A Malvada, 1950.



Vamos falar tudo sobre Eve. 

O filme, merecidamente, é tido como um dos grandes marcos, uma das melhores obras cinematográficas já produzidas. Ele foi um verdadeiro "papa-prêmios", ganhando quase tudo em 1951; citando alguns: Oscar de Melhor Filme; Oscar de Melhor Diretor; Oscar de Roteiro Adaptado; Oscar de Figurino; Oscar de Melhor ator coadjuvante (George Sanders); BAFTA de Melhor Filme; Círculo dos Críticos de Cinema de Nova York - Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz (Bette Davis); Globo de Ouro de Melhor Atriz (Bette Davis) e por aí vai... Dificilmente um filme que ganha prêmios tão importantes é ruim, e esse é o caso de A Malvada (mais uma "tradução" brasileira que poderia muito bem não ter existido).

O filme foi dirigido por Joseph L. Mankiewicz - irmão de Herman Mankiewicz, que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro em 1941 por Cidadão Kane -, levando-o ao reconhecimento por parte da Academia em 1951. De todos os filmes que Mankiewicz dirigiu, talvez ele seja mais lembrado justamente por aquele que praticamente levou a Fox à falência no começo da década de 1960, o absurdamente monumental (e maravilhoso, diga-se de passagem) Cleópatra (1963). Se você já assistiu ao filme da rainha do Egito, sabe que Mankiewicz possui uma competência fora do comum para lidar com tramas emaranhadas sem deixá-las monótonas. 

A Malvada é toda centrada em 6 personagens e se sustenta nos diálogos (ok, já disse antes e vou repetir: tenho uma queda por filmes com diálogos inteligentes). Somos apresentados (ou mergulhados?) à história de Eve Harrington (Anne Baxter), atriz de teatro que se consagra com o prêmio Sarah Siddons. O filme, porém, é faz digressão enorme para contar como Eve conseguiu ganhar aquela honraria. Voltando alguns meses no tempo, vemos como Eve, uma moça maltrapilha, acabou conhecendo a famosa atriz de teatro Margo Channing (Bette Davis) em seu camarim. Contando com uma lábia impressionante, Eve se torna amiga de Margo em um grau bem distinto: praticamente sai das ruas para morar na mansão da atriz, auxiliando-a em seus afazeres, acompanhando-a em todas as apresentações, sendo sua secretária. E é aí que reside o problema: Eve é obcecada pela ideia de ser alguém na vida, tanto, que começa a tomar as rédeas da vida de Margo, inclusive se metendo no relacionamento entre ela e o diretor de teatro Bill Simpson (Garry Merrill). Porém, as coisas ficam mais sérias quando passa a manipular e chantagear o roteirista Lloyd Richards (Hugh Marlowe) e sua esposa Karen (Celeste Holm) para conseguir um papel nas peças de teatro. Uma vez atuando, Eve toma o lugar de Margo nas apresentações como substituta, ganhando destaque nos jornais graças ao crítico Addison DeWitt (George Sanders), com quem mantém algo que parece ir além de uma simples amizade. O trabalho bem realizado pelo crítico leva Eve a ganhar o prêmio Sarah Siddons e nos traz de volta ao começo do filme. Não apenas nos traz de volta, como se inicia um novo ciclo na vida de Eve (e no filme): ela é apresentada à jovem sonhadora jornalista Phoebe (Barbara Bates), garota que passa a agir como Eve fez com Margo, deixando o espectador com aquela sensação de "lá vamos nós de novo".

Em suas 2 horas e 20 minutos de filme, A Malvada prende a plateia pelo pulso. O que poderia ser um filme chato e cansativo se mostra algo muito, muito cativador, misturando romance e comédia na dose certa. Passado em New York, a todo momento a obra critica Hollywood, como se lá fosse o local que corrompe a alma das pessoas. Margo está sempre lutando contra a ideia de largar o teatro e ir para o cinema. O diretor Bill não recebe grandes elogios quando precisa sair de NY e ir para LA a fim de ajudar num filme. O início de A Malvada já deixa bem claro esse "descaso" com Hollywood: a narração em off de DeWitt diz: "Talvez desconheçam o distinto prêmio Sarah Siddons. Foi poupado o sensacionalismo e honrarias duvidosas como os do Prêmio Pulitzer e outros mais, concedidos anualmente por aquela... sociedade cinematográfica". Esse é o grande trunfo de A Malvada: jogar no mundo do teatro aquilo que também é vivido em Hollywood, esse mundo-cão das grandes estrelas, com seus egos e puxões de tapete. E para tanto, Mankiewicz não podia ter se servido melhor de atores e atrizes consagrados. Dentre todos (um elenco afiadíssimo, perfeito), obviamente se destaca a musa, a maravilhosa Bette Davis: com sua cara de bêbada e olhos esbugalhados, Bette Davis é uma das melhores atrizes que já viveu, atuando em mais de 120 filmes; ela consegue deixar de existir para poder viver um papel, e isso é o melhor elogio que pode ser feito a um ator. Impecável, Bette Davis é a alma do filme, mesmo com ele se propondo a contar tudo sobre Eve. Para completar, num papel que não tem muita importância na trama, temos a rápida aparição dela, a Deusa Loira, a mulher que todo homem já desejou, Marilyn Monroe, como Srta. Casswell. Incrível como Marilyn consegue colocar qualquer um a seus pés: aquele rosto de anjo com um jeito ingênuo, quase bobo, simplesmente rouba todas as (poucas) cenas em que aparece. 

Marilyn fica ainda mais bonita com o capricho na conversão do filme para blu ray: não me recordo de ter visto até agora um filme P&B tão perfeito. Praticamente não há granulados e em nenhum momento há "borrões" nos cantos. Enfim, perfeição em 1080p. Uma perfeição mais do que merecida para esse filme grandioso que, por sua vez, merece estar na lista das melhores obras já feitas para o Cinema. Mais do que um filme recomendado, é necessário.

Alex Martire






Share this article :

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2011. CineImpressões - All Rights Reserved
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger