no meio desse horror da guerra.

Alex Martire


Três Homens em Conflito, 1966.



"Deus fez os homens, mas Samuel Colt os tornou iguais."

Esse era o slogan da Colt Manufacturing na segunda metade do século XIX. Mas não eram todos os homens que podiam ter um Colt: como apontava o jornal Harper’s Weekly (responsável por registrar a Guerra Civil Americana entre 1861 e 1865, incluindo fotos de campo), o preço de um revólver dessa fábrica anunciado em uma das edições de 1861 era de $27,00 - muito dinheiro para a época e situação econômica na qual se encontrava os EUA.

Contudo, homens Bons, Maus e Feios tinham um Colt durante a Guerra da Secessão que colocou em risco a união estadunidense. A briga entre o sul e o norte, confederados e ianques, quase criou uma divisão no território por conta de diferenças políticas e econômicas (uma boa parte delas referente à escravidão). O lado positivo dessa guerra, porém, foi que os EUA se tornaram o maior país industrial do mundo. A infraestrutura mais a expansão territorial aliadas à Guerra Civil fizeram com que aumentasse o mercado consumidor estadunidense. O carro-chefe da industrialização dos EUA foi a indústria bélica, circulando o capital de bens de consumos básicos para a manufatura. Outra característica marcante do industrialismo estadunidense da Guerra Civil até 1900 foi a formação de monopólios e cartéis industriais, influenciadores, também, na economia mundial. Claro que em 1929 eles afundaram o mundo, mas aí a discussão se estenderia demais aqui...

Voltando ao que interessa, em 1966, Sergio Leone filmou um dos maiores clássicos, um dos melhores filmes de todos os tempos, "Três Homens em Conflito". A obra é impecável, e mesmo a versão restaurada com alguns minutos a mais não torna suas 3 horas de filme cansativas. Leone usa o pano de fundo da Guerra Civil para mostrar como três homens diferentes conseguem se aproveitar da guerra para o seus próprios interesses. Começamos o filme com o Feio, chamado Tuco, o "Rato" (Eli Wallach). A primeira cena começa logo com três homens sendo baleados dentro de um estabelecimento e com Tuco fugindo pela vidraça. Mas ele é pego no deserto e, quando está para ser entregue às autoridades (pois sua cabeça de bandido vale $2000,00), eis que surge o Bom, Blondie (Clint Eastwood). Rápido no gatilho (desculpem, mas é inevitável usar essa expressão), Blondie mata os três caras e captura Tuco, que é levado, então, ao xerife. Quando é sentenciado à morte e está na forca, somos apresentados, então, ao verdadeiro caráter dos homens: Blondie atira na corda, liberta Tuco e ambos fogem, juntos - os dois têm um acordo: Tuco assalta, Blondie o leva preso, recebem a recompensa, Blondie o liberta, dividem o dinheiro e estão livres para ir a outro condado recomeçar o esquema. Ao mesmo tempo, o Mau, conhecido por Angel's Eye (Lee Van Cleef), está atrás de uma caixa de dinheiro que foi roubada e está escondida em algum canto. Ele é um homem pragmático: se alguém o contrata para matar, ele mata, ele cumpre sua palavra. E ele vai matando os homens até obter a informação que deseja. E essa informação, de acordo com algumas reviravoltas na história do filme, acaba ligando-o à dupla Blondie e Tuco. E é aí que a coisa fica realmente boa!

O filme é delicioso demais! Tuco é o alívio cômico, ele é o descendente de mexicanos que é trapaceiro, desesperado, metido a forte. Embora Clint Eastwood seja a primeira figura que vem à cabeça quando pensamos nesse filme, é Tuco a atração principal. A atuação de Eli Wallach é soberba (bom, todos no filme estão incríveis) e nos faz torcer pelo pobre homem. Se fosse apenas um filme sobre os 3 homens em conflito, já seria bom, mas Sergio Leone vai além e os coloca dentro da Guerra da Secessão: a todo momento os três são obrigados a trocar de lado (embora nunca tenham tido nenhum): ora atuando pelos Confederados, ora pelos Ianques. Há um número gigantesco de figurantes como soldados e as encenações das batalhas ficam ainda mais impressionantes quando paramos para pensar que não havia computação gráfica para criar personagens naquela época. 

Os diálogos são um show à parte e a cena final, a do duelo entre os 3 homens no cemitério, é clássica. Aliada a tudo isso está a orgásmica e eterna trilha criada pelo magnífico Ennio Morricone.

Talvez "Três Homens em Conflito" seja o maior filme de bangue-bangue (sim, não gosto do termo western, prefiro o popular) já feito. E Sergio Leone, certamente, foi um dos maiores diretores que já pisaram nesse mundo.

Sorte nossa. É só acender o cigarro, pegar seu uísque e deixar-se perder no calor do Oeste estadunidense: será uma aventura que jamais esquecerá.

Alex Martire


Ao Abismo, 2011.


O novo trabalho de Werner Herzog é mais um documentário. Com apenas um ano de diferença entre "A Caverna dos Sonhos Esquecidos", "Ao abismo" lida com as particularidades que ocorrem no corredor da morte nos EUA (dessa vez, sem o uso de 3D).

A trama é centrada na pena de morte imposta a Michael Perry, 28, que, juntamente com seu amigo Jason Burkett, comete triplo homicídio em uma noite de outubro de 2001: tudo por causa de um Camaro vermelho. Os dois eram conhecidos do filho de Sandra Stotler, moradora de Conroe, no Texas, e acabaram matando-a para roubar o Camaro que estava na garagem. Após a execução, a levaram em outro carro até o lago Conroe e a jogaram lá. Voltando para o local do homicídio, depararam-se com o portão do condomínio fechado: sem poder entrar para buscar o Camaro, ambos esperam que o filho de Sandra, Adam, chegue em casa - naquele dia ele estava acompanhado de outro amigo. Sequestram os garotos, roubam o controle para abrir o portão do condomínio e depois os executam na floresta próxima dali. Cerca de 3 dias depois, ambos são abordados pela polícia e trocam tiros, sendo presos. Após o julgamento, Jason Burkett é condenado a 40 anos de prisão, enquanto Michael Perry é sentenciado à morte.

Esse é o pano de fundo sobre o qual Herzog vai desmembrar os pormenores do crime e suas consequências. Desde o epílogo, o diretor deixa bem claro sua posição: ele é contrário à pena de morte. Porém, mesmo sendo parcial com relação ao que acredita, Herzog dá chance para que opiniões contrárias apareçam (na verdade, só uma). Acho que isso é compreensível: Herzog entrevista um pastor, entrevista os acusados, entrevista os conhecidos dos acusados, entrevista o antigo policial que era responsável pela execução dos presidiários, entrevista a esposa de Jason Burkett, e entrevista a família das vítimas: nessa contagem, torna-se quase óbvio que haveria mais gente contrária do que a favor da pena de morte. Herzog foi esperto: ele entrevista apenas quem acabaria, de um modo, sustentando a sua tese. Tendencioso? Achei, sim: mas é um direito dele, afinal, o filme é dele.

Podem também acusar o diretor de manipular os espectadores, com cenas de alta comoção - como o depoimento dos familiares dos mortos. Tudo bem, acusar é fácil (e isso só viria daqueles que não tem coração ou sensibilidade): o difícil é ficar passivo diante de tanta dor e revolta daqueles que perderam tudo. A irmã de Adam  e filha de Sandra perdeu ambos na mesma noite. Sua vida havia sido uma coleção de perdas (o pai e o irmão mais velho morreram anos antes) e simplesmente sua vida acabou quando tiraram as duas únicas pessoas que restaram em seu mundo. Herzog, claro, deixa a questão principal para os últimos minutos: "Você gostou que Michael Perry tenha sido executado?". Claro - ela responde. Ela concorda que talvez a prisão perpétua também coubesse ao homem, mas a sensação de alívio com a morte dele é mais reconfortante. Pessoalmente, não a culpo. É muito fácil defender penas alternativas ou prisão perpétua enquanto ninguém da sua família é brutalmente assassinado. Depois disso, não é de se estranhar o desejo de vingar a morte com a morte. Se fosse comigo, certamente desejaria a pena de morte para o assassino.

Mas o filme também toca em outro ponto: o da estruturação da família. O pai e o irmão mais velho de Jason  Burkett também cumprem pena. O pai, inclusive, passou mais dias dentro da prisão do que fora dela: e estava preso - condenado à perpétua - quando Jason cometeu os crimes. É um ciclo de violência que foi destruindo a família Burkett década após década: um pai ausente que tem como uma de suas maiores lembranças o momento em que ele e Jason foram acorrentados juntos no ônibus que os levou à penitenciária após o julgamento. Isso, claro, não justifica o que Jason fez, mas é um agravante enorme, ele propiciou um ambiente favorável para roubos e homicídios.

Confesso que, ao saber que Herzog iria filmar no corredor da morte, eu esperava uma obra sobre o sistema prisional estadunidense: fiquei um pouco decepcionado com essa opção do diretor de tornar tudo tão subjetivo, centrado em um caso só, e não estendê-lo à esfera legislativa. Enfim, Herzog não é Michael Moore, seus documentários sempre contam histórias de pessoas, não de instituições. O saldo geral, pra mim, é que "Ao Abismo" seria um grande episódio de algum programa da Discovery. Com qualidade muito superior, claro, mas ainda assim pareceu-me ser uma obra sem profundidade, descontextualizada. Uma pena: esperava muito mais.

(Se alguém quiser saber mais sobre Michael Perry, executado dia 1º de Julho de 2010: http://www.deathrow-usa.com/MichaelPerry'Case.htm )

Alex Martire



Trabalhar Cansa, 2011.




O próprio trabalho transforma-se em um objeto que o trabalhador só pode adquirir com tremendo esforço e com interrupções imprevisíveis. A apropriação do objeto aparece como alienação a tal ponto que, quanto mais objetos o trabalhador produz, tanto menos pode possuir, e tanto mais fica dominado pelo seu produto, o capital. Todas essas conseqüências decorrem do fato de o trabalhador ser relacionado com o produto de seu trabalho, como com um objeto estranho. Pois está claro que, baseado nesta premissa, quanto mais o trabalhador se desgasta no trabalho tanto mais poderoso se torna o mundo de objetos por ele criado em face dele mesmo, tanto mais pobre se torna a sua vida interior, e tanto menos ele se pertence a si próprio (...). O trabalhador põe a sua vida no objeto, e sua vida, então, não mais lhe pertence, mas ao objeto. Quanto maior a sua atividade, portanto, tanto menos ele possuirá (...). A alienação do trabalhador em seu produto não significa apenas que o trabalho dele se converte em objeto, assumindo uma existência externa, mas, ainda, que existe independentemente, fora dele mesmo e a ele estranho, e que com ele se defronta como uma força autônoma. A vida que ele deu ao objeto volta-se contra ele como uma força estranha e hostil” – K. Marx


Ontem à noite, sexta-feira treze, assisti no CineSesc Augusta, no contexto do 38º Festival Sesc Melhores Filmes (2012), a um dos filmes mais perturbadores já produzidos no Brasil: “Trabalhar cansa”, primeiro longa da dupla paulista Juliana Rojas e Marco Dutra.

Os diretores parecem ter iniciado a sua parceria ainda como graduandos em audiovisual, por volta de 2003, com “Notívago”, um curta de 13 minutos gravado em vídeo, realizado em conjunto com Daniel Turini como exercício audiovisual para a ECA/USP, sucedido, no ano seguinte, por “O lençol branco”, registrado em bitola 35mm e com 17 minutos de duração, como trabalho de conclusão de curso e selecionado para ser exibido na Cinéfondation em Cannes.

Uma breve pesquisa no site Porta Curtas mantido pela Petrobrás permite o acesso a produções individuais de cada diretor, como “Espera” (2003, 4 minutos), e “Concerto número três” (2004, 13 minutos), ambos de Marco Dutra, e os mais recentes “Vestida” (2008, 15 minutos) e “Para eu dormir tranquilo” (2011, 15 minutos), de Juliana Rojas.

Entre as parcerias, cabe destaque a “Um ramo” (2007, 15 minutos), com grandes pontos de contato com o longa que seria lançado em 2011, contando já com os atores Gilda Nomacce (Gilda), Helena Albergaria (Helena) e Marat Descartes (Otávio). O filme, exibido na mostra Un certain regard, recebeu o Prêmio Découverte Kodak de melhor curta-metragem da Semana da Crítica no 60º Festival de Cannes, realizado no ano de 2007.

Os diretores esperavam que o prêmio facilitasse a busca de parcerias e patrocínios para a produção de “Trabalhar cansa”, projeto que já estava em andamento na época e cujo nome tem origem no livro de poemas “Lavorare stanca” (1936), do italiano Cesare Pavese.

O longa, que custou dois milhões de reais, foi exibido oficialmente no Brasil pela primeira vez no 4º Festival de Paulínia (2011), onde ganhou o Prêmio Especial do Júri. Além de em São Paulo e Campinas, as gravações ocorreram também na cidade, contrapartida para utilização do seu polo cinematográfico.

Cabe o registro de que, quase um ano depois desta premiação, em nota, o prefeito José Pavan Jr. (PSB) anunciou ontem (13/04) que, em 2012, ano de eleições municipais, não ocorrerá o 5º Festival de Paulínia, com a espúria motivação de que o Festival, a partir desta edição, deveria passar a ser 100% patrocinado por empresas privadas e que os recursos serão direcionados para a “área social”.

Observa-se que o prefeito teve os quatro anos de seu mandato para buscar o patrocínio da iniciativa privada para fomentar o evento. Sua falta de êxito deve ser atribuída ou aos efeitos de uma má gestão administrativa, ou às conveniências políticas provenientes do cancelamento, ou à simples ausência de vontade política. Transcrevo, abaixo, lúcido trecho da carta aberta da Abraccine, presidida pelo crítico Luiz Zanin Oricchio, publicada ontem:

Todo esse patrimônio simbólico corre o risco de se perder, ao sabor de conveniências políticas de momento (...) ressaltamos, desde já, que é perda irreparável o cancelamento da edição de 2012. Eventos importantes firmam sua tradição pela continuidade”.

A decisão beira a improbidade e cabe se cogitar se não seria o caso de órgãos como Iphan (no âmbito nacional) ou o Condephaat (no Estado de São Paulo) se pronunciarem acerca da necessidade de preservação do patrimônio imaterial representado pelo evento.

Assim, festivais como o de Tiradentes, realizado desde 1997, o de Gramado, realizado desde 1973, ou o de Brasília, desde 1965, não ficariam ao sabor das conveniências políticas, sujeitos a serem extintos por decreto, e se facilitaria o papel do Ministério Público ao instaurar inquéritos civis e ações civis públicas em defesa dos direitos coletivos ofendidos com a destruição do repertório cultural intangível. Talvez, para além de mecanismos jurídicos, ressinta-se o Brasil de um projeto a longo prazo, de uma política sobre cinema apta a impedir que casos como Paulínia não sejam relegados à história como surtos esquizofrênicos de desenvolvimento.

Feito este registro, necessário devido à premência dos acontecimentos, tornamos às nossas impressões sobre o filme.

Um ramo” já anunciava os principais elementos que seriam desenvolvidos em “Trabalhar cansa”, bem como um gênero que bem poderia ser caracterizado como o horror que brota do banal e do cotidiano. Foram inúmeras as risadas nervosas que escaparam durante a projeção do filme: a matéria prima da tensão é a constatação de que, sob o espectro do rotineiro, ordinário e trivial, subjaz um monstro, um terror demoníaco.

O foco nas relações baseadas na hierarquia artificiosa criada pela divisão do trabalho traz para a superfície uma hostilidade quase insuportável. Qual de nós não se sentiu enraivecido por uma cobrança ou por uma ordem injusta de um chefe grosseiro? Qual de nós não esteve no papel de superior e precisou determinar a conduta de um subordinado? O que no dia a dia parece ser comum e comezinho, ao ser focado pelas lentes da câmera dos cineastas se revela incrivelmente agressivo e angustiante.

A evidente metáfora que se conforma é a de que as relações de trabalho implicam em um “monstro no armário”. Helena, ao perseguir o capital necessário para suprir as necessidades materiais de sua família, põe toda a sua força vital no mercado, que, por sua vez, parece ganhar vida própria, como uma existência externa.

Na cena de viragem do filme, quando retorna, já noite feita, para pegar três latas de creme de leite, o trabalho que a nova comerciante empreendeu em seu estabelecimento passa a se defrontar com aquela que um dia foi a sua proprietária. O horror suspende a respiração do espectador. As luzes se acendem como no saguão de um necrotério. Há alguém lá dentro. Será o ladrão? Um espírito? Um monstro? O medo subrepticiamente desperta nossas sensações mais primitivas.

O que ocorre neste momento, e que ficará cada vez mais evidente no desenrolar da trama, parafraseando Marx, é que a vida que Helena dedicou a seu estabelecimento parece ter se voltado contra ela como uma força estranha e hostil. Ainda que admitamos a existência desta mancha escura e repulsiva mascarada sob o tapete das aparências, e ainda que a exorcizemos, ateando-lhe fogo, a sua lógica precisa apenas se resolve ao submeter aquele que participa do mundo do trabalho a seus desígnios próprios.

Por este motivo, fica bastante óbvio que Otávio, ao ser colocado à margem do sistema, demora a perceber que somente poderá ser a ele reincorporado ao completar seu ciclo de transformação: ao coisificar-se, ao admitir estar novamente submetido, talvez como um animal domesticado, subordinado, homem máquina programado a não ler como ilógicas e absurdas as exigências da engrenagem que compulsoriamente ajuda a mover.

Os diretores submetem aquilo que se chama de fantástico e sobrenatural à composição da narrativa audiovisual, passando a funcionar em “Trabalhar cansa” de forma muito mais consistente e madura do que a mulher-árvore do curta de 2007. E obtêm êxito ao tornar todos os espaços de convivência altamente reconhecíveis ao espectador. Talvez de sua sutil habilidade em fazer transbordar o absurdo, o monstruoso, a partir daquilo que deveria ser trivial decorra a impressão e o nervosismo causados pelo filme e, neste ponto, lembra, ainda que de maneira distante, a chuva de sapos de “Beleza americana” (1999), de Sam Mendes.

Muito da verossimilhança das relações se deve ao cuidado dos diretores na construção dos personagens chamados coadjuvantes e no esforço de buscar a perspectiva de cada um deles na delicada relação hierárquica do mundo do trabalho. Nenhum deles ousa romper os limites do “profissionalismo” e quebrar a marretadas as paredes para expor o que se esconde por trás delas, mas todos parecem estar a um passo do abismo, como se constatassem que sobrenatural, na verdade, não é a fantasia, mas sim a lógica hostil e monstruosa da situação em que se encontram.

Leonardo Branco



Titanic 3D, 2012.


Falar de "Titanic" é despertar a paixão ou a ira de muita gente. Ele foi um sucesso gigantesco em 1997. Lembro que não consegui ver no cinema na época: as filas eram imensas, havia sessões esgotadas com quase uma semana de antecedência, e a venda de ingressos pela internet ainda não existia como hoje. Muitas meninas - hoje mulheres - choraram com o filme, eram apaixonadas e viam o DiCaprio na tela cinco, seis vezes. E odiavam a Kate Winslet, chamando-a de "gorda". Eu, também na adolescência, fiz parte do grupo dos meninos que odiavam o DiCaprio e riam com sua morte na água gelada. E, ao contrário do que as meninas da escola diziam, eu achava (e sempre achei) a Kate Winslet uma semideusa: ela ruiva no filme era sensacional (aquela fase dos hormônios...), e, pessoalmente, gosto mais dela na versão "cheinha" (mas jamais gorda).

Confesso que não gostei do filme quando o vi pela primeira vez. Talvez fosse todo o rebuliço causado por ele. Lembro que, na noite do Oscar, fui dormir xingando porque "Titanic" abocanhara tudo. Mas assisti mais de uma vez, e mais de uma dúzia de vezes de lá pra cá. Fui aprendendo, no entanto, a gostar do filme de Cameron. É um ótimo filme para passar o tempo. E é um filme impressionante do ponto de vista técnico.

Tendo esse aspecto em mente, pela primeira vez assisti ao "Titanic" no cinema. Em 3D. E o melhor: em IMAX. Nunca havia entrado numa sala IMAX e aproveitei esse filme gigante (em todos os sentidos) para apreciar essa tecnologia de que tanto falam. Não me arrependi: o IMAX é impressionante! A começar pela tela, que deve ter quase o dobro do tamanho de uma convencional; no começo é um pouco ruim ler as legendas, já que vc tem de olhar para baixo e depois subir a vista para o centro da tela: mas com pouco treino você pega o timing da coisa. O som também é um show à parte: perfeito! Alto, nítido, bem distribuído... enfim, tudo o que queremos de um filme. A sala IMAX se tornou um xodó pra mim de hoje em diante. Pretendo voltar mais vezes. Mas somente quando os filmes realmente valerem a pena (como é o caso de "Titanic", pra mim): o preço é muito caro, mesmo quando se paga metade do valor do ingresso (a inteira sai por 34 reais). Embasbacado com uma sala que me proporcionou uma verdadeira imersão no filme, vamos falar brevemente da obra em si.

Quem não viveu fora da Terra nos últimos 15 anos deve ter assistido "Titanic" ao menos uma vez (ou uma parte dele). A história é aquela que faz as mulheres chorarem nos cinemas ainda nos dias de hoje (ouvi várias assoando os narizes): uma história de amor. Jack Dawson (DiCaprio) é o pobretão americano que está na Inglaterra na ocasião da primeira (e única) viagem do Titanic, em 1912. Ele ganha o bilhete num jogo de cartas e embarca no luxuoso navio. Lá, ele conhece a triste Rose (Winslet), que tem uma mãe dominadora e um noivo que não a ama. Ambos se apaixonam, têm um caso, o noivo descobre, tenta se vingar mas é tarde: o próprio navio se torna o carrasco do amor entre os dois. Uma história simples, confesso: assim como toda história de amor o é: comum e apaixonada - e é nisso que está toda a magia dessa "doença" chamada amor. Porém, Cameron é um contador de histórias de mão cheia: ele consegue prender a atenção das pessoas por quase 3 horas e 20 minutos sem fazer com que durmam. Há tempo necessário para desenvolver as personagens, inclusive nos momentos de pânico quando o navio já está naufragando. E James Cameron é, sim, sinônimo de avanço tecnológico nos cinemas. Ele provou isso com "Titanic" e, mais recentemente, com "Avatar". E deu um passo além: converteu com extrema competência um filme 2D em 3D! Isso é digno de nota: a conversão ficou realmente ótima (me fazendo questionar ainda mais o trabalho de George Lucas com seu "Star Wars" enganador) - as cenas no fundo do oceano ficaram muito boas, e a noção de profundidade no ambiente interno e externo do navio também. Só fui dar mais atenção à qualidade sonora do filme graças ao IMAX: é maravilhosa, a edição de som é incrível, não dá para negar.

"Titanic 3D" chega em boa hora para provar que é possível fazer um bom trabalho de transportar o 2D para o 3D sem cansar os olhos. Como é um filme com uma década e meia de idade, realmente apenas os fãs irão aos cinemas. Agora, aqueles que forem, certamente não irão se arrepender! E, confesso, não é vergonha nenhuma deixar algumas lágrimas caírem com o amor entre Jack e Rose.

Alex Martire


A Árvore da Vida, 2011.


Ano passado Terrence Malick conquistou a Palma de Ouro em Cannes em meio a vaias e aplausos. Também foi ano passado, 2011, que Terrence Malick assassinou o Cinema ao levar a perfeição às telas. Tenho minhas dúvidas do que será o cinema daqui pra frente. Quando assisti ao filme pela primeira vez, saí estarrecido do cinema: realmente não estava preparado para aquilo. Vi em tela grande algo que jamais vou esquecer e lembro-me de ter dito baixinho: "O melhor filme da minha vida". O que se segue, então, são impressões totalmente parciais sobre a obra, de alguém que a amou desde os seus primeiros segundos.

"Meu filho... Eu quero morrer... Estar com ele".
A voz da belíssima e extremamente competente Jessica Chastain é sussurrada enquanto a acompanhamos em um dia nublado. Ela, a Mãe, a Graça, aquela menina que foi criada por freiras e deposita sua vida nas mãos de Deus acaba de perder seu filho do meio, de 19 anos, para o Vietnã. A notícia chega justamente no comecinho do filme, quando todos os sons estão baixos, e é nesse meio segundo de dor da mulher ao ler a carta avisando sobre o falecimento que rompe o silêncio as turbinas dos aviões do aeroporto em que seu marido, o Sr. O'Brien (Brad Pitt) trabalha. A cena dura tão pouco, mas tem um impacto muito, muito profundo. A dor pode deixar a pessoa sem palavras, pode levá-la à surdez momentânea, e apenas podemos ler nos lábios do pai a questão "What?" antes de ele se dobrar sobre si mesmo, perdendo-se em meio ao lamento e vento que vêm das hélices/turbinas dos aviões. E isso faz lembrar Heródoto, pois realmente os pais jamais deveriam ter de sepultar seus filhos.

Perder alguém que se ama é horrível. Mas perder alguém sem ter tido a chance de expressar o que se sente, pode ser ainda pior. Numa das poucas cenas em que realmente vemos emoção na Natureza, no Sr. O'Brien, ele está com os olhos marejados e pouco abre os lábios para falar "Nem tive chance de lhe dizer como estava arrependido". Ele discutira e batera no garoto certa vez, mas seu orgulho o impediu de corrigir o ato e ele, então, carregará eternamente a dor do arrependimento. A impotência de ver a vida sugando de você a chance, o seu amor, é destruidor. Muitas vezes a gente só deseja um momento para expressar o que precisa ser dito, mas nem sempre isso acontece e então as coisas tomam outro rumo e você se sente abandonado, humilhado pelo próprio azar, pelas coisas que não dependem exclusivamente de você. Acho que, no fundo o filme todo é sobre isso: há coisas que irão acontecer, goste ou não, e elas estão acima de sua capacidade muitas vezes (e não estou aqui apoiando a visão cristã de Malick).

Então a dor descansa e o filme vai buscar a origem do amor. Literalmente. Aos 19 minutos de filme, tudo é interrompido e somos jogados no interior do Big Bang. A criação do Universo é absurdamente linda visualmente e sonoramente, com a trilha de "Lacrimosa" ao fundo. Uma boa parte da criação do mundo foi feita com técnicas clássicas de tintas em vidro, e outras, claro, foram feitas em computação gráfica. Da galáxia somos levados às águas e lavas que formam o planeta. Depois observamos os seres microscópicos que deram vida ao mundo, à flora e à fauna. Dinossauros surgem na tela e, até mesmo entre os animais, existe a imprevisibilidade (pois o predador não mata a presa moribunda no riacho). Logo vem o meteoro que destrói tudo e a vida (re)começa. E, então, tornamo-nos espectadores do começo da vida do casal O'Brien.

Agora Terrence Malick nos faz experimentar o mundo. Tudo começa com o casal deitado, olhando-se apaixonadamente. Os cortes rápidos da edição brincam com as luzes e em poucos segundos vemos a linda cena do Sr. O'Brien acariciando o ventre grávido de sua esposa e encostando o ouvido nele para identificar os sons do bebê. O parto. O nascimento. E um dos momentos mais marcantes da obra (que virou o poster, inclusive): o pai observando o pézinho do menino, deslumbrado. Geralmente nós homens somos "criados" para esconder nossas emoções e isso passa pela interpretação de Brad Pitt: ele se contem ao ver o recém-nascido, mas nota-se a alegria que mal cabe dentro de si. Creio que esse deve ser o sentimento de quem é pai. Não sei se um dia eu serei, ou até mesmo se serei um bom pai... mas o filme me despertou a reflexão sobre o que é, para um homem, o papel paterno, o "ser pai". Enfim, continuando, a Sra. O'Brien é quem passa mais tempo com o menino Jack (que mais tarde será interpretado por Hunter McCraken em sua fase adolescente e por Sean Penn quando adulto): ela faz aquele papel tradicional de mãe estadunidense dos anos 1950 que fica em cuidando das tarefas domésticas e das crianças. Somos levados, através dos olhos do pequeno Jack, a conhecer o entorno da casa da família, um pouco de seus parentes e também que podemos machucar nossos pés e/ou sentirmos ciumes quando nasce um irmãozinho. E depois mais um. Três são os garotos dos O'Brien, e é em Jack que se desenvolve o conflito entre a Graça e a Natureza.

O próprio menino diz em determinado momento que o pai e a mãe sempre estiveram (e sempre estarão) contrastando dentro de si. A parte da adolescência, que começa lá pelos 45 minutos e segue até o fim do filme, é marcada pela figura austera do Sr. O'Brien e a presença carinhosa (e também um tanto submissa) da Sra. O'Brien. O pai não é uma pessoa ruim, por mais que Jack não goste (ou esforce-se para não gostar) dele: apesar de educar as crianças com mão-de-ferro, exigindo respeito e dando sermões sobre como vencer na vida, Sr. O'Brien é, ao mesmo tempo, o homem que beija o filho após a bronca, quem brinca de figuras de sombra à noite e traz novidades após as viagens à trabalho. A mãe, por sua vez, é o alívio da tensão dentro de casa: a Sra. O'Brien acorda os meninos passando gelo neles, brinca de pega-pega no quintal da casa, esconde as traquinagens dos garotos do pai, molha os pés com o irrigador de grama, tem medo de lagartos e sai em defesa dos filhos quando o marido tenta repreendê-los de modo mais agressivo. Sra. O'Brien é a Graça, ela, literalmente, é capaz de flutuar em meio a gestos de quase bailarina. Jack é um típico garoto que passa por todas as fases de descobertas e nervosismos da adolescência: a menina da escola desperta seu interesse para a paixão, mas são os pés e as pernas desnudas da vizinha casada quem o leva aos primeiros instintos sexuais. Como o garoto fala ao pai, ele é mais parecido com a Natureza - é impulsivo, curioso, e até mesmo cruel, capaz de machucar o irmão que mais tarde vai morrer. Ele odeia o pai porque o Sr. O'Brien supostamente rouba o amor da mãe. Ele vê o irmão do meio tocando violão enquanto o pai o acompanha no piano e sente ciúme: sua educação rígida o afastou do Sr. O'Brien para sempre, impedindo-o de demonstrar qualquer coisa que não fosse respeito meramente. Contudo, em uma cena de auto-reflexão do Sr. O'Brien, ele conclui que fracassou na vida e que não queria que as coisas fossem assim; ele - conforme diz a Jack - só tem os três filhos na vida, que foram a melhor coisa que ele fez. E a vida comum da família vai seguindo, até que chega o momento de crise financeira e são obrigados a  mudar de casa. Então o filme caminha para o seu final.


A cena que encerra "A Árvore da Vida" talvez seja aquela que mais causou estranhamento ou revolta nos espectadores (quando vi no cinema, por exemplo, algumas das poucas pessoas que permaneceram até o fim saíram xingando da sala e dizendo que o filme era sem pé nem cabeça). É a cena do Juízo Final. Tudo morre um dia, é necessário. Malick leva isso ao extremo e nos brinda com o fim da Terra. Então acompanhamos Jack adulto passando pelo portão da Morte (ou seria da Vida?) e entrando naquilo que nos remete ao Paraíso. Lá somos reapresentados a todos: irmão caçula, pai, mãe, e o irmão que morrera na guerra. Todos caminham numa praia repleta de gaivotas. O momento em que a mãe encontra o filho que morrera aos 19 anos é tocante: suas lágrimas escorrem e vão se misturar à água salgada do oceano.Todos juntos. Até o fim dos tempos. E o filme termina como começa: a mancha no universo da qual surgirá a vida.

O genial trabalho de Malick ainda é marcado pelo Sol. Em todas as cenas externas temos a câmera filmando contra o sol, em meio às árvores. Nas cenas em que aparece Jack adulto, porém, o sol está escondido atrás dos prédios: a Natureza já não o acompanha mais. De resto, cabe ressaltar o modo peculiar de Malick posicionar as câmeras: você sempre fica bem próximo das personagens, e os cortes são sempre secos e rápidos - estilo que Malick desenvolveu em cinco filmes. E que fica ainda mais perfeito em blu-ray.

Como eu disse, "A Árvore da Vida", para mim, encerrou todo um ciclo no cinema. Não sei como se dará daqui pra frente, como vão transcender a obra-prima de Terrence Malick: ele, que trouxe ao cinema a mais pura noção de "filme para ser sentido".

Alex Martire






 
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