A Dama do Lotação: a sexualidade feminina e a sua busca por satisfação
Para quem não está inteirado da história do nosso cinema brasileiro, não que isso seja um grande lapso, ou má conduta, talvez por falta de oportunidades e incentivos de debruçar-se um pouco mais sobre a produção cinematográfica nacional, e quem sabe a latino-americana de forma mais ampla. O filme de Neville de Almeida A Dama do Lotação (1978) que contou com a produção e também a participação na escrita do roteiro de Nelson Pereira dos Santos é umas das maiores bilheterias alcançadas pelo cinema brasileiro, tem como protagonista a exuberante Sônia Braga, e a trilha sonora de Caetano Veloso.
Há tempos assisti a esse filme, e há tempos andava com vontade de escrever sobre ele ...
Ouvi de uma professora querida no início deste ano, ela um exemplo de intelectualidade, de personalidade forte e de estilo (adoro os modelitos que ela usa, os acessórios, e afins), que na vida a passividade nem sempre é a melhor opção para se “viver bem”. E eu aqui com os meus reflexos chequei acho que tarde, mas ainda em tempo a “conclusão” - que o fazer e o não fazer implicam em julgamentos, leituras, especulações da mesma maneira. Sendo assim, quando estivermos com vontade de fazer algo, façamos! Seja lá o que for esse algo! O que os outros vão pensar ou vão dizer não pode nos privar de seguir aquilo que achamos que é o melhor para cada um de nós. Cada pessoa funciona a partir de suas próprias lógicas, tem seus valores, seus pontos de vista, e por aí vai. Isso não é sentir-se superior a ninguém! É ser o que você é, e pronto! Mas podemos fazer tudo isso sem prejudicar uns aos outros!
A felicidade não é um substantivo concreto, eu sei, ele é abstrato, mas abstrações muitas vezes podem nos ajudar a segurar a onda em momentos nos quais as coisas estão desestruturadas. Quando as palavras e atos esperados não vêm. Mas ultimamente, desculpem a redundância, me enchi de coragem e estou encarando a realidade super que de frente!
Enfim, vou parar com a minha filosofia de botequim (essa sempre mais promissora se banhada a Heineken) , como o meu egocentrismo e resumir a história do filme. Apresento uma leitura muito rasa destacando elementos que mais chamaram a minha atenção, não me atendo aos aspectos estéticos.
Solange (Sônia Braga) é uma belíssima mulher de uma classe social abastada e casa-se com Carlos (Nuno Leal Maia). Sinceramente, antes de escrever este texto não fiz uma pesquisa sobre os trabalhos realizados até o momento a seu respeito, mas no meu ponto de vista acredito que ele seja merecedor de análises mais bem fundamentadas, pois aqui apresento uma leitura particular (a minha leitura, e apenas).
Em suma, Solange não consegue ter uma vida sexual normal com o seu marido, e procura reverter essa situação, busca conselhos com a mãe, a qual eu achei sensatíssima.
“Quem não pode se satisfazer com um homem pode se satisfazer com outro, ou com outros (...)!”
Nas conversas com seu excêntrico analista afirma que ama o marido. “O meu marido é tudo para mim!”. Mas que não consegue satisfazer-se com ele.
Eu esqueci de mencionar que o filme lida com essas questões por um víeis que tende a ser cômico, sem apelos profundos às reflexões sobre a conduta humana, e muito menos críticas ácidas, como as de Von Trier, mesmo sendo o filme a adaptação de um texto de Nelson Rodrigues. No entanto, ele não deixa de ser provocativo.
Provocativo porque Solange diante da vida sexual mal resolvida com o marido sai à procura de aventuras meramente sexuais, sem qualquer vínculo de afetividade. Ela, que acho que é uma heroína dos anos 70, por ser danadíssima e corajosa a esse ponto, busca realizações sexuais, algo impossível de conseguir com o marido. Ele a chama de fria. Mas vamos percebendo no decorrer do filme que de fria Solange não tem nada.
Sendo assim, ela sai à “caça” e delicia-se com suas “presas”, sortudas essas por sinal.
Carlos ao saber das “buscas” de sua esposa fica indignado e torna-se um “defunto vivo” e ela como sempre com seu figurino impecável – só que dessa vez um pretinho básico, vela pelo marido. Mas sem, é claro, parar de continuar aproveitando-se das limitações espaciais dos transportes coletivos.
O que mais me agradou nesse filme é a maneira como Nelson e Neville lindaram com a temática sexo por sexo, e pronto! E o melhor sendo a personagem uma mulher, e o melhor de tudo ainda de “família”, e não entre as garotas de programa, sendo elas de luxo ou não. Ainda sonho com o dia que elas sejam reconhecidas como profissionais por aqui, como já o fizeram alguns países da Europa, mas esse assunto deixo para uma outra oportunidade.
Eu sei que nem todas de nós somos tão “danadas” (uso o termo com uma conotação positiva), e não temos a mesma coragem e até mesmo a necessidade de Solange. Mas estamos no século XXI (não estamos?) Vamos buscar satisfação! Seja com um fiel e comparecedor parceiro, ou com quantos o nosso bel prazer achar necessário.
Cleonice Elias