Blue Jasmine, 2013.



Quando o que parece perfeito desmorona

Já que a Cate Blanchett  recebeu da Academia o Oscar  de Melhor  Atriz neste ano de 2014, merecido sem dúvida, mas o páreo  estava duríssimo, cabe aqui  da minha parte deixar claro, se restam dúvidas com relação a isso, que todas elas  são maravilhosas. Amy Adams por Trapaça,  Sandra Bullock pelo badaladíssimo  Gravidade, o mais premiado desse ano, ganhando sete estatuetas, a maravilhosa e bota maravilhosa nisso Meryl  Streep por Álbum de Família, que já tem a sua pequena coleção particular de estatuetas do Oscar, e Judi Dech por Philomena.

Tenho que confessar  que nesse ano cometi um crime super capital: não consegui assistir a todos  os filmes indicados para a premiação antes de sua realização. Sabe como é: os afazeres do dia dia, as obrigações de uma adulta “responsável” às vezes impedem-me de ir ao cinema todas às vezes que bate a vontade, e olha que ela bate com certa frequência, mas eu os assistirei agora no conforto do meu lar.

Mas o Blue Jasmine (2013) eu assisti, lembro exatamente o dia, e as reações que esse filme causou-me. Não sei quanto tempo durará a minha permanência no meio da crítica cinematográfica, porque dificilmente algum filme me causa grande repúdio, grandes implicâncias. Mas que fique aqui só entre nós que não morri de amores por Trapaça, de David O. Russel: o seu filme anterior  O Lado Bom da Vida (2012) agradou-me muito mais, achei que ele encontrou uma fórmula eficaz para falar de durezas usando como principal recurso as sutilizas. Mas  voltando para Blue Jasmine, pois o Trapaça não é o filme que me motivou nessa segunda-feira de carnaval estar sentada em frente ao computador ao invés de estar curando-me de um ressaca ou de dores nas solas do pé por ter sambado ou dançado frevos a noite anterior inteira.

Esse, para quem é totalmente desinformado, é um dos muitos filmes de Woody Allen. Aqui não vou entrar nas discussões que voltaram a repercutir na imprensa internacional a respeito do seu envolvimento no passado com a sua enteada e os ressentimentos remanescentes de sua ex-esposa, que decidiu mais uma vez jogar a sujeira no ventilador, acho que como mulher consigo entendê-la, mas enfim, deixo assunto morrer por aqui. 

Talvez a maioria dos que lerem esse texto (espero que pelo menos alguém além de mim o leia) tenha assistido ao referido filme, porque Woody Allen ainda continua chamando/ levando o público ao cinema.

Em síntese, Cate Blanchett  interpreta Jasmine uma socialite falida e traída pelo marido Harold (Alec Baldwin),  que sem ter para onde ir vai morar no subúrbio de São Francisco  com a sua irmã adotada Ginger, interpretada por Sally Hawkins -  muito boa atriz por sinal, que em  nenhum  momento tem o seu brilho ofuscado pelo o da Cate Blanchett. Como podemos prever,   de socialite ela não tem nada, e por sinal tem uma personalidade e posturas diferentes de sua irmã Jasmine, mas as duas têm lá suas semelhanças; a principal delas: ambas  possuem uma vida amorosa um tanto quanto que mal resolvida, Ginger também tem um ex-marido.

 No entanto, ela  apesar de não ser refinada e ter um “mau gosto” para os homens é uma mulher mais pra frente, mais “bem resolvida” que Jasmine, que sofre de uma série de problemas psíquicos, que se encontra totalmente perdida  na vida, não apenas porque deixou de ser rica e porque deixou de ter uma “família perfeita” (uso aspas porque dentre outros problemas, a relação com filho é muito problemática no final do filme ficamos sabendo por qual motivo). Jasmine  passa por um momento de completa desestabilidade interna,  não saberia afirmar se ela sempre teve esse problema adormecido  dentro dela e os acontecimentos negativos fizeram com ele viesse à tona, a impedindo de seguir adiante e ter uma vida “normal”.

Então, Jasmine é esta mulher que apesar do sofrimento, da desestabilidade, continua bonita, interessando aos homens: o seu chefe, por exemplo, sem muito sucesso tenta umas investidas. Mas pelo que me parece, Jasmine meio que deixou de “ser mulher”, talvez eu não esteja utilizando a colocação mais adequada, mas eu quero simplesmente dizer que, apesar das insistências de sua irmã, que adora sair “caçando” homens, ela parece ter desistido de ter relacionamentos amorosos, apesar de ter ensaiado um romance com o charmoso Dwight, ela parece ter desistindo de sentir o que a vida tem para oferecer, mesmo que às vezes nesse oferecimento venham coisas não muito agradáveis. Afinal de contas viver é assim, às vezes um dia é sensacional e alguns outros um porre, um dureza total, mas com bem dizem os franceses  C’est la vie!

E é essa vida que Jasmine não consegue encarar, a não ser com sua coleção  de medicamentos psiquiátricos (os seus coquetéis)  confesso que mantenho uma grande resistência a eles, mas também reconheço que em determinados casos e para determinadas pessoas eles são necessários e podem ajudar muitas delas a voltarem a viver de forma mais saudável, de terem uma “normalidade” retomada em suas vidas. 

Woody Allen ao escrever e dirigir esse filme recusa a linearidade narrativa, nos primeiros minutos do filme conhecemos Jasmine já divorciada, e no seu decorrer  nos é revelado como era a sua relação com o marido, como ela desfrutava de sua luxuosa vida, há uma contraposição do que ela tinha desfrutado enquanto rica e o que no momento presente ela tem que “suportar” e  adequar-se. 

Tratando-se de gênero esse filme é categorizando como uma comédia dramática, eu particularmente em alguns momentos não me dou bem com categorias, por achar que elas às vezes não dão conta de expressar o que uma certa coisa ou certo evento significam ou significaram. Blue Jasmine, na minha leitura não se trata de um filme de superação, mas muito mais de enfrentamentos, de idas e recuos. Ela não consegue  desapegar-se de um passado, ela tem muito a dizer, mas não tem quem a escute. Acho que muitas de nós mulheres, até as que não são socialites falidas, temos algo de  Jasmine em nós, mas que diferente dela consigamos seguir adiante seja a base de “coquetéis”  ou simplesmente com a cara e a coragem enfrentando  o que a vida tiver que nos oferecer.



Cleonice Elias





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