Asterix e Obelix: A serviço de Sua Majestade, 2012.


Não sou profundo conhecedor da obra de René Goscinny e Albert Uderzo, que começou a ser lançada em 1959 e até o momento já conta com 34 histórias em quadrinhos. Mas se hoje, profissionalmente, sou o que sou, eu devo, sim, agradecimentos ao trabalho desses dois franceses que trouxeram ao mundo as aventuras de Asterix e Obelix. Desde criança adoro a dupla. Li algumas HQs, mas o que mais me marcou mesmo foram as animações feitas nas décadas de 1960 à 1980 baseadas nos gibis. Eu devo ter assistido a cada animação umas 15 vezes ou mais. Elas passavam sábados (ou seriam domingos?) à tarde no canal Bandeirantes e eu nunca perdia. Lembro que eu era vidrado no Obelix e o que eu mais desejava provar quando criança era javali assado e a tal da cerveja quente que eles tomaram numa das viagens. Contudo, devo confessar, não eram os gauleses que mais me chamavam a atenção: eu adorava aquele povo que sempre "perdia", aqueles legionários comandados por um sujeito chamado Júlio César e que se vestiam de vermelho, S.P.Q.R. ficava na minha cabeça, enquanto eu matutava sobre o que significaria. Enfim, eu gostava mesmo era dos romanos! Eu torcia por eles, mesmo sabendo que, obviamente, perderiam. Mas a magnificência daquele povo me encantava. Cada cena que se passava em Roma era um deleite pra mim: ficava vendo aqueles templos, o Fórum, as casinhas e... poxa, como eu gostava de ver aquilo! 

O tempo passou e eu sempre me via lendo sobre os romanos e vendo programas na TV sobre arqueologia. No fim da adolescência acabei me apaixonando por Eletrônica e acabei deixando meu envolvimento com Roma de lado um pouco. Mas quando terminei o colégio técnico, vi que não era com eletrônica que gostaria de passar o resto dos meus dias: não seria um casamento feliz. Terminamos nosso relacionamento, mas sempre continuamos amigos. Eu tinha de seguir em frente e, para isso, era necessário olhar para trás. Só restava uma opção: eu queria estudar Roma, eu queria ser arqueólogo. O caminho não foi fácil e ocorreram alguns tropeços mas, no fim, realizei meu sonho. E o realizo a cada dia. Cada vez que pego um livro sobre Roma eu me vejo quando criança, parado em frente ao televisor, sem piscar, assistindo aos desenhos da dupla Asterix e Obelix. É por isso que guardo um carinho enorme por esses gauleses. E é por isso que fico feliz cada vez que anunciam um novo filme deles!

Contudo, a felicidade nem sempre acompanha a qualidade. Em 1999, foi lançado Asterix e Obelix contra César, o primeiro filme "carne e osso" da dupla, e ainda é um dos meus preferidos. Conseguindo captar o espírito das HQs, o filme não tentava ser "real", ele brincava com a quantidade de absurdos presentes nas histórias originais e, com isso, se saiu muito bem. Três anos depois, em 2002, chegou aos cinemas Asterix e Obelix: Missão Cleópatra. O filme já mudou bastante em relação ao anterior: agora tudo estava menos francês e mais hollywoodiano, com referências a vários filmes lançados na época. Embora carecendo de "espírito Asterix", o segundo filme é bastante engraçado e vale a pena assistir. Porém, em 2008 (após a estreia da boa animação Asterix e os Vikings, de 2006), o lançamento de Asterix nos Jogos Olímpicos foi uma decepção tremenda. O filme é ruim. Simples assim. Abusando de um humor infantil, tudo no filme parece fora de ritmo, desajustado. Sem conseguir arrancar risos, o filme foi um fracasso de crítica.

Em 2012, por Tutatis!, foi lançado Asterix e Obelix: a serviço de Sua Majestade. E com ele veio a redenção: é o melhor filme live-action de Asterix dos que já foram produzidos! Não é de se estranhar, porém: foi dirigido por Laurent Tirard, o competente diretor que já havia feito os excelentes As Aventuras de Molière (2007) e O Pequeno Nicolau (2009). Um dos grandes feitos do diretor foi ter escolhido um elenco bastante bom, incluindo Catherine Deneuve (como a Rainha da Britânia), Guillaume Gallienne para o papel do inglês Jolitorax, da estonteante Charlotte Le Bon (Ophélia, namorada de Jolitorax), e de Edouard Baer como Asterix (de longe, o melhor baixinho gaulês das adaptações cinematográficas). Juntos com Gérard Depardieu, o elenco segura o filme com suas interpretações interessantes e engraçadas.

Tirard também é roteirista desse novo filme do Asterix e acertou em cheio em todos os aspectos. O grande mérito de Asterix e Obelix: a serviço de Sua Majestade está em seu roteiro. A comédia pastelão do último filme cede lugar à inteligência dos diálogos e situações. Acredito que todo inglês sem humor (talvez a maioria?) vai detestar o filme e ele terá uma péssima aceitação quando (e se) estrear na Inglaterra. Asterix e Obelix: a serviço de Sua Majestade é uma grande tiração de sarro dos costumes e do povo inglês. É a visão clara de como os franceses (e o resto do mundo, por que não?) enxergam seus vizinhos britânicos e da velha rixa histórica entre França e Inglaterra (num dado momento, quando Jolitorax pergunta à Rainha se devem pedir ajuda aos gauleses para combater os invasores romanos, ela responde que prefere ser conquistada a ter de receber auxílio gaulês). Há inúmeros pormenores que surgem aqui e ali para satirizar os ingleses e que somente aqueles que conhecem um pouco da cultura britânica (como seus comportamentos na sociedade e a sua péssima comida) irão "pegar" 100% da piada. 

Asterix e Obelix: a serviço de Sua Majestade é delicioso nesse sentido: é um filme inteligente que se agarra à discrição para deixar tudo engraçado. E ao invés de tentar recriar a Britânia da época da chegada romana com Júlio César (55 e 54 a.C.), Tirard optou por dar ares de século XIX à vila britânica comandada pela Rainha (Elizabeth II, claro): melhor impossível! A cada instante é possível reconhecer algo da cultura inglesa, seja nos cenários, seja nos diálogos. A Direção de Arte, nesse porno, fez um trabalho bastante interessante ao mesclar os séculos I a.C. e XIX, embora todos os efeitos visuais em computação gráfica deixem a desejar, pois não foram feitos por grandes empresas especializadas, optando-se por produção local. 

Enfim, Asterix e Obelix: a serviço de Sua Majestade serve para colocar os gauleses de volta ao seu lugar nos cinemas. Moderado e inteligente, o filme acerta em cheio ao trazer a essência da obra original para as telonas. E também nos faz pensar que o javali assado na Gália é mil vezes melhor do que o da Britânia...

Alex Martire



Share this article :

+ comentários + 2 comentários

Anônimo
17 de abril de 2013 às 06:45

Boa tarde! Tbém sou fã dessa turma! Você sabe quando o filme estréia no Brasil ? Obrigada.

17 de abril de 2013 às 18:50

Olá, Iramirim!
Muito obrigado pela visita e pelo comentário :)

Infelizmente, ainda não há uma data de estreia aqui no Brasil... ao menos, não no IMDB, que costuma fornecer esse ado. Todas as datas de lá referem-se apenas à Europa, por enquanto. Veja:http://www.imdb.com/title/tt1597522/releaseinfo?ref_=tt_dt_dt


Abraço!

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2011. CineImpressões - All Rights Reserved
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger