A Morte do Demônio, 2013.



Embora o cartaz diga que A Morte do Demônio será o filme mais aterrorizante que você já terá visto, isso não é 100% verdade. Mas chega muito perto! O remake do clássico de 1981 é um sopro de vida no gênero terror, que vem sendo sistematicamente destruído nos últimos anos com obras que: 1) são filmadas em primeira pessoa, com o estilo "documentário falso" inaugurado por A Bruxa de Blair, em 1999; 2) têm um grupo de amigos que vivem se divertindo e de repente são atacados por um maníaco; 3) exploram as figuras dos vampiros, lobisomens ou zumbis, mas de forma tão rasa que todos se tornam genéricos. Assim, é irônico que o novo A Morte do Demônio, uma releitura do original, seja o responsável por trazer novamente aos cinemas aquilo que os filmes de terror - na teoria - deveriam ter: o terror. Porém, antes de chegarmos em 2013, é necessário falar um pouco sobre o filme de 1981, The Evil Dead.


A Morte do Demônio original foi o filme que colocou o diretor Sam Raimi, de fato, no círculo de Hollywood. Isso não quer dizer que ele seja um excelente diretor, no entanto. Sua filmografia é bastante irregular, com filmes bem interessantes, como Darkman - Vingança sem Rosto e Um Plano Simples (1998), e a obra que, a meu ver, afundou a carreira de Raimi, apesar de ter gerado um lucro absurdo: a trilogia Homem-Aranha (2002 - 2007). Mais recentemente ele dirigiu o prelúdio de O Mágico de Oz (1939), o Oz: Mágico e Poderoso (2013), que de receber tantas críticas negativas me desanimou de ir assistir no cinema. Enfim, Sam Raimi não é o melhor cara de Hollywood, mas teve uma ideia bastante legal quando escreveu A Morte do Demônio em 1981, que acabou lhe rendendo o título de clássico do Terror. Existe, contudo, um paradoxo nesse consideração: o filme seria, realmente, um terror? Quem assiste sabe: não exatamente. A Morte do Demônio é um filme cômico, com algumas cenas bastante ridículas e um orçamento baixíssimo (US$ 375 mil) que acabou por render alguns dos efeitos especiais mais toscos já feitos em um filme de terror, com uso de bonecos e máscaras muito mal feitas. Porém, como eu disse, a ideia em si é muito boa, mesmo com um desenvolvimento ruim: um grupo de amigos vai passar férias em uma cabana abandonada próxima ao Tenesse quando acabam se deparando, no porão da residência, com o Necromicon, o Livro dos Mortos (uma referências bonita à obra de Lovecraft). Ao ler uma passagem do livro em algum dialeto/idioma antigo, o demônio é despertado na floresta e passa a tomar posse do corpo das pessoas da cabana, uma a uma. Com situações bizarras e muito sangue jorrado, o filme se desenvolve baseado na figura de Ash Williams, o querido ator-queixudo Bruce Campbell, que luta para sobreviver durante a madrugada na cabana. O filme é bastante engraçado, com atuações caricatas e maquiagens péssimas, porém, é necessário colocar o filme em seu contexto da década de 1980, quando os filmes que mais faziam sucesso eram as comédias (vide o número de clássicos dessa época que sempre assistimos com nostalgia): sempre bom lembrar que Peter Jackson também fez obras desse tipo, como Trash - Náusea Total (1987) e Fome Animal (1990).

Desde que começaram a surgir notícias sobre o remake de A Morte do Demônio, a minha preocupação era se Sam Raimi iria dirigir o filme. Para a felicidade de todos: não. Raimi apenas ficou na produção (junto com Campbell) e passou o bastão para o desconhecido uruguaio Fede Alvarez, que revitalizou a ideia de Raimi e nos entregou um grande filme de terror com um tempero a mais: o terror. Sim! Alvarez teve pulso firme e não se deixou intimidar pelo clássico que tinha em mãos e o melhorou completamente. Ainda há o grupo de amigos na cabana, mas agora existe uma profundidade maior na história: é contado o fato que levou o demônio a ficar atrelado à cabana, além de ser uma sutil metáfora sobre as dificuldades que viciados em drogas passam para se livrarem da doença (afinal, eles precisam se "libertar do demônio interno" que é esse problema). Mas o que realmente faz A Morte do Demônio um filme maravilhoso reside em seus dois pontos mais fortes: a fotografia e a violência exacerbada. O jogo de luzes nas cenas é muito bem trabalhado e logo na primeira cena já mostra a que veio, com neblinas na floresta que chegam a lembrar vagamente o Tarkovsky (não estou dizendo que é tão bom quanto, seria uma blasfêmia - apenas aponto para as semelhanças visuais), sem contar o mundo de pernas pro ar na estrada, quando o diretor opta por colocar a floresta no topo da tela e o céu embaixo. A violência, por sua vez, é aquilo que fará com que os mais sensíveis passem mal durante o filme: há muito sangue, muito desmembramento, muita aflição. Tudo o que nos faz rir no filme original agora é sério, realmente consegue mexer com o espectador. Os efeitos especiais de hoje em dia permitem que pessoas andem sem braços ou cortem as línguas ao meio, trazendo a mistura perfeita entre o terror e o horror. Contudo, nada supera a cena final: ela é a mostra perfeita do diálogo entre fotografia e cinema gore. Chove sangue e a cena externa ganha um belíssimo teor vermelho-alaranjado que se mistura com a cabana ao fundo e o demônio se arrastando: daria pra emoldurar e colocar na parede!

Com mudanças significativas no desenrolar da história - apesar de contar com algumas tomadas que são as mesmas do original - o remake de A Morte do Demônio traz um sorriso a quem adora o gênero e nos faz pensar se haverá também, tal como com o original, mais filmes sequenciais. Se não forem no estilo que o Sam Raimi dirigiu, tem tudo para fazer sucesso. A Morte do Demônio (2013) talvez seja o grande filme de terror dessa década: para a nossa sorte, temos, então, dois clássicos do terror para nos divertir.

Alex Martire



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