Frankenweenie, 2012.



Eis que chega aos cinemas o segundo filme de Tim Burton nesse ano. A pergunta que faço é: nós merecemos isso? Se fossem dois filmes maravilhosos, certamente a resposta seria "Sim, sim!", mas não é esse o caso... Depois do horrendo Sombras da Noite (que veio logo após o execrável Alice no país das Maravilhas), eu esperava a redenção de um dos meus diretores preferidos com Frankenweenie, mesmo se tratando de uma refilmagem. Mas não foi dessa vez...

Creio que o grande problema de Frankenweenie seja a história mesmo, muito fraquinha. Desde que o original foi feito, em 1984 - mas só lançado em 1985, pois a Disney não achou "apropriado" exibi-lo antes do relançamento de Pinóquio nos cinemas -, ele se mostrou um filme meio sem sal. Tudo bem que é uma declaração de amor aos filmes clássicos de terror da Universal, tudo bem que é uma releitura da obra de Mary Shelley, mas não é um filme burtoniano: é meramente uma história refeita com outro personagem, o cachorro. O original também conta com problemas sérios de edição, que avançam a história demais, causando um desconforto anormal, mesmo que se tratando de um curta metragem. Enfim, a Disney não gostou na época, Tim Burton não gostou de não terem gostado, e o casamento entre o funcionário criativo e "estranho", um prata-da-casa formado no CalArts, e a Disney, acabou ainda na década de 1980. A relação só foi retomada com a produção de Alice no País das Maravilhas, em 2010: ou seja, era melhor terem continuado brigados. Com o sucesso absurdo de bilheteria do novo filme da menina loira, a Disney bancou a versão nova de Frankenweenie que Burton já vinha preparando há um tempo e deu carta branca ao diretor.

Para quem não viu o original (que consta como extra na edição especial de O Estranho Mundo de Jack, 1993), a história é a seguinte: na época em que o sonho americano transbordava, a família Frankesntein vivia feliz com seu cão (um pitbull) Sparky. Victor, garoto dono do cão, gostava de lançar bolas de baseball para o cachorro apanhar; porém, certo dia, a bola vai parar no meio da rua e o bicho é atropelado. Triste com a perda, o menino encontra esperanças ao ver as aulas de ciências na escola, onde o professor mostra como a eletricidade pode movimentar o sistema nervoso de cadáveres. Victor desenterra Sparky e monta um pequeno laboratório no sótão de sua casa onde, com a ajuda de relâmpagos, revive o costurado cãozinho Sparky. Seus vizinhos não aceitam tamanha bizarrice e passam a perseguir Sparky, que acaba refugiado no moinho velho da cidade. Então ocorre um final no melhor estilo Frankenstein.

Tudo isso em uns 30 minutos. E nesse tempo, funciona muito bem. Contudo, Burton dividiu essa história em algumas partes e, entre elas, realmente "encheu linguiça" para transformar num longa de 87 minutos. Se a história original não empolga, ao menos elas não sofre de tédio, pois é curta. Isso não ocorre com a nova versão: o filme parece longo demais e, tirando uma ou outra parte interessante e/ou engraçada (que são poucas), muitas vezes o filme se torna chato. Obviamente, para fazer "render" a obra, Burton teve de criar outras historietas, incluindo alguns personagens, amigos de Victor. De todos eles, tirando o seu "colega" Edgar (o Igor dos filmes de terror), o que mais me chamou a atenção foi a garota Garota Estranha (isso mesmo, Weird Girl) e seu gato, que dão um tom engraçado ao filme. Victor Frankenstein também é interessante, mas parece demais com a versão infantil de Victor Van Dorst de A Noiva Cadáver (2005): além de deixar claro que Tim Burton só sabe usar um nome para seus personagens... O cão Sparky ficou ótimo em stop-motion, lembrando demais o bicho do desenho Vida de Cachorro (que envolve Burton também), e ele vale o ingresso para assistir ao filme. Porém, acho que o grande deslize da obra está em seu terceiro ato: a opção de Burton em trazer outros animais-monstros à tela quebra totalmente o (pouco) encanto do filme original: é a velha mania da Disney de querer criar ação épica no fim de seus filmes.

Afinal, Frankenweenie vale ou não a pena de pegar filas, pagar caro pelo ingresso e testar a paciência dentro da sala de cinema com uma plateia ignorante que não para de falar? Eu diria que vale, mas mais por questões técnicas e saudosistas do que pelo filme em si. As referências aos filmes de monstro da Universal são bem interessantes e vão trazer um sorriso ao rosto dos que já viram. Porém, o que para mim é mais chamativo, é o fato de ser um filme preto e branco em 3D (não em recordo de já ter visto um): o efeito tridimensional ganha uma sutileza diferente de quando os filme são coloridos, e cansa bem menos os olhos (mas isso, acredito, é graças ao bom trabalho da equipe da Disney na resolução dos problemas de paralaxe). Dos três últimos filmes de Tim Burton, Frankenweenie é o menos pior. Daqui pra frente, Burton deve ficar atento ao que faz: Sombras da Noite foi um fracasso de bilheteria e Frankenweenie segue no mesmo caminho. Agora Burton deve escolher entre fazer um filme ruim mas que renda algum bilhão de dólares (como Alice...), ou um filme genial mas que não traga quase dinheiro (como Peixe Grande, 2003). Creio que, para poder continuar a fazer filmes, Burton vai abraçar a primeira opção, já que seus filmes realmente bons nunca trouxeram muito dinheiro aos cofres das distribuidoras. Esperar para ver...

Alex Martire





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