Argo, 2012.


Confesso que só fui assistir a esse filme após o resultado do Globo de Ouro que saiu ontem. Não me despertou interesse quando vi os trailers e também a história não me cativou. Para piorar a história, tem o Ben Affleck envolvido com tudo. Sim, não gosto dele. Mas prefiro Ben Affleck dirigindo do que atuando. Atração Perigosa (2007) é um filme muito bom, bastante envolvente e de ritmo ágil: a única coisa que estraga o filme é o Ben Affleck. Com Argo a coisa se repete: o filme é bom (mas Atração Perigosa é melhor), porém, não deve nada à atuação de Affleck. Ele é um diretor que vem se mostrando competente, mas só o tempo dirá se isso não é passageiro. Contudo, sua péssima atuação o acompanha a vida toda e acho que isso deve ter mudado um pouco nas mãos de Terrence Malick, que o dirigiu no To The Wonder, que vai estrear esse ano. Malick deve ter enxergado qualidades no Ben Affleck que eu, sinceramente, não vejo, mas todo mundo merece chances nessa vida, afinal.

Argo é baseado em uma história verídica, quando, em 1980, a população (e o exército) iraniano invadiu a Embaixada dos EUA em Teerã - por conta de o governo estadunidense ter ajudado na fuga de seu último Xá, o Mohammad Reza Pahlavi - e tomou os funcionários como reféns. Obviamente, o filme pinta os estadunidenses como vítimas dos "terroristas" iranianos (que são sempre retratados como bobos, passíveis de serem enganados pelos "inteligentes" norte-americanos), mas a Revolução Iraniana que começou em 1979 se justifica (embora não tenha mudado tão radicalmente o governo do país): os EUA financiaram o poder do Xá, sendo uma época marcada pela violência extrema aos opositores do governo e também por uma "ocidentalização" da cultura iraniana por parte dos EUA e do Reino Unido: em outras palavras, os EUA meteram o dedo em mais um país em que não fora chamado, tal como fez com os países latino-americanos na metade do século XX, chegando a apoiar a Ditadura no Brasil. A população iraniana, cansada da vida que levava, depôs o Xá e estabeleceu o governo dos aiatolás em 1979, mas exigia que os EUA trouxessem seu Xá de volta, para ser julgado pelos crimes cometidos. Diante da negação arrogante dos EUA, a Embaixada é invadida e 50 funcionários são feitos reféns. Seis outros funcionários conseguem fugir e ficam alojados na casa do embaixador canadense em Teerã. Nesse momento - e diante do discurso do presidente estadunidense Jimmy Carter de que os EUA não negociam com terroristas, a CIA é acionada e o agente Tony Mendez (Ben Affleck) é destacado para resgatar os seis funcionários. O plano: entrar no Irã dizendo que é canadense e que pretende filmar uma obra de ficção científica (o "Argo" do título), e falar que os seis americanos na Embaixada do Canadá são, na verdade, uma equipe de filmagens. É um plano bem ousado, não dá pra negar. A partir daí, o filme se desenvolve nessa questão, tendo um agente da CIA tentando resgatar seis cidadãos americanos. "E os outros 50?" - alguém pode perguntar. Bem, os EUA "não negociam com terroristas". Que fiquem lá por 444 dias até que se chegue a uma conclusão.

Argo tem problemas com seu ritmo narrativo: é rápido no começo e prende a atenção, mas depois vira uma lenga-lenga política e cinematográfica, na busca pelo roteiro ideal que os ajude a "filmar" no Irã. No entanto, e é aqui que o filme realmente ganha corpo, sua última meia hora é extremamente tensa! A conclusão da história faz o espectador ficar aflito, dizendo "Vai logo, vai logo!", enquanto os fatos acontecem na tela. Em outras palavras: Argo se torna um filme bom quando deixa de ser político e caminha para a ação, que é o gênero ao qual Ben Affleck está acostumado, e, repito, o fez tão bem em Atração Perigosa. Há também uma cena tecnicamente impecável no filme e que enche os olhos: quando Tony Mendez caminha pelo escritório da CIA para encontrar seu superior: é uma longa cena sem cortes, com a câmera "driblando" os funcionários para captar tudo: muito legal! 

De resto, fica a pergunta: Argo realmente mereceu ganhar o Globo de Ouro 2013 na categoria Melhor Filme de Drama? Só posso responder uma coisa: Não. O filme é bom, mas é só mais um daqueles filmes políticos que ninguém mais vai se lembrar daqui um ano. Não marca quem assiste, não fica "martelando" na cabeça, não desperta muita emoção (excetuando-se os minutos finais). Sinceramente, até o marasmo que Spielberg filmou e chamou de Lincoln se sai melhor do que Argo como filme. O problema tanto do Globo de Ouro como do Oscar desse ano é: não há filmes realmente bons no páreo. Deixaram de lado obras melhores por velhos motivos internos, com certeza. Só resta a esperança de que o Oscar, mês que vem, leve realmente a sério que prêmios devem ser entregues aos melhores filmes, e presenteie Haneke por seu Amour. Mas premiações de Cinema são como futebol: caixinhas de surpresa...

Alex Martire



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+ comentários + 2 comentários

5 de fevereiro de 2013 às 08:46

bah, mas eu discordo. primeiro que eu acho que o filme tem que ganhar apenas porque: Benafleque barbudo.
a lindeza que ele tá vale a película toda - que está longe de ser um filme ruim, pelo contrário.

brincadeiras à parte: eu tenho meus blé com Benafleque também (primeiro que ele tem nome de remédio pra pneumonia, né?)... mas acho que ele mandou bem na direção ET na atuação. tá contido, tá bonito, não dá vergonha alheia.

amei a dupla Goodman e Arkin - mais Goodman, que eu nem sabia que ainda tava vivo.

e achei que o filme tá bom, sendo um ufanismo contido, uma propaganda bem feita, trinta vezes melhor que o da Bigelow.

por enquanto, torço pra Argo. mesmo. ;)

5 de fevereiro de 2013 às 08:58

hahaha vi que odiou a Bigelow!
Gostei do último ato do "Argo" mas não creio que mereça tanto fuzuê que estão fazendo. O Oscar, por sinal, anda se especializando em dar prêmios pra filmes esquecíveis. E não é por falta de filmes bons, é por sacanagem política da Academia mesmo! Ano passado "Árvore da Vida" era pra ter ganho, mas deram pra aquele francês lá, fraquinho, fraquinho...

Vai entender...

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