Amour, 2012.


Michael Haneke é um diretor bem curioso pra mim: a cada filme que lança, gosto de um e acho o outro chato demais. Tem sido assim com os últimos filmes que assisti dele: adorei Violência Gratuita (1997), odiei A Professora de Piano (2001) e Caché (2005), gostei ainda mais da refilmagem de Violência Gratuita (2007), não entendi nada do maçante A Fita Branca (2009), e fiquei encantado com este Amour, seu mais novo filme.

O filme tem abocanhado alguns prêmios ao redor do mundo (todos merecidos), dentre eles o de Melhor Filme na Associação de Críticos de Cinema de Los Angeles e a Palma de Ouro em Cannes. A atriz Emmanuelle Riva também vem conquistando prêmios expressivos e não seria surpresa se aparecesse concorrendo ao Oscar 2013 (por sinal, seria uma concorrente extremamente forte ao prêmio). Em outras palavras, o filme tem competência de sobra tanto para agradar aos críticos de cinema como para adentrar a "alma" dos espectadores.

Amour é um filme mais leve do Haneke como muitas pessoas o tem descrito? Sim, é. Não tem a violência poética e maravilhosa de Violência Gratuita nem o desconforto causado por A Fita Branca, contudo, eu ainda o achei um filme bem pesado. Haneke leva 2 horas para construir e desconstruir o universo, pequeno, de um casal de octogenários vividos por Georges (Jean-Louis Trintignant) e Anne (Riva). Eles têm uma vida confortável em Paris, indo a concertos de piano (Anne era professora de piano - uma tara de Haneke, pelo jeito) e apreciando e colecionando quadros e livros; vivem em um amplo apartamento tomado pelo silêncio causado por um casal de velhinhos e banhado também pela luz do dia e da noite que atravessa a janela do corredor (juntamente com os pombos). Um simpático casal, de diálogo inteligente e muito amoroso. Porém, a situação muda drasticamente quando Anne dá sinais de que não está se sentindo muito bem, esquecendo coisas, ficando "perdida" por vezes: para piorar, a senhora sofre um derrame e a cirurgia pela a qual passa não tem sucesso - o que antes era uma senhora muito vívida, independente e alegre agora se torna uma pessoa com dificuldades locomotoras e tendo o lado direito de seu corpo parcialmente paralisado. O que é mais triste nisso tudo: a doença não tem cura e só piora com o tempo.

Com essa base, Haneke vai explorar o amor já bem realizado, aquele amor de um casamento jovem que durou décadas, aquele amor em que, envelhecer juntos, é a única coisa que o casal sabe. Embora a filha do casal apareça esporadicamente para ver como a mãe está e tentando convencer o pai a interná-la em um asilo para cuidados próprios, praticamente todo o filme é uma obra de dois atores. Dois fabulosos, estupendos atores. Emmanuelle Riva fez um estudo fenomenal sobre pessoas com deficiência locomotora e fragilidade mental: ela convence a cada minuto e, mais importante, nos emociona a cada instante. É bom avisar, Amour vai lhe fazer chorar, mas não é, em nenhum momento, um filme repleto de sentimentalismo barato, forçado. É extremamente triste e belo acompanhar os esforços de Georges para cuidar de Anne: dois velhinhos tendo de passar pelas dificuldades das doenças: algo que acontece com muitas pessoas. Georges dedica sua vida à Anne, a ama profundamente, e podemos ver como isso está presente em seus olhos assutados e compreensivos, e podemos sentir como o tapa que dá no rosto de Anne quando ela está na cama e, de certo modo, afirma que deseja morrer a viver daquele modo, dói mais em sua alma do que na da esposa. Haneke perturba o espectador, mas não de um jeito apelativo: ele mostra imparcialidade e nos faz perguntar se não faríamos a mesma coisa se estivéssemos na pele de um dos dois velhinhos.

Apesar de ser um belíssimo filme, não se pode louvar Haneke como original: e esse tem sido o centro daqueles que criticaram o prêmio dado em Cannes esse ano. A história já foi contada algumas vezes, incluindo o maravilhoso filme islandês Vulcão, de 2011, dirigido por Rúnar Rúnarsson. O final é praticamente o mesmo, com a diferença de que a obra de Haneke me parece mais profunda. Haneke, então, mostra os dissabores do amor quando ele atinge a etapa final de sua vida: não é fácil. Mas amar nunca o é.

Alex Martire





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+ comentários + 2 comentários

15 de dezembro de 2012 às 07:38

eu gosto de Funny Games, não muuuito, mas o suficiente. claro, só vi a refilmagem com o iningulível Michael Pitt, mas achei bacana.

A Fita Branca é lindo de se ver, mas é um cocô no geral (pode falar isso aqui?). Ai, achei a pretensão do universo... e Caché é meio a mesma coisa.

Acho a obra do Haneke sempre um pouco igual (considerando que vi só alguns filmes dele): filmes muito bonitos, muito limpos, muito agradáveis de olhar, mas que me deixam com a sensação do grande Q???
ou eu sou limitada pra esse tipo de cinema, ou ele é pretensioso demais e eu fico de saco cheio.


e me deu curiosidade por esse filme, já me vejo em prantos... essa coisa de velhinho, amor e frança não dá pro meu coração não...

22 de dezembro de 2012 às 03:41

Tá na lista dos que concorrerão como candidatos ao Oscar estrangeiro :)

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