Precisamos falar sobre o Kevin, 2011.


Quem deve pagar pelos erros dos filhos? Os pais? As crianças? Talvez seja isso o que a diretora Lynne Ramsay quis explorar em seu segundo longa. "Precisamos falar sobre o Kevin" é um filme muito tenso, daqueles que prendem a atenção do início ao fim. E também é um filme de fragmentos.

A obra é formada por fragmentos. O filme é helicoidal, mas deixando bem claro quais momentos pertencem a quais períodos da história (a sensibilidade em deixar o cabelo de Eva mais curto quando lida com o passado é muito bem recebida: solução simples). Desse modo, a gente enxerga a vida de Eva Khatchadourian (sim, dá nó na língua) em pedacinhos, cobrindo o nascimento de seu primeiro filho com Franklin até os primeiros anos de vida da filha Celia. A diretora trabalha muito bem com o nosso "sadismo": a cada vez que pensamos que vamos entender o trágico acontecimento que marca a família, ela corta a cena para contar mais um pouco da história de Eva. Não é novidade se fazer isso em filmes, mas Lynne o faz muito bem, aumentando o clima tenso até o desfecho brutal.

Você assiste e pensa: "Eva a culpa é e, ao mesmo tempo, não é sua". Diferentemente da mentalidade estadunidense dos pais acusando Eva pelo o que ocorreu no passado, não acho que ela mereça sofrer (ainda mais) com discriminação - mesmo entendendo a dor dos demais pais. Como o título diz, é necessário falar sobre o Kevin. O menino é problemático desde que nasceu. Ele tem tendências masoquistas. Mas os pais nunca o levaram a um médico que pudesse ajudá-lo psicologicamente e também nunca levantaram a mão para ele, para dar uns tapas (e, apesar da ridícula lei do Brasil, sou a favor, sim, de educar os filhos também com uns tapas - desde que não seja espancamento, claro - isso também é uma forma de amor, e desconheço quem, assim como eu, também tenha levado umas chineladas e quando adulto virou psicótico). A falta de diálogo entre a mãe que enxerga o filho doentio e o pai sempre complacente só poderia dar no que deu: a gente sente isso desde o começo do filme.

E se eu disse que o filme é formado por fragmentos, a Eva é o retrato dessa pessoa despedaçada. Interpretada pela sempre brilhante Tilda Swinton, Eva vive banhada, às vezes literalmente, nas manchas vermelhas de sua vida. A briga de tomates no começo do filme, o vandalismo com tinta vermelha em sua casa, as mãos lavadas sobre a pia, tudo está ali para nos lembrar que ela tem uma mácula. Culpa dela ou não? O filme, ainda bem, não faz esse julgamento: cabe a cada um que assistir. Um grande filme.

Alex Martire


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+ comentários + 2 comentários

9 de fevereiro de 2012 às 16:37

filme lindo e triste toda vida.
queria muito ver, queria muito ler o livro (peguei hoje \o/), e não poderia ter ficado mais satisfeita, embora tenha chorado todo o líquido do meu corpo.

lindo de viver.

e sem nenhuma indicação pro Oscar, canalhas, humpf.

12 de fevereiro de 2012 às 16:43

Concordo: a Tilda tinha de ser indicada... Sacanagem pura!

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