A Conquista do Oeste, 1962.


Está aí um filme que é a prova de que várias histórias podem ser contadas por vários diretores e, mesmo assim, continuar a fazer sentido e, mais do que isso, ser extremamente agradável ao espectador. Também é um exemplo de que os egos podem ser deixados de lado quando se trabalha por algo maior: em A Conquista do Oeste temos 4 diretores atuando juntos, sendo 2 deles verdadeiros "monstros" do cinema bangue-bangue (ou western, se preferirem): John Ford - que dirigiu clássicos como No Tempo das Diligências (1939) e Rastros de Ódio (1956), e Henry Hathaway, que dirigiu um filme muito desconhecido e sem importância chamado Bravura Indômita (1969); também temos George Marshall - que dirigiu a série de TV Daniel Boone (1964-1970), e Richard Thorpe (não creditado nesse filme), diretor do Ivanhoé, o Vingador do Rei (1952). Convenhamos, não dava para A Conquista do Oeste ter sido um filme ruim!

Essa é uma obra que pode ser passada em salas de aula para turmas com mais idade, e em faculdades também. A Conquista do Oeste é um filme bastante didático e isso se deve, em grande parte, à narração que permeia todo o longa-metragem, "costurando" as histórias que compõe a película. São 5 episódios que dão conta do período estadunidense de expansão de suas fronteiras ocidentais. Todos eles estão interligados em uma figura, a Lillith Prescott (interpretada pela musa apaixonante Debbie Reynolds), uma das filhas do casal Prescott que, logo no começo do filme, abandona o leste para tentar uma vida melhor no oeste através do recém-construído Canal de Eire, que corta New York. As irmãs Prescott (Lillith e Eve) acabam por se separar logo após a morte dos pais no naufrágio da balsa que seguia pelo rio Hudson, ficando Eve no território onde os pais foram sepultados e casando-se com o aventureiro Linus Rawlings (James Stewart), e Lillith indo tentar a vida como cantora nesses barcos que faziam travessias. Numa das viagens, Lillith conhece o "canalha" Cleve Van Valen (Gregory Peck), por quem se apaixona e vai viver na California. O filme, então, faz um intervalo para retomar a história em seu segundo ato narrando a Guerra Civil da década de 1860 através dos olhos de Zeb Rawlings, filho mais velho de Eve e Linus. E é Zeb quem vai dominar toda essa segunda parte da obra, segmento que contém o maior número das cenas de ação. Também volta à narrativa Lillith, agora bastante envelhecida, que resolve passar um tempo com seu sobrinho Zeb e a família dele que, após enfrentar problemas com bandidos locais, retoma sua vida no Oeste.

Contando assim, parece meio confuso, eu sei. Mas não o é: os diretores estabelecem um ritmo narrativo brilhante, tornando suas 2h45 minutos de filme algo bastante fluido, prendendo a atenção. Existe sempre uma preocupação em contextualizar as histórias que aparecem na tela e isso é muito positivo: sendo assim, o filme não é apenas um drama americano mas, sim, episódios que nos ajudam a entender algo maior, a História dos EUA. Obviamente que temos de levar em conta o sentimento patriótico estadunidense que, não poderia ser diferente, está presente nesse filme, contudo, ele não é tão exacerbado: os índios, aqui, não são tratados como "vilões" - embora tendo um papel bastante reduzido, mostra-se a visão dos autóctones norte-americanos sendo prejudicados pela ganância do homem branco, e assim até mesmo se justifica a incrível sequência do estouro da manada de búfalos na última história: centenas de animais tomam a tela, devastando tudo, em uma cena belíssima e assustadora de se ver (e que se torna ainda mais impressionante quando sabemos que naquela época não havia recursos para se fazer tudo por computador). As paisagens, cabe ressaltar, são um espetáculo à parte: vê-las em blu-ray é como ter quadros na parede da sala, quase todo o filme tem tomadas amplas, que valorizam o cenário rústico do oeste estadunidense tomado à força dos mexicanos. Também é importante ressaltar que esse filme foi um dos poucos que utilizaram 3 câmeras ao mesmo tempo a fim de se captar toda essa amplitude paisagística e apresentá-la na tela curva do Cinerama na época. Recomendo vivamente a leitura deste artigo escrito por Adilson tavares Santos para o blog de um dos meus críticos de cinema favoritos, o Rubens Ewald Filho: nele há uma discussão mais técnica sobre os fundamentos desse tipo de filmagem.

Enfim, A Conquista do Oeste é um épico que precisa ser visto por todos que gostam de Cinema. É um grande filme! Envolvente, "classudo", com um elenco maravilhoso, é um daqueles filmes que dificilmente vemos acontecer hoje em dia. Pode ser visto como um drama ou como uma pequena aula de História, mas se torna um espetáculo mesmo quando juntamos as duas visões e reparamos como 4 diretores diferentes conseguem ligar suas ideias de forma brilhante. Obrigatório.

Alex Martire




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