O Segredo de Brokeback Mountain, 2005.


"A verdade é: às vezes eu sinto tanto a sua falta que mal posso aguentar".

Todos já passaram por isso. Ou passarão. E são nesses pequeninos momentos de falta de ar, olhos nublados e voz embargada que a gente descobre o quanto ama a outra pessoa, o quanto é difícil acordar sem ela ao lado e ter de carregá-la no pensamento, desejando que os dias se transformem em horas, as horas em minutos, e os minutos em momentos que jamais deveriam acabar quando, enfim, estamos ao lado de quem amamos.

Ang Lee pegou toda essa mistura de sentimentos presentes no conto original de Annie Proulx (com tradução já lançada aqui no Brasil) e transformou em um filme magnífico, em sua obra-prima. Se Ang Lee não tivesse feito esse filme, ele não ficaria tão bom: gosto bastante da produção do diretor, incluindo o "Hulk" (pois acredito que histórias têm de ter emoção, não apenas ação - ao contrário da adaptação mais recente), e para mim "Brokeback" ainda é a obra-prima de Lee.

Tudo em "Brokeback" beira à perfeição. As tomadas externas em Wyoming são dignas de se pendurar na parede, o uso moderado e discreto de filtros trazem sempre uma naturalidade às cenas, a trilha sonora não poderia ser melhor, as atuações são soberbas. Mesmo Gyllenhaal (Jack Twist) sendo um bom ator, quem rouba o filme é mesmo Heath Ledger. E ele merecia o Oscar por esse filme, não pelo Coringa: tudo bem, adoro a atuação dele no segundo filme do Batman, mas o papel mais maduro e difícil de sua carreira foi como Ennis Del Mar: um cara calado, introspectivo, que tenta segurar seus sentimentos e só consegue libertá-los escondido do mundo, em uma viela na beira da estrada ou diante do homem que ama, na montanha Brokeback. 

A história é quase um "Romeu e Julieta" passado entre as décadas de 1960 e 80 nos EUA. Mas se em Shakespeare a dificuldade estava em receber aprovação de duas famílias que se odiavam, aqui a coisa fica mais séria: é ir contra o preconceito de toda uma sociedade, é ter de guardar o seu verdadeiro amor na sombra, para que os outros não descubram que você é apaixonado por alguém do mesmo sexo. E se Romeu e Julieta se matam, em "Brokeback" o algoz é a intolerância daqueles que não aceitam o fato de, para o amor, simplesmente não existir diferenças. É revoltante que as pessoas, tal como Ennis e Jake, tenham de se exilar para poderem amar. E é mais revoltante ainda saber que, em 2012, a violência, a intolerância ainda são gigantescas.

De resto, sobram no filme cenas brilhantes. O primeiro beijo que acontece escondido nas escadarias da casa de Ennis; a carência de Jake, que não consegue aceitar ver seu companheiro apenas uma, duas vezes ao ano; a cena, já quase no final, da discussão deles na beira do rio em Brokback é extremamente linda e dolorosa: Jake diz que adoraria ter forças para deixar Ennis, ao que o homem calado responde em meio ao pranto: "E por que não me deixa?". São situações comuns a todos. Isso é tão absurdamente comum que é inacreditável que preconceitos estúpidos (pois não há preconceito que não o seja) possam tentar barrar duas pessoas que se amam. Existe diferença entre discutir sua paixão com sua namorada (namorado) ou dois homens (ou duas mulheres) discutirem entre si? O sentimento é o mesmo, a dor é a mesma! E os momentos felizes também são os mesmos, ora! Quantos mais vão ter o mesmo destino de Jack até que as pessoas simplesmente consigam olhar para dentro de si mesmas e ver que, no amor, não há diferenciação?

Um dos melhores filmes já feitos.

Alex Martire


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