Fausto, 2011.



O mais recente filme de Alexander Sokurov venceu o Festival de Veneza de 2011 e fechou a tetralogia de biografados (Hilter em "Moloch", Lenin em "Taurus", e Imperador Hirohito em "O Sol"). E, para mim, fechou com chave de ouro! Não apenas é o melhor - e mais consistente - filme da tetralogia, como também é o melhor filme do Sokurov que vi.

A história é uma releitura da obra de Goethe, o que já nos deixa um pouco mais à vontade: sabemos que a trama é sobre a relação entre o Diabo e o Doutor Fausto, e como o sujeito acaba vendendo sua alma para satisfazer seus desejos. No caso do filme de Sokurov, a vontade do doutor é a bela Margarete. Mas como nada é perfeito, Fausto vive quase na miséria e não tem dinheiro sequer para comer. Certo dia ele conhece Mauricio, o Mefistófeles, que o acolhe, lhe dá dinheiro e se torna seu amigo. Uma noite, porém, numa briga de bar, o irmão de Margarete é assassinado pelas mãos de Fausto e ambos (diabo e doutor) tentam esconder a verdade da pobre moça - mulher que Fausto, aos poucos, vai conquistando com mentiras e moedas de ouro. Obviamente, a felicidade tem um preço: para conseguir tudo, Fausto tem de assinar um contrato com o Diabo, cedendo-lhe a alma. E o filme segue, mostrando as consequências de se viver "marcado" por Mefistófeles.

Acho que esse é um dos filmes menos "complicados" de Sokurov. Não é necessário um grau alto de abstração para entendê-lo: os questionamentos sobre a vida e a morte, a carne e a alma, a pureza e a sujeira, a fome e a satisfação (entre outros) conseguem se resolver nos diálogos e imagens, sem requerer o uso de simbologias complexas. É claro que há, sim: por exemplo, a cena inicial é, literalmente, fálica, é a dependência de Fausto de seu pai, e depois do Diabo, e a dominação de Fausto sobre Margarete (que é passiva a tudo, inclusive ao seu destino). No meu caso, só consigo fazer associações simples como essas, mas tenho certeza de que qualquer pessoa com mais conhecimento de psicologia conseguirá extrair boas reflexões visuais do filme. Por sinal, que visual! Sokurov disse, na época em que ganhou o Festival, que seu diretor de fotografia era um gênio. Sim, Brunno Delbonnel beira ao absurdo da perfeição. É muito difícil traduzir em palavras o que "Fausto" mostra. Acho que esse é o filme mais lindo de Sokurov. As cores, as distorções, as claridades, os "borrões", tudo impecável. Sem contar que o filme parece um quadro em movimento: você pode pausá-lo a qualquer instante e terá um retrato que serviria muito bem para pendurar na parede da sala. Filmado na Espanha e na Islândia (o "inferno" é lá), a natureza tem um papel (como sempre nas obras do diretor) fundamental na estética e narração: o cuidado da equipe em selecionar os locais - e os tipos de tomadas - é incrível, nada está lá por acaso: tudo reforça o inferno pessoal de Fausto, uma pessoa que não consegue alcançar a felicidade nunca.

Como disse, "Fausto" é minha obra sokuroviana predileta (venceu "Arca Russa" em minha preferência)! E consegue ter um mérito ainda maior por não ser um de seus filmes que me deu sono: tudo aqui é fluido, mesmo em quase duas horas e quinze minutos de duração. Recomendadíssimo aos fãs do diretor, ou aos que pretendem se aventurar pela filmografia do Sokurov sem traumas.

Alex Martire




Share this article :

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2011. CineImpressões - All Rights Reserved
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger