Três Homens em Conflito, 1966.



"Deus fez os homens, mas Samuel Colt os tornou iguais."

Esse era o slogan da Colt Manufacturing na segunda metade do século XIX. Mas não eram todos os homens que podiam ter um Colt: como apontava o jornal Harper’s Weekly (responsável por registrar a Guerra Civil Americana entre 1861 e 1865, incluindo fotos de campo), o preço de um revólver dessa fábrica anunciado em uma das edições de 1861 era de $27,00 - muito dinheiro para a época e situação econômica na qual se encontrava os EUA.

Contudo, homens Bons, Maus e Feios tinham um Colt durante a Guerra da Secessão que colocou em risco a união estadunidense. A briga entre o sul e o norte, confederados e ianques, quase criou uma divisão no território por conta de diferenças políticas e econômicas (uma boa parte delas referente à escravidão). O lado positivo dessa guerra, porém, foi que os EUA se tornaram o maior país industrial do mundo. A infraestrutura mais a expansão territorial aliadas à Guerra Civil fizeram com que aumentasse o mercado consumidor estadunidense. O carro-chefe da industrialização dos EUA foi a indústria bélica, circulando o capital de bens de consumos básicos para a manufatura. Outra característica marcante do industrialismo estadunidense da Guerra Civil até 1900 foi a formação de monopólios e cartéis industriais, influenciadores, também, na economia mundial. Claro que em 1929 eles afundaram o mundo, mas aí a discussão se estenderia demais aqui...

Voltando ao que interessa, em 1966, Sergio Leone filmou um dos maiores clássicos, um dos melhores filmes de todos os tempos, "Três Homens em Conflito". A obra é impecável, e mesmo a versão restaurada com alguns minutos a mais não torna suas 3 horas de filme cansativas. Leone usa o pano de fundo da Guerra Civil para mostrar como três homens diferentes conseguem se aproveitar da guerra para o seus próprios interesses. Começamos o filme com o Feio, chamado Tuco, o "Rato" (Eli Wallach). A primeira cena começa logo com três homens sendo baleados dentro de um estabelecimento e com Tuco fugindo pela vidraça. Mas ele é pego no deserto e, quando está para ser entregue às autoridades (pois sua cabeça de bandido vale $2000,00), eis que surge o Bom, Blondie (Clint Eastwood). Rápido no gatilho (desculpem, mas é inevitável usar essa expressão), Blondie mata os três caras e captura Tuco, que é levado, então, ao xerife. Quando é sentenciado à morte e está na forca, somos apresentados, então, ao verdadeiro caráter dos homens: Blondie atira na corda, liberta Tuco e ambos fogem, juntos - os dois têm um acordo: Tuco assalta, Blondie o leva preso, recebem a recompensa, Blondie o liberta, dividem o dinheiro e estão livres para ir a outro condado recomeçar o esquema. Ao mesmo tempo, o Mau, conhecido por Angel's Eye (Lee Van Cleef), está atrás de uma caixa de dinheiro que foi roubada e está escondida em algum canto. Ele é um homem pragmático: se alguém o contrata para matar, ele mata, ele cumpre sua palavra. E ele vai matando os homens até obter a informação que deseja. E essa informação, de acordo com algumas reviravoltas na história do filme, acaba ligando-o à dupla Blondie e Tuco. E é aí que a coisa fica realmente boa!

O filme é delicioso demais! Tuco é o alívio cômico, ele é o descendente de mexicanos que é trapaceiro, desesperado, metido a forte. Embora Clint Eastwood seja a primeira figura que vem à cabeça quando pensamos nesse filme, é Tuco a atração principal. A atuação de Eli Wallach é soberba (bom, todos no filme estão incríveis) e nos faz torcer pelo pobre homem. Se fosse apenas um filme sobre os 3 homens em conflito, já seria bom, mas Sergio Leone vai além e os coloca dentro da Guerra da Secessão: a todo momento os três são obrigados a trocar de lado (embora nunca tenham tido nenhum): ora atuando pelos Confederados, ora pelos Ianques. Há um número gigantesco de figurantes como soldados e as encenações das batalhas ficam ainda mais impressionantes quando paramos para pensar que não havia computação gráfica para criar personagens naquela época. 

Os diálogos são um show à parte e a cena final, a do duelo entre os 3 homens no cemitério, é clássica. Aliada a tudo isso está a orgásmica e eterna trilha criada pelo magnífico Ennio Morricone.

Talvez "Três Homens em Conflito" seja o maior filme de bangue-bangue (sim, não gosto do termo western, prefiro o popular) já feito. E Sergio Leone, certamente, foi um dos maiores diretores que já pisaram nesse mundo.

Sorte nossa. É só acender o cigarro, pegar seu uísque e deixar-se perder no calor do Oeste estadunidense: será uma aventura que jamais esquecerá.

Alex Martire


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