Impressões Recentes

A Conquista do Oeste, 1962.


Está aí um filme que é a prova de que várias histórias podem ser contadas por vários diretores e, mesmo assim, continuar a fazer sentido e, mais do que isso, ser extremamente agradável ao espectador. Também é um exemplo de que os egos podem ser deixados de lado quando se trabalha por algo maior: em A Conquista do Oeste temos 4 diretores atuando juntos, sendo 2 deles verdadeiros "monstros" do cinema bangue-bangue (ou western, se preferirem): John Ford - que dirigiu clássicos como No Tempo das Diligências (1939) e Rastros de Ódio (1956), e Henry Hathaway, que dirigiu um filme muito desconhecido e sem importância chamado Bravura Indômita (1969); também temos George Marshall - que dirigiu a série de TV Daniel Boone (1964-1970), e Richard Thorpe (não creditado nesse filme), diretor do Ivanhoé, o Vingador do Rei (1952). Convenhamos, não dava para A Conquista do Oeste ter sido um filme ruim!

Essa é uma obra que pode ser passada em salas de aula para turmas com mais idade, e em faculdades também. A Conquista do Oeste é um filme bastante didático e isso se deve, em grande parte, à narração que permeia todo o longa-metragem, "costurando" as histórias que compõe a película. São 5 episódios que dão conta do período estadunidense de expansão de suas fronteiras ocidentais. Todos eles estão interligados em uma figura, a Lillith Prescott (interpretada pela musa apaixonante Debbie Reynolds), uma das filhas do casal Prescott que, logo no começo do filme, abandona o leste para tentar uma vida melhor no oeste através do recém-construído Canal de Eire, que corta New York. As irmãs Prescott (Lillith e Eve) acabam por se separar logo após a morte dos pais no naufrágio da balsa que seguia pelo rio Hudson, ficando Eve no território onde os pais foram sepultados e casando-se com o aventureiro Linus Rawlings (James Stewart), e Lillith indo tentar a vida como cantora nesses barcos que faziam travessias. Numa das viagens, Lillith conhece o "canalha" Cleve Van Valen (Gregory Peck), por quem se apaixona e vai viver na California. O filme, então, faz um intervalo para retomar a história em seu segundo ato narrando a Guerra Civil da década de 1860 através dos olhos de Zeb Rawlings, filho mais velho de Eve e Linus. E é Zeb quem vai dominar toda essa segunda parte da obra, segmento que contém o maior número das cenas de ação. Também volta à narrativa Lillith, agora bastante envelhecida, que resolve passar um tempo com seu sobrinho Zeb e a família dele que, após enfrentar problemas com bandidos locais, retoma sua vida no Oeste.

Contando assim, parece meio confuso, eu sei. Mas não o é: os diretores estabelecem um ritmo narrativo brilhante, tornando suas 2h45 minutos de filme algo bastante fluido, prendendo a atenção. Existe sempre uma preocupação em contextualizar as histórias que aparecem na tela e isso é muito positivo: sendo assim, o filme não é apenas um drama americano mas, sim, episódios que nos ajudam a entender algo maior, a História dos EUA. Obviamente que temos de levar em conta o sentimento patriótico estadunidense que, não poderia ser diferente, está presente nesse filme, contudo, ele não é tão exacerbado: os índios, aqui, não são tratados como "vilões" - embora tendo um papel bastante reduzido, mostra-se a visão dos autóctones norte-americanos sendo prejudicados pela ganância do homem branco, e assim até mesmo se justifica a incrível sequência do estouro da manada de búfalos na última história: centenas de animais tomam a tela, devastando tudo, em uma cena belíssima e assustadora de se ver (e que se torna ainda mais impressionante quando sabemos que naquela época não havia recursos para se fazer tudo por computador). As paisagens, cabe ressaltar, são um espetáculo à parte: vê-las em blu-ray é como ter quadros na parede da sala, quase todo o filme tem tomadas amplas, que valorizam o cenário rústico do oeste estadunidense tomado à força dos mexicanos. Também é importante ressaltar que esse filme foi um dos poucos que utilizaram 3 câmeras ao mesmo tempo a fim de se captar toda essa amplitude paisagística e apresentá-la na tela curva do Cinerama na época. Recomendo vivamente a leitura deste artigo escrito por Adilson tavares Santos para o blog de um dos meus críticos de cinema favoritos, o Rubens Ewald Filho: nele há uma discussão mais técnica sobre os fundamentos desse tipo de filmagem.

Enfim, A Conquista do Oeste é um épico que precisa ser visto por todos que gostam de Cinema. É um grande filme! Envolvente, "classudo", com um elenco maravilhoso, é um daqueles filmes que dificilmente vemos acontecer hoje em dia. Pode ser visto como um drama ou como uma pequena aula de História, mas se torna um espetáculo mesmo quando juntamos as duas visões e reparamos como 4 diretores diferentes conseguem ligar suas ideias de forma brilhante. Obrigatório.

Alex Martire




Detona Ralph, 2012.



Todo ano é a mesma coisa: fico ansiosamente à espera das estreias das novas animações da Pixar e da Disney. Apesar de eu ter uma simpatia um pouquinho maior com a Pixar, o respeito que tenho pela Disney é monstruoso, afinal, praticamente toda a animação comercial nasceu no estúdio de Walt. Os Estúdios Disney foram os responsáveis por invenções tecnológicas que deram um salto de qualidade gigantesco no mundo do desenho animado: nas mãos dos desenhistas contratados por Walt praticamente surgiu toda a base da animação que temos até hoje (que digam Ollie Johnston e Frank Thomas que lançaram o calhamaço The Illusion of Life - referência obrigatória na animação), sem contar a técnica de profundidade de tela, que permitiu aos desenhos animados "entrarem" nos cenários sem a necessidade de redesenhar cada quadro separadamente, só para citar dois exemplos. A verdade é: Disney é Disney. Disney é sinônimo de qualidade. E, finalmente, Disney sabe como nos encantar.

Detona Ralph é o primeiro filme dirigido por Rich Moore para a Disney, um sujeito que já trabalhou no Futurama e nos Simpsons. E que esse sujeito dirija muitas, mas muitas mais animações! Detona Ralph é uma declaração de amor ao mundo dos vídeo-games. Com um trabalho respeitoso e profundo de estudo de todo o passado e presente dos jogos eletrônicos, o filme vai agradar em cheio quem tiver mais de 25 anos e viveu um pouco da Era 8 Bits. A história é muito divertida: Ralph é o vilão do jogo de fliperama "Conserta Felix", tendo como papel destruir um prédio repleto de moradores, porém, o jogador assume a pele do Felix Jr., um personagem bastante feliz (afinal, ele é o mocinho do jogo) que tem por objetivo consertar tudo o que Ralph detona. Certo dia, porém, Ralph tendo se cansado de ser um vilão, pois nunca é valorizado, sai pelo mundo dos jogos que habitam o fliperama em busca de uma medalha, para provar a todos que também pode ter importância. Entre um jogo e outro, Ralph acaba entrando no game "Sugar Rush", onde conhece a garotinha Vanellope, um bug que deseja participar da corrida que dá sentido ao jogo. A partir daí, voltamos ao velho esquema dos desenhos animados das grandes produtoras: há todo um drama de se auto-reconhecer  e se aceitar como verdadeiramente se é. Mas isso não prejudica o filme, que acaba de modo bem interessante.

Porém, aquilo que realmente arranca sorrisos - e lágrimas de felicidade - dos espectadores é o estudo pormenorizado que a Disney fez do mundo dos games. Fabuloso, é possível encontrar em cada canto da tela uma referência a algum jogo! Tem de ficar atento e, com isso, garantir ainda mais prazer dessa obra, que é uma das melhores animações já lançadas nos últimos anos. Quando Vanellope tilta e é perguntada se ela é um bug no sistema, a garota responde: "Não sou um bug, sofro de pixelação". Incrível! Ou quando Felix Jr, personagem 8 Bits, conhece a Sargento Calhoun, uma personagem dum jogo desses atuais de tiro, e lhe diz: "O seu rosto... Nossa, isso que é alta definição!". Ou então quando o Rei Doce precisa entrar em seu cofre e tem de colocar a senha num controle de NES: "Direita, Esquerda, Cima, Baixo, Baixo, A, B". Poxa, a Disney arranca sorrisos de quem viveu isso! Sem contar a movimentação dos personagens: os residentes do prédio que o Ralph detona, todos, têm uma movimentação mais "mecânica", como se faltassem frames entre uma key e outra: fantástico!

Enfim, Detona Ralph vai agradar a todos, isso é fato. Mas irá agradar ainda mais quem entende de vídeo-games e passou por toda essa evolução de bits até os dias de hoje. Assista sem medo. E assista novamente, e de novo, e de novo: Detona Ralph merece que cada detalhe seja descoberto pelos amantes dos jogos eletrônicos!

Obs: Como sempre, há um curta-metragem antes do início do filme principal. Dessa vez, foi O Avião de Papel. Reparem que belo é esse filme! Feito de maneira tradicional e em P&B (algo extremamente ousado), a história é de uma ternura incrível: acredito que seja, ao menos, indicada ao Oscar 2013, junto com o "filé" Detona Ralph.

Alex Martire


Os Melhores e os Piores de 2012.



É com grande satisfação que anunciamos a nossa lista de Melhores e Piores de 2012!

Uma lista modesta, é verdade, assim como a intenção deste blog: não somos críticos profissionais e adentramos nesse barco mais pela paixão pela Sétima Arte do que qualquer outra coisa. Como repararam ao longo do ano, não fazemos "resenhas" mas, sim, damos nossas impressões. Cada colaborador a sua maneira: vocês viram, então, impressões curtas ou longas, apaixonadas ou repletas de raiva, levadas pela emoção ou pela razão, menos técnicas ou mais descritivas etc. 

O blog começou com uma ideia que não foi minha mas, sim, de uma amiga portuguesa, a Cláudia, que um dia, ao ler as opiniões que eu postava no facebook sobre os filmes, me disse: "Tu deverias criar um espaço para publicá-las" - assim nasceu o CineImpressões! No começo foi apenas eu e minhas impressões foram um tanto cruas, como puderam perceber. Porém, passando os meses, fui tomando mais gosto por escrevê-las, graças aos comentários que recebia no facebook e aqui no blog. Chamei, então, meu amigo Leonardo Branco, pessoa que admiro muito e que, assim como eu, ama o Cinema. Sabia que o Leo era muito bom para escrever e tinha uma capacidade de analisar os filmes mais tecnicamente, algo que não sei fazer: foi uma decisão acertada! O Leonardo, desde então, tem contribuído com o blog com suas impressões irretocáveis. A Carol Kess (ou Quéroul, como queiram) é a colaboradora caçula do CineImpressões. Colega de profissão arqueológica, eu sempre ficava de olho em suas postagens no facebook sobre os filmes que ela assistia. Gostei tanto que a chamei para participar. Mesmo contribuindo esse ano com apenas uma impressão, vocês puderam ver que a Carol é pura emoção! E isso é algo que valorizo bastante nas pessoas quando elas escrevem. Tenho certeza de que 2013 será ainda melhor, com mais colaborações e mais filmes assistidos. Não alcançamos a marca de 100 impressões esse ano devido às muitas coisas paralelas que fazemos e por isso pedimos desculpas, pois nem sempre podemos postar aqui no blog com a frequência desejada.

Porém, o saldo de 2012 foi bastante positivo! Por favor, sintam-se pessoalmente agradecidos cada um de vocês que leram nossas impressões (tendo gostado ou não, é claro)!

Sem mais delongas, vamos às listas de Melhores e Piores de 2012. Nosso balizamento,  como verão, não é muito rígido: optamos por listar filmes que foram lançados nos cinemas durante 2012 em qualquer lugar do mundo e também filmes que só chegaram aos cinemas (ou foram lançados em dvd/blu-ray) brasileiros neste ano. Como seria muito difícil nós chegarmos a um consenso sobre uma lista única, preferimos, cada um, criar a sua própria. O resultado vocês verão logo abaixo.

Muito obrigado em nome da equipe CineImpressões, e um excelente 2013 a todos!



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Gostar de muitos filmes é bem fácil. E prazeroso. Mas quando precisamos elencar os favoritos a coisa complica demais. O que torna um filme melhor do que o outro? O que aconteceu para eu gostar mais de algumas coisas do que de outras? Vou ser sincero: não existe uma explicação lógica para mim, apenas posso afirmar que gostos variam com os contextos. Esse ano não foi diferente: cada um dos filmes listados abaixo foi assistido em épocas diferentes, com emoções diferentes. Numa época mais apaixonada, eu gostava de ver filmes de romance, e me encantava com eles. Quando estava estudando um pouco mais sobre o mundo dos games, acabei me deparando com um documentário sobre eles. E quando estive em uma fase mais triste acabei por gostar de filmes mais violentos ou que mostram o descrédito na tal “natureza humana”. No fim, acho que cinema é isso: um despertar de sensações; é algo sinestésico. Obviamente, levo em consideração roteiros bem feitos, a beleza da fotografia e mais algumas coisas que só conheço superficialmente, mas não torno isso algo principal. Cinema, como toda arte, não é algo tão racional para quem vê: devemos deixar essa preocupação sobre a construção para os artistas. Para a gente, cabe assistir e deixar que algo nos atinja: e esse algo, que vem rapidamente em 24 (ou 48) fotografias passando a cada segundo é quem, no fim, irá cochichar em nossos ouvidos “isso é bom” ou “ah, que pena...”. 

Por isso, muitos dos filmes a seguir podem ser amados por muitos e odiados por mais tantos. Faltaram filmes na lista, é claro. Por mim, daria para elencar uns 20 filmes facilmente, mas aí não teria de me esforçar e fazer aquele exercício mental de comparar as obras e ver o que, realmente, mereceu destaque para mim. Mais do que tudo, Cinema é questão de gosto. Abaixo, eu apenas elenco os meus. Espero que sirva para despertar a curiosidade de vocês.




1º - A Caça (Thomas Vinterberg). Seria impossível esse filme não constar na minha lista e, mais do que isso, não encabeçá-la. Tudo nessa obra-prima do Vinterberg é impecável, tornando-a um dos melhores filmes não apenas de 2012, mas que já vi na vida. O desenvolvimento da história de como uma pequena mentira se torna um grande problema na vida do professor da escola infantil é absolutamente sublime. Todas as salvas de palmas do mundo para Vinterberg e sua A Caça!

2º - O Morro dos Ventos Uivantes (Andrea Arnold). A obra de Emily Bronte ganhou sua melhor adaptação aqui. E a mais ousada também. Fotografia exuberante, atores fantásticos, um roteiro fabuloso: a história de Heathcliff e Cathy se realimenta e fornece um filme necessário de ser visto. Só não ficou em primeiro lugar, porque tenho uma queda por filmes mais violentos e escandinavos. (Lançado diretamente em home vídeo no Brasil)

3º -  Pietà (Kim Ki-duk). Mexendo com o cristianismo, novamente o cinema coreano engata um filme fantástico. O capitalismo consumindo almas e jogando tudo na lama. A vingança nunca foi tão doce.

4º - Indie Game: The Movie (Lisanne Pajot & James Swirsky). Gosto de documentários, mas geralmente eles não despertam muitos sentimentos em mim. Não foi o caso desse belo filme sobre a indústria independente de jogos eletrônicos: aliando sonhos de pessoas comuns com seus fracassos e suas vitórias, o filme é aconselhável não apenas para quem, assim como eu, é viciado em games.

5º - Uma Vida Melhor (Chris Weitz). Sensível e respeitoso: só assim posso definir esse maravilhoso filme que, infelizmente, não chegou às salas de cinema brasileiras, indo diretamente para o dvd e blu-ray, não ganhando o reconhecimento merecido. A interpretação do mexicano Demián Bichir não deve nada aos “grandes” astros e sustenta um dos melhores filmes sobre preconceito que já assisti.

Menções honrosasO Amante da Rainha (Nikolaj Arcel) é um dos mais prazerosos romances de época que já vi. Foi muito difícil ter de “cortá-lo” da lista principal, então cabe a ele uma menção honrosa. Mesclando de forma perfeita a política com o romance, essa obra dinamarquesa que se passa no século XVIII é simplesmente primorosa. Também cabe aqui uma medalha para Rebelle (Kim Nguyen) por seu magnífico trabalho mostrando os horrores da guerra na África subsaariana através dos olhos de uma jovem raptada. Um filme simples, mas extremamente competente e que emociona. Outro que merece uma menção honrosa é Valente, a nova animação da Pixar. Já mereceria uma menção só pelo desenvolvimento dos cabelos ruivos da Merida, mas o filme vai muito mais além, e nos mostra um pouco da Escócia celta de um modo descontraído. Vejam a versão legendada, pois ela muda totalmente o modo de assistir ao filme graças aos sotaques britânicos diferentes. Por fim, a ode ao amor pelos jogos criada pela Disney em Detona Ralph (Rich Moore) merece estar lado a lado com a animação da Pixar: todos com 25 anos ou mais se apaixonarão pelo filme, que explora de maneira inteligentíssima esse mundo tão vasto dos games.


1º - Sudoeste (Eduardo Nunes). Um típico representante de filmes de “arte”: arrastado, pretende dizer mais do que realmente diz. A fotografia é bonita, digo isso. Mas quando um ateu começa a rezar para que o filme (tortura) acabe logo, boa coisa não é. Não apenas um dos piores de 2012, um dos piores que já tive o desprazer de ver até hoje.

2º - O Artista (Michel Hazanavicius). Por favor, deixem o cinema mudo para os Lumière e o Méliès, para o Chaplin e o Buster Keaton! Não destruam a beleza do cinema mudo com uma obra que, ao tentar homenagear os primórdios do cinema, emula de forma errônea a beleza de antigamente. Uma lástima.

3º - A Viagem (Irmãos Wachowski & Tom Tykwer). Os Wachowski devem um filme bom desde o primeiro Matrix (1999). Não foi dessa vez. São quase 3 horas insuportáveis de narrativas que se pretendem profundas, mas são mais rasas do que um pires. 

4º - Sombras da Noite (Tim Burton). Houve uma época em que falar de Tim Burton era quase sinônimo de qualidade. Hoje em dia eu temo toda vez que escuto algo sobre algum filme novo dele. Horrível. Só não perde pro Alice no País das Maravilhas (2010) por que é humanamente e cinematograficamente impossível!

5º - Batman – O Cavaleiro das Trevas Renasce (Christopher Nolan) /O Hobbit – Uma Jornada Inesperada (Peter Jackson). Não dava pra escolher só um. É impossível. Ambos os filmes são cópias de seus antecessores. No caso do Batman, uma cópia da primeira história; no caso do Hobbit, uma cópia descarada do Senhor dos Anéis. Deveria existir uma lei proibindo que filmes ruins tivessem mais do que 1 hora e 20 minutos de duração. Paguei meus pecados no cinema assistindo a eles.

1 - Dredd (Pete Travis)
2 - Os Mercenários 2 (Simon West)
3 - Amour (Michael Haneke)
4 - Fausto (Aleksandr Sokurov)
5 - Vovó Lo-Fi (Ingibjörg Birgisdóttir, Orri Jonsson, Kristín Björk Kristjánsdóttir)

O filme do juiz Dredd foi, de longe, o melhor filme de herói do ano! Principalmente se levarmos em consideração coisas abomináveis como Os Vingadores e O Espetacular Homem-Aranha. Fiquei surpreso com um filme que pouco foi mencionado na mídia: a opção por transformar a obra em um survival foi acertada e diverte demais. Há muito tempo eu não via um filme de herói que me empolgasse: Dredd fez isso.

Os Mercenários 2 talvez tenha sido o filme de 2012 que eu mais saí com um sorriso estampado no rosto. Divertidíssimo! Confesso que não esperava muito, mas enquanto assistia dava pra ver claramente que havia superado o primeiro filme. Ver meus “heróis” de infância e adolescência todos reunidos na telona, com suas frases de efeito típicas, foi maravilhoso. Há dias em que não queremos coisas complicadas de assistir, apenas diversão: Os Mercenários 2 fornece isso de modo excelente.

Tenho lá meus problemas com o Haneke, mas em Amour ele me encantou. Com interpretações estonteantes do casal de velhinhos, a história um tanto batida ganha novos contornos, sendo uma boa pedida a todos que gostam de cinema.

Sokurov geralmente me faz dormir. Ele é o tipo de diretor que faz filmes que eu digo: “É ruim, mas é bom”. Não vi sua obra toda, mas Fausto, certamente, é sua obra-prima. Ganha por pouco do Arca Russa (2002), mas precisa ser visto algumas vezes para decifrar todo o seu conteúdo. Coisa que eu ainda não fiz.

O curto documentário islandês Vovó Lo-Fi é bem leve. Muito gratificante saber que não há idade para se correr atrás dos sonhos. Mesmo não sendo impactante, simpatizei tanto com essa pequenina pérola que ela merece estar entre as surpresas do ano.


1 - Batman – O Cavaleiro das Trevas (Christopher Nolan)
2 - Lincoln (Steven Spielberg)

Eu adorei os dois primeiros filmes do morcego dirigidos pelo Nolan. Eu contava os dias para o terceiro filme, fazia propagandas para os meus amigos, enfim, eu estava ansioso! Mas aí estreou e o sonho afundou: saí do cinema me sentindo ofendido com tamanha preguiça do diretor em explorar o universo do Batman sem ter de recontar a mesma coisa do primeiro filme.

Spielberg já foi bom. Há uns 20 anos, mais ou menos (embora Tintim tenha ficado legal). Mas o que ele fez com Lincoln é um absurdo: 2h20min de lengalenga política calcada em diálogos extremamente ufanistas. Somente os estadunidenses vão gostar desse filme. Nem o Daniel Day-Lewis consegue salvar o barco! Filme feito para concorrer ao Oscar mas que, espero sinceramente, não ganhe nada. 




Somente uma promessa. Ano em que tem filme de Terrence Malick não precisa de mais nenhum outro. To The Wonder é a obra que conto meses, dias e horas para assistir em abril. Quando Malick se manifesta, o resto do cinema se cala e se envergonha. Ele tem tudo para transcender o fim do Cinema que impôs com A Árvore da Vida (2011). Desde já, ele encabeça a minha lista de melhor filme de 2013.



Dos filmes que vi esse ano, mas que não foram lançados nele, destaco dois que se tornaram os meus preferidos de todos os tempos. O primeiro é O Crepúsculo dos Deuses, obra fundamental de Billy Wilder que é considerado um dos grandes filmes noir já feitos. Dificilmente quem assiste irá esquecer a personagem Norman Desmond (vivida por Gloria Swanson, musa do cinema mudo) e sua loucura para voltar ao estrelato em Hollywood. Do mesmo ano, o filme que desbancou O Crepúsculo dos Deuses no Oscar de 1951 e só fez reafirmar a importância de Bette Davis na história do cinema, A Malvada, dirigido por Joseph L. Mankiewicz. Encantador, o filme, de um modo muito singelo, mostra como as mulheres conseguem o que querem de seus homens. 

Também recomendo dois documentários. O primeiro é Terry Pratchett: Chosing to Die (2011), filme que faz uma interessante discussão sobre o direito à morte assistida – o autor Terry Pratchett viaja à Suíça para pesquisar um grupo que ajuda doentes cientes de que não irão se curar a por fim à própria vida: um documentário muito delicado, que nos põe a pensar. Por fim, um documentário italiano belíssimo que foi apresentado esse ano na II Mostra Audiovisual Internacional em Arqueologia na Universidade de São Paulo: Herculaneum – Diários de Trevas e Luz (2007). O documentário foi exibido em caráter de homenagem, uma vez que seu diretor, o jovem Marcellino de Baggis faleceu em 2011. Para quem gosta de História e Arqueologia, é um prato cheio! Aliando uma narrativa visual maravilhosa de tomadas de Herculano com um voice over vindo diretamente dos diários do estudioso Amedeo Maiuri, o filme é um exemplo de como documentários históricos não precisam seguir um roteiro fraco e previsível. Uma grande obra.




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Desempenho medíocre não só na contribuição pro blog, mas também nas idas ao cinema. Depois de fazer meu lindo top, descubro que a maior parte dos filmes é de 2011, embora alguns lançados no Brasil em 2012.

Isso vale, produção?


Meu critério pra melhor filme é bem diferente da maioria dos cinéfilos: quantia de lágrimas/nível de enxaqueca.

Filme bom pra mim é aquele que quebra minhas pernas, me adoece, e me faz lembrar dele pra sempre.

1º - Sete Dias com Marilyn (Simon Curtis). Michelle Williams linda e perfeita, merecia Oscar. Chorei até por esse desrespeito da Academia...

2º - Precisamos Falar sobre o Kevin (Lynne Ramsay). Não é o melhor filme do mundo, começa arrastado e só engata mais pra frente. Mas é lindo, tem a Tilda (mais um choro pelo desrespeito acadêmico oscariano), e no fim, precisei de alguns analgésicos.

3º - A Árvore da Vida (Terrence Malick). Credo. Precisei de muitos dias pra me recompor. Depois, não tive coragem de ver nem os 3 minutos que o Alex usou na defesa de mestrado dele. 

4º - Marighella (Isa Grinspum Ferraz). Saí do cinema dando pt, sem conseguir falar pelos próximos vinte e cinco minutos. 

5º - Deus da Carnificina (Roman Polanski). Combo diretor + elenco forte no meu coração. Tem umas falhas (beijos, Jodie Foster), mas eu gostei demais. E eu quase chorei lagriminhas de filme-quase-perfeito. 

Menção honrosa: Drive (Nicolas Winding Refn). 97% de tela para Ryan Gosling. Precisa outra explicação?


1º, 2º, 3º - Cavalo de Guerra (Steven Spielberg). Tenha dó, Spielberg! Tem filme que vai crescendo pra gente quanto mais distante ficamos dele. Esse foi crescendo em desgosto... Cada vez que me lembro das dezessete horas de vida que eu perdi vendo isso, fico com mais bronca. Spielbleargh já fez filme de guerra melhor, e filme de bicho melhor. Aqui ele juntou tudo, e olha só que porcaria!!!

4º - Millenium - Os homens que não amavam as mulheres (David Fincher). Blé. Fácil, a primeira hora cinematográfica mais legal do ano. Fácil, a segunda pior metade de um filme jamais feito! É tão ruim depois que um carro lá explode que eu fiquei com raiva, e só de me lembrar, dá vontade de dar o segundo lugar pra ele, e voltar com o Cavalinho nas posições 3 e 4.

5º - Tropicália (Marcelo Machado). Torturante. Documentário é meu gênero preferido de filme. Esse aqui é uma colagem videoclíptica só pra ficar tocando MPB. Claro que influencia o fato de eu detestar MPB, Caetanos & amigos. Mas se o doc é bom, eu sei diferenciar. Este não é. Perderam a chance de fazer algo bacana pra quem não conhece (ou tá pouco ligando pra) a Tropicália; preferiram fazer mais uma ode ao maravilhoso grupo mais chato de todos os tempos...


Holy Motors (Leos Carax). Não sei por que eu quis assistir. Quase desisti quando li uma opinião bem ruim de um ‘guru’ de cinema. Fui mesmo assim, e olha... Achei lindo demais, e quase chorei um monte!


Não chega a ser assim, uma decepçããão, mas acho que eu gostei bem menos de Elefante Blanco (Pablo Trapero) do que gostaria. Tudo que eu mais amo, junto: Darín, Trapero, Gusman. Aí foi fuém! Triste isso...



Ando esperando três filmes: Gangster Squad (Ruben Fleischer), só por causa do elenco; The Nynphomaniac (Lars von Trier) e Django Unchained (Quentin Tarantino), só porque são dois dos meus diretores preferidos, e eu meique vejo tudo deles.

Mas promessa mesmo pra 2013 é: vou participar direitinho do blog! :)



Coisinha fofa do coração, vi num dia, sem querer, no Canal Futura: Ce pas Moi, Je le Jure! (Phillipe Falardeau) (2008), daqueles filmes que o ator mirim é um achado, que a gente ri sem parar de diversas situações, mas que na verdade, é um filme dolorido que só.

De roteirinho mais raso, mas uma graça de amor, fofura & afins: Amorosa Soledad (Martin Carranza, Victoria Galardi). E eu acabei de descobrir que lança no Brasil em 2013, demodosque pode até ir pro tópico “Promessas”.

E um filme lindo e atemporal: Johnny Got His Gun (Dalton Trumbo) (1971). Pra quem conhece as cenas apenas pelo vídeo One, do Metallica, uma experiência incrível sobre humanidade em tempos de guerra, nem um pouco sombrio como o clipe dá a entender... Delicado e cuidadoso com nosso coraçãozinho. Nível de chororô bem alto!



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Eu, que nunca fui muito afeito a critérios competitivos, acho que o melhor das listas é o quanto elas homenageiam as diferenças. Uma lista nunca é igual à outra e, se for, pode apostar que os motivos certamente serão diferentes. Uma de suas funções é justamente a de propiciar o debate, de levar a alguém uma visão crítica, o produto de uma reflexão. Fazer uma lista, portanto, é colocar à prova os seus argumentos, os seus pontos de vista, mas também é a sugestão de um caminho, de uma experiência: é afirmar que há mais a se dizer de um filme do que as sensações que ele provocou, ou se ele é bom ou ruim.

E, evidentemente, as listas colaboram também com a função pragmática de ajudar a selecionar: o IMDB registra o lançamento de mais de 20 mil produções audiovisuais/ano – um ser humano que assistisse uma obra por dia levaria mais de 50 anos para ver o que a humanidade produziu em apenas um ano.

Preferi o recorte de 2012 para todas as categorias, assim entendidos os filmes lançados neste ano no Brasil (ainda que produzidos no ano anterior), ou filmes ainda não lançados oficialmente, mas aos quais tive acesso, seja por meio de festivais, mostras, amigos ou Internet. Não discriminei brasileiros de estrangeiros, nem ficção de documentário – talvez esta distinção não nos diga muito. Todos da lista são “longas” – a exceção é um curta de Tsai Ming-Liang de 20 minutos que não poderia ficar de fora: discute, justamente, o tempo.

E o que você tem a dizer sobre 2012? Foi o ano em que morreu Carlos Reichenbach, causando comoção no meio cinéfilo de São Paulo – só vim a conhecer parte de sua obra (Alma corsária e Filme demência) depois disso. Morreu também Octavio Getino, co-autor, com Pino Solanas, de La Hora de los Hornos, marco do “tercer cine” e um filme particularmente marcante para mim. Morreram ainda neste ano o diretor grego Theo Angelopoulos e a atriz Sylvia Kristel, a eterna Emmanuelle, que eu e boa parte dos garotos da minha geração conhecemos, adolescentes, nas reprises sem fim do extinto Cine Privê, que assistíamos em um segredo mal disfarçado de nossos pais na Rede Bandeirantes de televisão.

Foi também o ano da primeira Mostra Internacional de Cinema de São Paulo sem seu criador, Leon Cakoff. Neste ponto, cabe perguntar, não sem certo espanto: como pode um evento deste porte girar em torno de uma só pessoa, a ponto de sua morte causar o temor do fim da própria Mostra? Pois creio que não se cogita que o festival de Veneza ou de Cannes possa eventualmente terminar devido à morte de quem quer que seja.

Contudo, apesar de esdrúxulo, não é impossível de ocorrer o fim da Mostra paulistana: vale lembrar que neste ano assistimos, estarrecidos, à extinção do Festival de Paulínia (o coração do outrora chamado “polo cinematográfico” brasileiro), fruto de desavenças políticas extremamente provincianas que beiraram a improbidade. Pouco se falou a respeito. Talvez devamos cogitar que estes eventos sejam sintomas, na verdade, da ausência de uma política cinematográfica. Basta recordar os infelizes comentários de nossa então Ministra da Cultura acerca do Cinema Marginal quando da morte de Reichenbach.

Foi também o ano da tragédia do Colorado, em que mais uma vez se testemunhou um lado extremamente obscuro da alma americana. E foi o ano da excepcional Mostra Bergman nos Centros Culturais do Banco do Brasil em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. E, como se vê, também o ano em que se produziram filmes de uma extrema qualidade: arrevoada de vaga-lumes que passou ao lado dos potentes e caros holofotes dos blockbusters.

Última observação: neste ano de 2012, o Irã de Ahmadinejad parece ter saído da moda, mas Jafar Panahi continua preso e proibido de fazer filmes.





1º - Fausto (Alexander Sokurov). Merece lugar central, pois eu o assisti no começo do ano e ele continua povoando meu imaginário até agora: é, para mim, o apogeu da quadrilogia e o melhor filme que vi até agora deste prolífico diretor, que aprendeu a esculpir e entalhar o tempo na oficina de Tarkoviski.

2º - Amour (Michael Haneke). É tão cruel quanto belo e aconchegante. Ali estão os nossos medos, mas somos obrigados a encará-los com serenidade: a aspereza poética e delicada da vida e da condição humana.

3º - L'Apollonide (Bertrand Bonello). Assisti no começo de 2012, e desde então, ele apenas cresceu na minha memória. Bonello faz sua melhor obra em um momento em que a França rediscute a prostituição de rua e a regulamentação da atividade. É um dos filmes mais marcantes que já vi. 

4º - Pietà (Kim Ki-duk). É um ótimo momento de Ki-duk, que recebeu o Leão de Ouro com uma simpática cantiga. A propósito, só o cartaz de divulgação do filme já mereceria um prêmio independente do filme.

5º - César deve morrer (Paolo Taviani e Vittorio Taviani). O filme dos irmãos Taviani foi uma grande surpresa para mim: filmar Shakespeare sem o fardo de filmar um Shakespeare e ainda conseguir recriá-lo para os dias de hoje sem, para isso, precisar alterar o texto. 

Menções honrosas: Menções honrosas que bem poderiam, sem problema algum, estar entre os cinco acima: Um alguém apaixonado, de Abbas Kiarostami, que se passa no Japão contemporâneo, No, de Pablo Larraín, que se passa no Chile de Pinochet, e Tabu, de Miguel Gomes, um filme com narrador, um pensamento sobre os influxos da colonização e, sobretudo, não mais sobre a Aurora, mas sobre a ideia da decadência de quem se transtorna por aquilo que causou: um filme crepuscular.


1º - Primeiro dia de um ano qualquer (Domingos Oliveira). Filmes simplesmente ruins ou preguiçosos, como o de Domingos de Oliveira, que mereceriam ser completamente ignorados, mas que, por algum motivo insondável, foram selecionados para a inflada Mostra de São Paulo. Ele estar ali, aliás, é a prova da inflação e do exagero. Por isso mesmo, pelo crédito a ele conferido, ele encabeça a lista no lugar do filme de Joffily, que bem merecia estar lá.

2º - E Aí, Comeu? (Filipe Joffily). Chamado por alguns de marco da retomada das chanchadas (meramente comercial, ruim, preconceituoso e não-reflexivo?).

3º - Cavalo de Guerra (Steven Spielberg). Precisei abrir uma exceção para esse filme - não gosto de Spielberg já há bastante tempo, mas neste caso ele e o John Willians romperam todos os limites e transformaram milhões de dólares em algo incrivelmente ruim de doer.

4º - O último dançarino de Mao (Bruce Beresford). É o tipo de filme que se preocupa unicamente em reforçar preconceitos e não em refletir sobre o que quer que seja, transformando um argumento inicial interessante em um amontoado de clichês conservadores (não só no quesito político, mas também de linguagem cinematográfica).

5º - We came home (Ariana Delawari). Chapa branca, empolgado e pouco reflexivo. Fica por último por ter o mérito de explorar uma perspectiva bastante rica e singular da relação entre Estados Unidos e Afeganistão, mas por mera conveniência, e não por acuidade crítica ou sensibilidade poética.




1 - Holy Motors (Leos Carax)
2 - Cosmópolis (David Cronenberg)
3 - A Caça (Thomas Vinterberg)
4 - Violeta foi para o Céu (Andrés Wood)
5 - Girimunho (Helvécio Marins e Clarissa Campolina)
6 - Villegas (Gonzalo Tobal)
7 - Transpapa (Sarah Judith Mettke)
8 - Em Outro País (Hong Sang-Soo)
9 - Os Descendentes (Alexander Payne)
10 - Sequestro (Tobias Lindholm)

Há filmes que por algum acaso cósmico são lançados próximos uns dos outros e que não desgrudam dentro de nossa cabeça, como aconteceu com a dupla Malick/Von Trier em 2011 e que acontece com Cronenberg/Leos Carax neste ano. São filmes que no limite não têm muito a ver um com o outro, mas que, não se sabe exatamente por quais motivos, andam de mãos dadas em nosso íntimo. Estes são dois filmes que, cada qual a seu modo, rendem muita discussão e que dividem os críticos – exatamente como a dupla do ano passado.

Eu, particularmente, gostei de ambos e bem poderia tê-los colocado na lista de “melhores filmes de 2012” sem grandes problemas. Mas são estranhos (estranhíssimos) e Holy Motors especialmente obriga a ler sobre ele, a polemizar; quem sai da sala está confuso, ávido por um interlocutor que o ajude a encontrar pontos mínimos de apoio para abordar o que acabou de ver. Talvez Carax force um pouco a barra nos simbolismos e a obrigação de fazer de tudo uma metáfora seja um tiro pela culatra. Assim como a dupla do ano passado, creio que vão render muita tinta e muitos bits ainda, e talvez aqui resida grande parte do seu mérito. Se me perguntassem neste exato momento sobre minhas preferências, eu responderia que tenho uma acentuada inclinação à dupla de 2011.

Nos demais casos, salvo Os Descendentes, que me saiu melhor que a encomenda, considerei como "surpresas" filmes que assisti "desprevenido": sem nada ter lido antes sobre eles, ou cujos diretores ou roteiros eu simplesmente desconhecia, e que me surpreenderam positivamente.

Entre eles, cabe destaque a Girimunho, um pequeno e assustador prodígio do cinema brasileiro lançado neste ano em algumas poucas salas quase em silêncio, como um segredo.

Se pudesse estender a lista um pouco mais, aí estaria Shun Li e o Poeta, de Andrea Segre, pela sua delicadeza – não esperava muito dele e sai com uma sensação boa da sessão. E também um pequeno tesouro, de apenas 20 minutos, o Walker, de Tsai Ming-Liang, uma fábula meditativa sobre o tempo e sobre a alma.

Sequestro é um filme que deve ser visto com uma boa dose de cautela crítica: realmente saí surpreso da sala, pois prendi a respiração mais de uma vez e me coloquei na pele do CEO da empresa – de outro lado, em nenhum momento sabemos qualquer coisa sobre a realidade dos piratas, de onde vêm, o que farão com o dinheiro, como se relacionam. Nada: são apenas piratas modernos, só isso, e o que se deseja é que eles morram todos, bárbaros incivilizados incompatíveis com o mundo de hoje. É um filme que mostra um lado do sequestro com muita competência, mas um lado só: o drama do mais forte.





1 - Eu ouviria as piores notícias dos seus lindos lábios (Beto Brant)
2 - On the road (Walter Sales)
3 - Argo (Ben Affleck)
4 - Infância Clandestina (Benjamín Ávila)
5 - Prometheus (Ridley Scott)

Só causa decepção aquilo que provoca expectativa – ademais, não achei ruim nenhum destes aí acima. O filme de Beto Brant, pelo contrário, é um filme quase ótimo, e merece ser visto - mas com problemas sérios de decupagem. As dificuldades de transpor a narrativa do romance à linguagem cinematográfica ficaram bem evidentes, o que acabou deixando muitas pontas soltas e não resolvidas.

Por outro lado, o filme de Walter Sales é muito bom, muito bonito, mas achei que faltou nele espírito. É um filme objetivo, tecnicamente exímio, mas que não afeta a alma – faltou nele um pouco de anarquia, de contradição, de sujeira.

Já Ben Affleck teve um argumento fenomenal, estruturou muito bem o roteiro, teve momentos ótimos, mas ficou devendo para algo que poderia ter sido um grande filme – não sei se acabou se levando a sério demais, se exagerou em dar um ar de “thriller” à obra, talvez preocupado com público e bilheteria, ou se perdeu o foco da narrativa. Mas sai da sala com a impressão de que foi quase, e de que poderia ter sido muito mais. 

Com Infância Clandestina talvez eu é que tenha ido com expectativas demais, sabendo que seria o indicado da Argentina ao Oscar. Ele tem pontos fortes, sobretudo nas animações, ou no argumento, que seria capaz de dar novo fôlego a um tema já tantas vezes visitado pelo cinema recente, que é a perspectiva da resistência às ditaduras latino-americanas. Mas logo lembrei que o tema não era assim tão novo, e fiquei com o brasileiro “O ano em que meus pais saíram de férias”, de 2006, na cabeça – mas nada que desanimasse também. O começo do filme empolga, traz informações ricas e arma o cenário, mas logo depois tudo foi ficando arrastado, previsível, açucarado, caricatural e repetitivo. E o final é como uma confirmação do vaticínio da avó chorosa, o que soou um tanto contraditório com relação à linha que o roteiro seguia. Repiso que é uma boa obra: talvez eu é que tenha ido com sede demais ao pote.

Tanto Peter Jackson com seu hobbit como Ridley Scott com seu space jockey decepcionaram neste ano ao trazer filmes bons, com méritos e com excelentes qualidades (e inovações), mas inferiores às criaturas originais que eles pariram anos antes.

Outras observações: quanto a O Palhaço, quero dizer que há decepção também – não quanto ao filme, que é ok, mas quanto à recepção tanto do público como de parte da crítica, que parece tê-lo exaltado em excesso. Outra decepção do ano foi com Tim Burton, e dupla: tanto com Sombras da Noite como com Frankenweenie. E, claro, com The Dark Knight Rises: Christopher Nolan encerrou a sua trilogia com um filme não apenas extremamente conservador, mas simplesmente ruim.

A decepção maior, porém, é com relação à distribuição dos filmes. Não raros foram os momentos em que mais da metade das salas brasileiras estavam ocupadas com blockbusters sob o argumento de que “se acaso existe procura, deve haver demanda”. Não há como haver procura de filmes a que não se tem acesso, e a prática corrente contraria frontalmente a Constituição brasileira (arts. 24 e 215, sobretudo).




1 - To The Wonder (Terrence Malick)
2 - O Som ao Redor (Kléber Mendonça Filho)
3 - Stoker (Park Chan-wook)
4 - The Master (Paul Thomas Anderson)
5 - Zero Dark Thirty (Kathryn Bigelow)
6 - The Nymphomaniac (Lars Von Trier)
7 - O Grande Gatsby (Baz Luhrmann)
8 - Rebelle (Kim Nguyen)
9 - Gravity (Alfonso Cuarón)
10 - Ferrugem e Osso (Jacques Audiard)

Acontece que 2013 promete muito e também caberia destaque para Canção para meu pai, de Amos Gitai, Twixt, de Francis Ford Coppola, Eu e Você, de Bernardo Bertolucci , Sangue do Meu Sangue, de João Canijo, La bela addormentata, de Marco Bellocchio, Los amantes pasajeros, de Pedro Almodóvar, ou, já entre os gêneros mais comerciais, Byzantium, o novo filme de Neil Jordan, o diretor de Entrevista com o vampiro.

Como trekker confesso e inveterado, desnecessário dizer o quanto espero o próximo filme do J.J. Abrams. Além do divertidíssimo Machete Kills, do Robert Rodriguez, a continuação do Hobbit, do Peter Jackson, e o Hitchcock, de Sacha Gervasi. Quentin Tarantino avisou que Django Unchained, que estreia em 2013, é o meio de uma trilogia, que começou com Bastardos Inglórios (2009) e que terminará com Killer Crow, o que postergaria um eventual “Kill Bill 3”. Outro que tem ganhado muitos prêmios mundo afora é o Colegas, de Marcelo Galvão, que estreia somente em março de 2013 no Brasil.





4:44 – Last day on Earth (Abel Ferrara)
A parte dos anjos (Ken Loach) 
Raul, o Início, o Fim e o Meio (Walter Carvalho) 
Sudoeste (Eduardo Nunes)
Uma bala para o Che (Gabriela Guilhermo)
La noche de enfrente (Raúl Ruiz)
Uma longa viagem (Lucia Murat)
O gebo e a sombra (Manoel de Oliveira)
Trabalhar cansa (Juliana Rojas e Marco Dutra)
Shame (Steve McQueen)
O guia pervertido do cinema (Sophie Fiennes)
O guia pervertido da ideologia (Sophie Fiennes)
Sete dias com Marylin (Simon Curtis)
Shameless (Filip Marczewski)
Into the Abyss (Werner Herzog)
A febre do rato (Claudio Assis)
O riso dos outros (Pedro Arantes)
Infância Clandestina (Benjamín Ávila)
Habemus Papam (Nanni Moretti)
O Porto (Aki Kaurismaki)
A delicadeza do amor (David Foenkinos)
Aqui É o Meu Lugar (Paolo Sorrentino)
Xingu (Cao Hamburguer)
As aventuras de Pi (Ang Lee)
O Amante da Rainha (Nikolaj Arcel)

Estes são alguns filmes que me chamaram atenção neste ano, cada qual por um motivo diferente. Destaque para o eco-zen-cataclísmico 4:44 Last Day on Earth, de Abel Ferrara, que discute o relacionamento íntimo de um casal em um contexto bastante peculiar que, por acaso, é o fim do mundo, com data, hora e minutos para acabar – peculiaridade que coloca em primeiro plano a espiritualidade e o existencialismo, temas caros ao diretor.

Apesar de gostar, acho que os filmes centrados no filósofo esloveno Slavoj Žižek têm sido recebidos com certo furor - principalmente o guia sobre o cinema, que repisa uma forma de análise que me parece ser excessivamente psicanalítica. Apesar de uma abordagem como esta ser sedutora e cair como uma luva em casos como Psicose, ela realmente não me agrada na medida em que esvazia o debate histórico. O que não acontece, por exemplo, no filme de Ken Loach, que escancara, entre uma e outra dose de whisky, os ventos da crise européia – e, por que não dizer, conhecendo as posições do diretor, do próprio capitalismo. É uma quase-comédia que vale a pena ser vista.

Não coloquei aqui Os intocáveis, de Olivier Nakache e Eric Toledano, pois não me convenceu (e não decepcionou, pois vi sem esperar nada mesmo). É um filme-fórmula, estrategicamente estruturado para dar certo, como um big mac, porém falado em francês. Como no Discurso do rei (que, à falta de francês, tem sotaque britânico), tudo tem por alvo o espectador – apenas para ficar no básico: um personagem ranzinza com um problema sério, um segundo personagem, carismático, deslocado e “mais do povo” com o qual o primeiro tem empatia, contrariando seus pares. Os dois passam juntos por uma série de dificuldades, constroem uma amizade, falam besteira juntos, rompem protocolos sociais, a um dado momento se afastam um do outro, e depois se reaproximam; é uma história de superação, mas nem todos os problemas são resolvidos porque a vida é assim. E tudo baseado em fatos reais e temperado com ótimos atores. Porque todo mundo gosta de big mac – ou será que não?

Há neste repertório pequenas pérolas, como o último filme de Raúl Ruiz, falecido em 2011 - uma obra que não é (nada) fácil de ser digerida, mas que paga em dobro ao espectador paciente. Quanto a O Amante da Rainha, de Nikolaj Arcel, um roteiro consistente narra um capítulo da história política da corte dinamarquesa do ponto de vista da rainha, que incorpora o ideário iluminista de seu amante, um médico alemão que se torna uma espécie de “eminência parda” do rei; pesa contra ele o fato de exagerar o foco da trama no romance, tornando tudo um pouco arrastado, resultando em um bom filme, mas um tanto quanto convencional.

Não coloquei aqui Para Roma, com amor porque Wood Allen é aquela coisa: sei que não é o melhor diretor do mundo, como ele mesmo diz, e este filme em especial nem ficou aquela maravilha, mas é algo que eu pelo menos espero todo ano para ver simplesmente porque me diverte, e torço para que ele continue fazendo filmes por muitos anos. E há nesta lista filmes bem levinhos, que simplesmente fazem bem, como o de Foenkinos.

Rebelle, 2012.


Rebelle - ou War Witch, como ficou nomeado em inglês - é o candidato ao Oscar 2013 pelo Canadá e foi escrito e dirigido por Kim Nguyen. Guardem bem esse nome: Kim Nguyen. Embora tenha dirigido outros filmes, que não vi, acho que daqui pra frente tem tudo para decolar. Competência tem de sobra: Rebelle é um dos grandes filmes de 2012 e torço para que fique entre os 5 finalistas estrangeiros ao Oscar (se não houvesse essa nítida separação, até acredito que poderia ficar entre os 10 candidatos a Melhor Filme).

Rebelle não é um filme fácil. Não me refiro a um roteiro complexo, cheio de reviravoltas e essas coisas: o filme tem uma história que se pode acompanhar sem maiores complicações. Mas Rebelle é uma obra que machuca profundamente. E ela se torna ainda pior quando analisada fora das telonas: recentemente, durante o Festival de Toronto, Kim Nguyen recebeu a notícia de que seu filme não seria distribuído no Japão, pois, segundo os responsáveis, "atores negros em papeis de destaque não vendem". Mais informações podem ser lidas aqui. Sendo assim, além de encarar as dificuldades para se fazer um filme (que todos os filmes naturalmente enfrentam), Kim Nguyen ainda tem de encarar o racismo que estupidamente ainda está enraizado na sociedade. Espero que as pessoas consigam ver a qualidade dessa obra quando (e se) chegar aos cinemas de todo o mundo: somente o boca a boca vai tornar essa bela obra cada vez mais importante e fazer com que ela conquiste seu merecido espaço. 

O filme  toma uma decisão acertada que é a de não dar nome ao país que serve de base para o desenrolar da história: Kim Nguyen, assim, nos mostra que o horror da guerra civil está presente em muitas nações africanas sub-saarianas. Logo no início somos apresentados à Komona (extremamente bem interpretada por  Rachel Mwanza), uma garota de 12 anos que, em voice over, começa a contar ao filho que está em seu ventre a sua própria história: a história de como se tornou um soldado rebelde. Sua aldeia foi invadida pelos rebeldes um dia e os jovens foram todos capturados. Komona, também sendo pega, é obrigada a assassinar os próprios pais com um fuzil, e isso vai ser aquilo que amarrará toda a trama do filme. Logo Komona se descobre uma bruxa quando é obrigada a beber a seiva de uma árvore específica e começa a ver fantasmas - esses fantasmas acabam sempre por alertá-la onde estão os soldados do governo, salvando, assim, muitos rebeldes da morte. Komona, uma bruxa de guerra, cai nas graças do líder dos rebeldes, Grande Tigre, e no coração de Mago (Serge Kanyinda), um jovem guerrilheiro que sempre anda com ela. Um dia, ambos decidem fugir dos horrores da guerra e partem para longe do acampamento, porém, os horrores estão por toda a parte e irão seguir Komona por toda a sua vida. Há uma reviravolta na trama que não vou contar aqui, mas que é muito representativa das dificuldades pelas quais passam os países em guerras civis. Komona, então, não pode fugir de sua vida, por pior que seja.

Rebelle é um filme triste, não dá pra negar. Mas assim também é a vida de quem vive em meio à guerra. O que também não se deve esquecer é que o filme é falado em francês e, grande parte da culpa de os países africanos estarem nas condições que estão atualmente, é, sim, da colonização européia dos séculos XIX e XX. Rebelle não é um filme com uma fotografia estonteante ou efeitos especiais de ponta: essa não é a intenção da obra. É um filme "simples" em seus intentos. E justamente nessa simplicidade está toda a sua beleza, por mais dolorida que seja.

Alex Martire



Kon-Tiki, 2012.



O candidato norueguês ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é esse simpático filme que foge das montanhas geladas da Escandinávia para enfrentar o terrível calor do Pacífico. Kon-Tiki é dirigido pela dupla Joachim Rønning e Espen Sandberg, que já trabalharam juntos no ótimo Max Manus, de 2008. A história do filme, para mim, era totalmente desconhecida até então. E Kon-Tiki fez justamente aguçar minha curiosidade.

O filme é um recorte na biografia de Thor Heyerdahl, famosa figura na Noruega e, como pude perceber graças ao que assisti, no mundo também. Thor Heyerdahl foi o responsável por provar que as ondas de migração para a Polinésia ocorreram não da Ásia (como era defendido até então), mas, sim, da América do Sul, mais precisamente do Peru: em outras palavras, os polinésios são descendentes dos incas, chegando ao território há cerca de 1500 anos. Etnógrafo, Heyerdahl viveu pela Polinésia por 10 anos com sua primeira esposa, Liv, antes de retornar à Noruega em meados da década de 1940. Durante sua permanência na Polinésia, Thor Heyerdahl ouviu de seus habitantes que os ancestrais polinésios haviam vindo do leste, ou seja, da América, seguindo sempre o Sol, personificado na figura do deus Kon-Tiki (deus-sol), ou Viracocha, como também era conhecido entre os incas. Crendo que a tradição oral de um povo conta mais do que os "achismos" acadêmicos europeus e norte-americanos da época,  Thor Heyerdahl vai ao Peru procurar financiamento para uma grande aventura: atravessar o Pacífico em uma balsa, tal como fizeram os primeiros habitantes da Polinésia. Obviamente todos acham que ele é louco, mas a verdade é que Heyerdahl não só conseguiu o financiamento do governo peruano como também arrumou alguns poucos colegas noruegueses e suecos como tripulação. Em 1947, eles partem de Callao, no Peru, rumo a uma viagem de 100 dias até a chegada na Polinésia. Tendo como transporte a balsa construída nos mesmos moldes de quase 15 séculos antes, sem o auxílio da modernidade. E é nessa viagem que praticamente todo o filme é centrado.

E que filme! Apenas 6 atores e uma balsa navegando pelas correntezas do Pacífico são suficientes para segurar todos os seus 120 minutos. A força da obra está na mistura correta de diálogos que prendem a atenção (sem cair em termos demasiadamente técnicos ou querendo dar aulas de antropologia aos espectadores) com cenas de pura adrenalina, como o ataque dos tubarões (sem contar a belíssima e tocante aparição das baleias). O elenco segura o filme, mas é inegável que o foco está em Thor Heyerdahl, interpretado por Pål Sverre Valheim Hagen de modo brilhante. Heyerdahl é a alma da equipe, ele é quem está apostando todo o seu futuro em um sonho e, a todo o momento, pede à tripulação que tenha fé nos polinésios, pois eles fizeram isso muito antes e conseguiram. É muito lindo ver como essa persistência de Heyerdahl vai se desenrolando, sem jamais vacilar, crendo que sua tese poderia mudar aquilo que fora feito até então (e também é de cortar o coração a cena em que ele aparece chorando em seu quarto num hotel de NY após ter sido humilhado por um editor ao mostrar suas ideias). Difícil não se emocionar já o fim do filme, quando vemos em seus olhos a satisfação de realizar seu sonho tendo passado por tantas dificuldades com seus colegas ao mar. E se as águas do oceano são salgadas, o filme acaba em um tom um tanto amargo, com a carta de sua esposa Liv, mas que reforça o caráter daquele homem que colocou sempre sua pesquisa e suas ideias à frente de qualquer outra coisa na vida.

Sinceramente, embora seja um belo filme e uma ótima lição pessoal (e antropológica), Kon-Tiki não deve ganhar a estatueta caso fique entre os 5 escolhidos para concorrer ao Oscar. Vale a pena assisti-lo para se divertir, mas falta-lhe um pouco mais daquele "peso" que os filmes vencedores desse prêmio geralmente têm.  Todavia, a Noruega conseguiu fazer uma linda homenagem a um personagem histórico seu e, principalmente, vai despertar a curiosidade de muitos espectadores para lerem a obra homônima que Thor Heyerdahl escreveu. (Sem contar a grande vontade que me deixou para ver o documentário original que fizeram durante a expedição, filme que levou o Oscar nessa categoria em 1951.)

Alex Martire



 
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