Garota Exemplar, 2014.


Creio já ter escrito em algum lugar por aqui que David Fincher é um dos meus diretores preferidos. Ele tem um certo dom para escolher roteiros complexos e destrinchá-los de modo ímpar. Para mim, o único deslize de Fincher até hoje foi o insosso "Millenium" (2011), que simplesmente parece fugir do tom de suas obras anteriores. Não que o filme tenha sido um desastre completo, mas, tratando-se de David Fincher, eu não espero nada mais que a excelência. Felizmente, ela está de volta!

Garota Exemplar é "Fincheriano" do início ao fim. Temos tudo o que consagrou o diretor: violência, reviravoltas, diálogos afiadíssimos... é um filme de "encher os olhos". E como toda obra boa de Fincher, é extremamente difícil escrever sobre ela sem entregar a trama. Vou tentar resumir, então, em apenas poucas palavras aquilo que vemos em tela durante a projeção: Nick Dunne ( o sem-conserto Ben Affleck) tem um casamento de 5 anos conturbado com Amy Dunne (a loira-porcelana Rosamund Pike); regado a desejos não concretizados e indícios de agressões verbais e físicas, a história do casal muda drasticamente quando, nas bodas de casamento, Amy misteriosamente desaparece de casa. A vida de Nick passa por transformações profundas quando passa a ser investigado pela polícia e julgado pela mídia e pela sociedade sobre o sumiço de Amy.

Falar mais do que isso estragaria o prazer em se assistir ao filme. E que prazer! É simplesmente delicioso ver um dos mestres do suspense novamente nos entregando uma obra praticamente impecável como Garota Exemplar. Se os filmes anteriores de Fincher são bastante psicológicos,  este explora um lado que não aparece tanto nos demais: a doença sexual. O filme é sobre sexo. O filme é sobre possessão. O filme é um tanto doentio também no modo como nos faz querer saber como aquilo tudo acabará. Fincher tem tanta segurança que joga a reviravolta do filme praticamente em sua metade e muda a história completamente, dando-nos uma outra visão de tudo. É um prazer quase sexual sentir que o clímax só virá mais tarde. O modo como monta a estrutura da obra colabora incrivelmente para isso: Fincher mistura trechos do diário de Amy com a cronologia de seu desaparecimento, nos colocando ora numa espiral, ora numa linearidade.

Antes de assistir ao filme eu havia lido que as interpretações de Affleck e Pike eram dignas de prêmios. Ok, não é para tanto. E a culpa, novamente, é a de Ben Affleck. Já abri mão dele, não tem mais salvação... Neste filme ele está um pouco menos pior, mas continua sendo aquele sujeito de uma face só. Felizmente, suas falhas são compensadas pelos atores coadjuvantes (como sua irmã e a investigadora policial) e, principalmente, pela encantadora Rosamund Pike, que consegue transmitir com veracidade os problemas que o amor pode gerar. Quase sempre coadjuvante na telona, acredito que Pike irá, daqui em diante, conseguir mais papéis de destaque, uma vez que provou, de vez, ser capaz de lidar com personagens extremamente complexos.

David Fincher dirigiu mais uma obra-prima. Garota Exemplar irá deliciar quem gostou de "Zodíaco" (2007), "Seven" (1995) ou "Clube da Luta" (1999). Certamente um dos melhores filmes que assisti esse ano e um dos principais na já excelente carreira de Fincher. Mais do que obrigatório.

Alex Martire


Share this article :

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2011. CineImpressões - All Rights Reserved
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger