Kon-Tiki, 2012.



O candidato norueguês ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é esse simpático filme que foge das montanhas geladas da Escandinávia para enfrentar o terrível calor do Pacífico. Kon-Tiki é dirigido pela dupla Joachim Rønning e Espen Sandberg, que já trabalharam juntos no ótimo Max Manus, de 2008. A história do filme, para mim, era totalmente desconhecida até então. E Kon-Tiki fez justamente aguçar minha curiosidade.

O filme é um recorte na biografia de Thor Heyerdahl, famosa figura na Noruega e, como pude perceber graças ao que assisti, no mundo também. Thor Heyerdahl foi o responsável por provar que as ondas de migração para a Polinésia ocorreram não da Ásia (como era defendido até então), mas, sim, da América do Sul, mais precisamente do Peru: em outras palavras, os polinésios são descendentes dos incas, chegando ao território há cerca de 1500 anos. Etnógrafo, Heyerdahl viveu pela Polinésia por 10 anos com sua primeira esposa, Liv, antes de retornar à Noruega em meados da década de 1940. Durante sua permanência na Polinésia, Thor Heyerdahl ouviu de seus habitantes que os ancestrais polinésios haviam vindo do leste, ou seja, da América, seguindo sempre o Sol, personificado na figura do deus Kon-Tiki (deus-sol), ou Viracocha, como também era conhecido entre os incas. Crendo que a tradição oral de um povo conta mais do que os "achismos" acadêmicos europeus e norte-americanos da época,  Thor Heyerdahl vai ao Peru procurar financiamento para uma grande aventura: atravessar o Pacífico em uma balsa, tal como fizeram os primeiros habitantes da Polinésia. Obviamente todos acham que ele é louco, mas a verdade é que Heyerdahl não só conseguiu o financiamento do governo peruano como também arrumou alguns poucos colegas noruegueses e suecos como tripulação. Em 1947, eles partem de Callao, no Peru, rumo a uma viagem de 100 dias até a chegada na Polinésia. Tendo como transporte a balsa construída nos mesmos moldes de quase 15 séculos antes, sem o auxílio da modernidade. E é nessa viagem que praticamente todo o filme é centrado.

E que filme! Apenas 6 atores e uma balsa navegando pelas correntezas do Pacífico são suficientes para segurar todos os seus 120 minutos. A força da obra está na mistura correta de diálogos que prendem a atenção (sem cair em termos demasiadamente técnicos ou querendo dar aulas de antropologia aos espectadores) com cenas de pura adrenalina, como o ataque dos tubarões (sem contar a belíssima e tocante aparição das baleias). O elenco segura o filme, mas é inegável que o foco está em Thor Heyerdahl, interpretado por Pål Sverre Valheim Hagen de modo brilhante. Heyerdahl é a alma da equipe, ele é quem está apostando todo o seu futuro em um sonho e, a todo o momento, pede à tripulação que tenha fé nos polinésios, pois eles fizeram isso muito antes e conseguiram. É muito lindo ver como essa persistência de Heyerdahl vai se desenrolando, sem jamais vacilar, crendo que sua tese poderia mudar aquilo que fora feito até então (e também é de cortar o coração a cena em que ele aparece chorando em seu quarto num hotel de NY após ter sido humilhado por um editor ao mostrar suas ideias). Difícil não se emocionar já o fim do filme, quando vemos em seus olhos a satisfação de realizar seu sonho tendo passado por tantas dificuldades com seus colegas ao mar. E se as águas do oceano são salgadas, o filme acaba em um tom um tanto amargo, com a carta de sua esposa Liv, mas que reforça o caráter daquele homem que colocou sempre sua pesquisa e suas ideias à frente de qualquer outra coisa na vida.

Sinceramente, embora seja um belo filme e uma ótima lição pessoal (e antropológica), Kon-Tiki não deve ganhar a estatueta caso fique entre os 5 escolhidos para concorrer ao Oscar. Vale a pena assisti-lo para se divertir, mas falta-lhe um pouco mais daquele "peso" que os filmes vencedores desse prêmio geralmente têm.  Todavia, a Noruega conseguiu fazer uma linda homenagem a um personagem histórico seu e, principalmente, vai despertar a curiosidade de muitos espectadores para lerem a obra homônima que Thor Heyerdahl escreveu. (Sem contar a grande vontade que me deixou para ver o documentário original que fizeram durante a expedição, filme que levou o Oscar nessa categoria em 1951.)

Alex Martire



Share this article :

+ comentários + 2 comentários

3 de janeiro de 2013 às 15:57

Muito bom. Adorei sua "cine impressão".

3 de janeiro de 2013 às 16:27

Muito obrigado, Valentim, grande abraço!

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2011. CineImpressões - All Rights Reserved
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger