O Palhaço, 2011.



Tenho de começar pelo meu ponto fraco: sempre gostei de circos. Não que eu tenha ido em muitos, longe disso (infelizmente), mas eu adoro  histórias de circo, como as pessoas vivem, as dificuldades, alegrias, a magia    e encanto que causa nas pessoas, a memória de tantos espetáculos... Enfim, sou fascinado por circos. E se um filme trata da temática, ele já começa com uns pontos a mais comigo.

Porém, esse segundo filme dirigido por Selton Mello teria alcançado pontuação máxima mesmo se eu odiasse a vida circense. "O Palhaço", arrisco dizer, é uma das melhores produções nacionais da última década - e talvez até mesmo de todo o cinema brasileiro. Não consigo achar nada de ruim nele. Bom, na verdade, há, sim, um ponto negativo, mas que parece ser comum em todos os filmes nacionais: a péssima qualidade da edição de som (ou da própria captura, não sei): ora o áudio fica muito alto, ora é quase inaudível e você gostaria que o filme tivesse legendas. Mas como eu disse, isso acontece em quase todos os filmes por aqui, e não prejudica em nada o conjunto dessa magnífica obra de Selton Mello.

Selton e Paulo José são dois grandes nomes da atuação brasileira. O Selton por tudo o que ele faz, sempre batalhando para divulgar o cinema no Brasil, e Paulo José por ser um dos maiores atores ainda em atividade, apesar de seu recente problema de saúde. Os dois fazem papéis de palhaços e de pai e filho. Benjamin (Selton) e Valdemar (Paulo) são a dupla Pangaré e Puro Sangue, donos do Circo Esperança, que conta outros atores circenses que dão um charme à história. Todos, como uma família, viajam pelo Brasil (e a região em que estão no filme é o interior da maravilhosa Minas Gerais) montando seu circo sem alvará de funcionamento e angariando plateias de 30, 50 pessoas, no máximo. As dificuldades financeiras, claro, são enormes, mas uma família permanece unida apesar dos pesares. 

Seria mais uma história de circo se não fosse a opção de Selton Mello em destacar a vida de Benjamim: um palhaço deprimido, que não se encontra no mundo, não encontra felicidade, e que tem como maior sonho na vida comprar um ventilador. Tudo bem que essa coisa de mostrar o lado triste dos palhaços não seja novidade, mas a visão de Mello sobre o tema é muito bonita, muito poética. Pangaré consegue fazer as crianças e adultos rirem mas, fora da tenda, é um homem calado, perdido em seu mundo. Numa das viagens ele conhece Ana, uma loira sorridente, e promete que irá levar o circo até à cidade dela (Passos). Embora haja muitas dificuldades e nunca consiga se livrar de sua tristeza, Benjamin acaba seguindo os passos que o levarão até a cidade da moça. Contar mais do que isso estragaria a surpresa.

Apesar de ser um filme curtinho - tem apenas 1h20 - "O Palhaço" é extremamente bem amarrado e centrado no roteiro. O terceiro ato é o ponto forte do filme: ele consegue fazer rir, chorar de tristeza e chorar de alegria, tudo ao mesmo tempo! Apoiado pela deslumbrante Direção de Arte, o filme é uma pérola do cinema brasileiro. Uma obra daquelas que deve ser vista pelo maior número de pessoas possíveis: tudo em "O Palhaço" é impecável.

Absolutamente brilhante.

Alex Martire

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