Cidade de Deus, 2002



 
Foi uma honra ter sido convidada a escrever neste espaço. Fiquei tão contente e comovida quando Alex me chamou, que fiquei um pouco prostrada; não sabia com qual filme começar, se eu talvez devesse escrever sobre o meu filme favorito de todos os tempos, ou aquele com o meu ator predileto, ou o outro do diretor da minha vida, ou do filme que mais me fez chorar no universo, ou daquele um que me mata de rir. Fiquei com tanta dúvida, que demorei tanto tempo que dá até vergonha. 

Mas resolvi, finalmente, me pronunciar e escolhi um filme que tem um pouco de tudo isso que listei, e mais... 
Me lembro quando assisti Cidade de Deus na semana de estréia, no cinema. Eu saí tão absurdada da sessão que não sabia nem o rumo de casa. Quando finalmente consegui chegar no lar, a coitada da minha mãe precisou ficar um tempão ouvindo meus relatos apaixonados e um pouco exaltados sobre tudo aquilo que eu tinha acabado de presenciar.

Cidade de Deus é um filme lindo! E eu poderia acabar essa Impressão com essa frase, pois eu não saberia fazer um texto pomposo, científico e acadêmico gastando meu vocabulário cinematográfico pra descrever essa lindeza de 130 minutos.

Baseado num livro muito bom, o roteiro enxugou bem as histórias e a infinidade de personagens, e criou uma versão majestosa de uma história violenta, brava, feita de raiva, sangue e paixão. E pipocos, muitos pipocos. Mas antes de tudo, é um filme de atuações escandalosamente boas, que se tornam mais incríveis quando a gente se lembra que 90% dos atores que ali estão são pessoas comuns com um talento sobrenatural: meninos de várias comunidades do Rio de Janeiro que passaram por um treinamento intensivo de meses para retratar no glamour da telona aquela vida difícil que eles talvez tenham presenciado no seu cotidiano. No fim, esses meninos não estão apenas interpretando, eles se transformam naquelas personagens, eles são aquelas pessoas. E para eles, o roteiro não engessou nada: no extra sobre as filmagens, diretores e produtores deixam claro que o que vemos acontecer na nossa frente é um conjunto de improvisações que poucos atores consagrados conseguiriam segurar. Aliás, ator consagrado é o que Fernando Meirelles evitou a todo custo pra esse filme. Quando adquiriu os direitos do livro do Paulo Lins, ele chamou o até então desconhecido Matheus Nachtergale pra viver o Zé Pequeno. Dois anos depois, quando o filme começou a ser produzido, Nachtergale era um Global, reconhecidíssimo, com várias novelas e filmes no currículo.
Ótimo pra ele, péssimo pra ideia do Meirelles. Mas o ator pediu pra continuar no elenco e garantiu que faria o seu melhor pra passar despercebido. E ele passa brilhantemente despercebido em meio àqueles rostos iniciantes. E ainda bem pra nós que ele virou pop, porque deu a chance a Leandro Firmino da Hora de arrebatar nossos coraçõezinhos, atirando na nossa cara a interpretação mais incrível do planeta: Zé Pequeno é talvez a melhor personagem do universo todinho, e o ator mostra pra gente como aquele monstro horroroso assassino maluco é também só um menino perdido no mundo.

Além das interpretações excelentes, o filme carrega a edição mais comentada do mundinho cinematográfico. Daniel Rezende, indicado ao Oscar de Melhor Edição por esse filme, faz seu showzinho particular na estrutura do filme, com cortes ágeis e efeitos visuais lindos. Pra arrematar, uma trilha sonora forte e bonita, que só contribui para a construção da história e dos agentes dela.

Cidade de Deus fez seu aniversário de 10 anos no final de agosto. É considerado um dos melhores filmes já feitos em muitas listas especializadas em cinema pelo mundo; é até mesmo chamado de 'o melhor filme brasileiro de todos os tempos'. Nesses 10 anos, desde aquele dia em que eu saí abobalhada do cinema, eu assisti CDD incontáveis vezes, e o filme só foi crescendo na minha consideração. Comecei a enxergar cada vez mais coisas, a me emocionar mais, a chorar mais, a rir mais com coisas que a gente talvez nem devesse rir, a ficar mais encantada com a obra como um todo, a respeitar mais o trabalho do ator. Acho que isso demonstra o sucesso total de um projeto: quando a gente, tão distante de certas realidades, consegue se aproximar e se comover com coisas tão feias e tão violentas. Não acho que o filme glamourize a violência, acho só que a vida é dura como ela é. E mesmo assim, sangrenta e absurda, pode ser linda de se ver!

Talvez eu seja emocional e apaixonada demais pra fazer uma resenha cinematográfica, e com certeza eu não sei escrever um texto técnico, com uma linguagem burocrática e imparcial. E talvez eu não consiga terminar tudo isso sem um clichê, sem a referência máxima a essa belíssima produção: "Crítica é o caralho, issaqui é minha CineImpressão, porra!".
;)

Quéroul 

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+ comentários + 4 comentários

8 de setembro de 2012 às 15:47

Obrigado pela impressão, Quéroul!
Confesso que só vi esse filme umas 2 vezes, mas que ainda tenho cenas bem marcantes na memória. Não sei se ele saiu em blu-ray, vou dar uma olhada: esse vale pra ficar na coleção!

(E me deu vontade de assistir de novo, agora)

8 de setembro de 2012 às 15:50

Muito bom!! Aliás, bem melhor que aquele cara que escreveu o negócio do Batman - um dossiê que se preze precisa falar da feira da fruta, não?! rsrs

10 de setembro de 2012 às 14:03

Vou escrever um dôssie de 50 páginas sobre o Alien

10 de setembro de 2012 às 17:36

Escreva e mande. Caso seja aprovado pelos 3 pareceristas, publico aqui e vc coloca no currículo ;)

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