Essa é uma impressão que eu, sinceramente, não gostaria de escrever...
"Sombras da Noite", nova obra de Tim Burton, é um filme ruim. Eu disse que não gostaria de escrever pois sou um fã declarado do Burton: adoro sua obra e vinha colecionando seus filmes em DVD mas, graças ao Blu-Ray, agora estou tendo de re-colecionar tudo. De todos os filmes, ainda não comprei "Alice no País das Maravilhas" por falta de coragem e, em breve, farei a mesma coisa com "Sombras da Noite". O que realmente me chateia é que o Burton lançou essas duas "pérolas" uma atrás da outra, sem tempo para eu digerir a frustração. Obviamente, "Sombras da Noite" não é o pior filme de Burton, pois é humanamente impossível se fazer algo pior do que "Alice", mas é um filme fraco, contudo. Ele falha em todas as pretensões. É difícil achar coisas positivas nele para escrever...
Mas vou me esforçar e achar uma! Sim, é referente à parte técnica. Tal como em "Alice", "Sombras da Noite" é um filme muito bonito. De verdade. Os filtros escuros dão um charme e toda hora há enquadramentos que lembram os filmes de terror das décadas de 20 e 30. A trilha sonora com músicas da década de 1970 também é muito divertida, incluindo Black Sabbath e Alice Cooper. A atuação da - sempre deliciosa - Eva Green é bastante competente, e Johnny Depp também se mostra bem à vontade na pele do vampiro Barnabas Collins. E só.
Há uns poucos diálogos inteligentes, mas que não são tão engraçados. Há umas sacadas divertidas com a adaptação de Barbanas aos anos 70, mas são poucas, e há ele, o Roteiro. O grande problema do filme é o roteiro: quase nada se amarra e tudo é frágil demais. E infantil demais. Eu acho que temos de aceitar a mentalidade do Burton quando vemos um filme dele, faz parte da diversão observarmos o mundo através de seus olhos, mas em "Sombras da Noite" fica a impressão de que ele tinha ideias, mas não as desenvolveu. É uma colagem de tudo - comédia, terror, ação, romance, drama - em 113 minutos: tudo o que já vimos em seus filmes anteriores. A história, apesar de simples e baseada no seriado homônimo (que nunca vi), dava pra ser mais bem explorada se tivessem se centrado em apenas um aspecto dela: "Sombras da Noite" padece da mania de grandeza - quer se fazer muito, em muito pouco tempo, e acaba-se não fazendo quase nada. É uma história de amor, onde Angelique Bouchard (Eva Green), uma bruxa em 1772, amaldiçoa o rico Barnabas Collins por não amá-la, transformando-o em vampiro e aprisionando-o sob a terra. Dois séculos depois ele é "descoberto" e vai viver com os descendentes na mansão Collins, tendo de arcar com a paixão ainda doentia de Angelique (também imortal, sabe-se lá como). A cena de amor entre os dois num determinado momento, que supostamente era pra ser bem divertida, é entediante e desnecessária no contexto do filme. Assim como uns 30 minutos do meio do filme, que são chatos, dão sono e não acrescentam nada à fraca história.
Quando o trailer de "Sombras da Noite" foi lançado eu não me empolguei: parecia meio sem graça. E, vendo o filme, realmente é sem graça, mas ao invés de 3 minutos, são 113. A palavra-chave para o filme, a meu ver, é "empolgação". Ele simplesmente não funciona, não empolga, cansa que assiste. As conclusões no final são bobas demais, fraquinhas e sem nexo.
O filme termina com Barnabas Collins dizendo que "se livrou de sua maldição". Que maldição é essa? Para mim, a maldição de Jack Sparrow: Johnny Depp finalmente voltou a atuar sem os trejeitos do pirata. Esse é o grande mérito desse filme. Talvez a psiquiatra tenha surtido efeito sobre o vampiro, afinal...
Alex Martire
Alex Martire