O Pescador de Ilusões, 1991



Mais uma vez Terry Gilliam. 

"O Pescador de Ilusões" talvez seja um de seus filmes em que não há Fantasia tão escancarada, mas isso não quer dizer que ela não exista. Não, não. Ela é sutil aqui, mas é o que dá o tom "gilliamniano" à obra, ela é quem conduz o espectador pela mente do "louco" Parry, um cavaleiro saído dos romances medievais e que habita a Nova Iorque do século XX. Acho que, das obras de Gilliam, essa seja a que mais bate no assunto "redenção".

O filme gira em torno de Jack (Jeff Bridges), locutor famoso de rádio que, ao desdenhar de seus ouvintes, acaba sendo responsável indiretamente por um assassinato em massa ocorrido em um restaurante. Três anos depois, desempregado e falido, Jack trabalha numa vídeo-locadora com Anne, a dona e sua amante. Sua vida repleta de bebedeira toma novo rumo quando, numa tentativa de suicídio, é resgatado por Parry (Robin Williams), um mendigo que sonha encontrar o Santo Graal e que é apaixonado pela moça que trabalha em um prédio chique de NY, a Lydia. As vidas de Jack e Parry se tornam ainda mais próximas quando o ex-locutor descobre que a mulher de Parry havia sido assassinada naquele fatídico dia, três anos antes, levando o mendigo (ex-professor de universidade) à loucura. Tentando se redimir, Jack procura ajudar Parry a conquistar sua nova paixão.

Excetuando-se o Cavaleiro Vermelho, quase não há efeitos especiais nesse filme como os que estamos acostumados quando se trata de Terry Gilliam. Tudo aqui é praticamente diálogos e interpretações. Por sinal, que interpretações! Williams e Bridges dão um show, são brilhantes, e comoventes, em seus papéis. As atrizes que interpretam Anne e Lydia também não ficam atrás: cumprem muito bem o que devem fazer.

Mas o cerne do filme é o amor. É um filme sobre o amor, como ele pode nos levar à loucura e nos curar, como pode ser cruel e doce ao mesmo tempo, machucar e sarar. Não é apenas sobre o amor entre duas pessoas: o filme também procura retratar a visão estadunidense sobre os mendigos. Há uma cena muito bonita na estação de trens/metrô: um pedinte cadeirante está parado no canto, erguendo o copo de esmolas e recebendo as moedas dos transeuntes - um deles passa e joga a moeda fora do copo, Jack diz ao homem: "O imbecil sequer olhou no seu rosto", ao que o cadeirante responde: "Ele me paga para não me olhar". As cenas de paixão também são todas no estilo Gilliam: o jantar no restaurante chinês é muito engraçado e o monólogo de Lydia sobre como o amor vem e vai na vida da mulher - deixando-a sozinha - é de rir e chorar ao mesmo tempo, tamanha beleza e sinceridade nas palavras. Lydia, por sua vez, é uma personagem cativante: é difícil não se encantar com seu jeito atrapalhado, um jeito que casa tão bem com o de Parry!

Afora isso, as ressalvas de sempre: não é um filme para todos os públicos, mas os que sabem que o amor, sim, pode fazer com que as pessoas dancem na rua, esses irão sorrir com pequeninas lágrimas escorrendo nos cantos dos olhos. Tudo isso, graças a Terry Gilliam.

E como diz Anne a Jack em uma das cenas: "Duas pessoas podem se sentar de frente e nunca se verem... outras podem estar separadas, e nada as manterá longe".

Alex Martire


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