Vulcão, 2011.


Assisti a esse filme pela primeira vez na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2011. Lembro que passou no primeiro dia da mostra e que vi na Galeria Olido: um bom lugar para se ver filmes interessantes pagando-se apenas 1 real - eu recomendo. Desde então, fiquei com esse filme na cabeça, e ele sempre retornava quando lia alguma coisa sobre a Islândia, ou ficava sabendo de algum filme de lá. Recentemente, a lembrança se tornou muito mais forte após eu assistir ao belo filme de Haneke Amour  (2012). É impossível não comparar os dois. Até mesmo pode-se pensar se Haneke chegou a ver esse filme islandês e se lhe inspirou de algum modo. A conclusão do filme, por sinal, é idêntica em ambos (o método, eu digo). Porém, com apenas um ano de diferença entre as produções, é mais provável que tenha ocorrido uma feliz coincidência de histórias. E é a gente que se beneficia disso.

Vulcão (ou Eldfjall, no impronunciável original) foi escrito e dirigido por Rúnar Rúnarsson, um jovem diretor que, até então, só havia dirigido curtas. E, tomando-se por base os seus filmes anteriores, fica bem claro que Rúnarsson não tem a "mão leve": todos eles são bem tristes e com um teimoso sabor de amargura que perdura depois que assistimos (um exemplo é 2 Birds, de 2008). Com Vulcão não é diferente. Acompanhamos a história de Hannes (Theodór Júlíusson), um senhor de quase 70 anos que se aposenta do serviço de zelador de uma escola e enfrenta os problemas que o ócio traz às pessoas que dedicaram toda uma vida a algo. Ele é casado com Anna (Margrét Helga Jóhannsdóttir), uma senhora que sempre é destratada pelo marido, e tem um casal de filhos, Ari (Þorsteinn Bachmann) e Telma (Elma Lísa Gunnarsdóttir) - que mal conseguem suportar a presença do pai. A vida triste de Hannes piora quando a esposa sofre um grave derrame e fica imobilizada na cama. A partir daí, as comparações com Amour de Haneke são suficientes para que eu não precise falar mais sobre a história.

Rúnarsson foi extremamente feliz (se é que tem algo de feliz nesse filme) na escolha do título que conduz a obra. Hannes se muda com a família de sua ilha natal por conta de uma grande erupção vulcânica ocorrida anos antes. Toda a sua vida parece viver sob a sombra desse acontecimento. Ele é um homem-vulcão, digamos: tem a aparência e a dureza de rochas externamente, não demonstra seus sentimentos e está, como a esposa lhe diz, sempre ranzinza. Acaba descontando sua frustração de viver em Anna e, ao verem isso durante todas as suas vidas, seus filhos acabam por se afastar do pai, refletindo esse comportamento nos netos também. Hannes está sempre a ponto de explodir, e entrando em erupção quando as coisas não vão bem. Mas toda lava tende a secar e a fazer parte da paisagem quando sai do vulcão: Hannes não foge a isso - sua tristeza só aumenta quando se aposenta e perde o rumo; ele tenta, mais de uma vez, cometer suicídio, mas é inconstante demais para isso: mil pensamentos são levados pelas águas frias do mar islandês. Talvez por se mostrar tão duro na vida, é que as cenas de sua fragilidade são tão marcantes: ver esse "vulcão" se desmanchar, se apequenar diante da grande força interna que Anna representa em sua vida - e agora vai se esvaindo - é de emudecer qualquer um. Tal como um vulcão que vai mudando a paisagem magmática ao seu redor, Hannes vai se modificando e tendo relações diferentes com os filhos e netos, mesmo que de modo lento, quase secular, quase vulcânico. Por fim, Hannes tenta domar a própria natureza quando encontra a mulher amada (e maltratada) com uma doença sem cura. E Rúnarsson torna toda essa experiência ainda mais impactante quando faz algumas tomadas bem próximas ao rosto de Hannes: nos tornamos íntimos desse ser tão marcado pela vida.

Pessoalmente, tenho mais simpatia pelo Vulcão de Rúnarsson do que pelo Amour de Haneke. Não só pelo fato de ser um filme escandinavo (se é que posso chamá-lo assim), mas porque Vulcão é pesado do início ao fim. Não há momentos felizes, tudo nele é carregado e sombrio, como se estivéssemos sempre à sombra de um vulcão prestes a explodir. Isso certamente não causa conforto ao espectador e muitas pessoas podem reclamar, mas, no fim, é apenas questão de gosto. De qualquer modo, Vulcão é um grande filme e merece, muito, ser visto.

Alex Martire






Share this article :

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2011. CineImpressões - All Rights Reserved
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger