Rebelle, 2012.


Rebelle - ou War Witch, como ficou nomeado em inglês - é o candidato ao Oscar 2013 pelo Canadá e foi escrito e dirigido por Kim Nguyen. Guardem bem esse nome: Kim Nguyen. Embora tenha dirigido outros filmes, que não vi, acho que daqui pra frente tem tudo para decolar. Competência tem de sobra: Rebelle é um dos grandes filmes de 2012 e torço para que fique entre os 5 finalistas estrangeiros ao Oscar (se não houvesse essa nítida separação, até acredito que poderia ficar entre os 10 candidatos a Melhor Filme).

Rebelle não é um filme fácil. Não me refiro a um roteiro complexo, cheio de reviravoltas e essas coisas: o filme tem uma história que se pode acompanhar sem maiores complicações. Mas Rebelle é uma obra que machuca profundamente. E ela se torna ainda pior quando analisada fora das telonas: recentemente, durante o Festival de Toronto, Kim Nguyen recebeu a notícia de que seu filme não seria distribuído no Japão, pois, segundo os responsáveis, "atores negros em papeis de destaque não vendem". Mais informações podem ser lidas aqui. Sendo assim, além de encarar as dificuldades para se fazer um filme (que todos os filmes naturalmente enfrentam), Kim Nguyen ainda tem de encarar o racismo que estupidamente ainda está enraizado na sociedade. Espero que as pessoas consigam ver a qualidade dessa obra quando (e se) chegar aos cinemas de todo o mundo: somente o boca a boca vai tornar essa bela obra cada vez mais importante e fazer com que ela conquiste seu merecido espaço. 

O filme  toma uma decisão acertada que é a de não dar nome ao país que serve de base para o desenrolar da história: Kim Nguyen, assim, nos mostra que o horror da guerra civil está presente em muitas nações africanas sub-saarianas. Logo no início somos apresentados à Komona (extremamente bem interpretada por  Rachel Mwanza), uma garota de 12 anos que, em voice over, começa a contar ao filho que está em seu ventre a sua própria história: a história de como se tornou um soldado rebelde. Sua aldeia foi invadida pelos rebeldes um dia e os jovens foram todos capturados. Komona, também sendo pega, é obrigada a assassinar os próprios pais com um fuzil, e isso vai ser aquilo que amarrará toda a trama do filme. Logo Komona se descobre uma bruxa quando é obrigada a beber a seiva de uma árvore específica e começa a ver fantasmas - esses fantasmas acabam sempre por alertá-la onde estão os soldados do governo, salvando, assim, muitos rebeldes da morte. Komona, uma bruxa de guerra, cai nas graças do líder dos rebeldes, Grande Tigre, e no coração de Mago (Serge Kanyinda), um jovem guerrilheiro que sempre anda com ela. Um dia, ambos decidem fugir dos horrores da guerra e partem para longe do acampamento, porém, os horrores estão por toda a parte e irão seguir Komona por toda a sua vida. Há uma reviravolta na trama que não vou contar aqui, mas que é muito representativa das dificuldades pelas quais passam os países em guerras civis. Komona, então, não pode fugir de sua vida, por pior que seja.

Rebelle é um filme triste, não dá pra negar. Mas assim também é a vida de quem vive em meio à guerra. O que também não se deve esquecer é que o filme é falado em francês e, grande parte da culpa de os países africanos estarem nas condições que estão atualmente, é, sim, da colonização européia dos séculos XIX e XX. Rebelle não é um filme com uma fotografia estonteante ou efeitos especiais de ponta: essa não é a intenção da obra. É um filme "simples" em seus intentos. E justamente nessa simplicidade está toda a sua beleza, por mais dolorida que seja.

Alex Martire



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