Melodia da Broadway, 1929.


Em 1930, um ano após Asas (1927) receber o prêmio máximo da Academia, um musical foi o responsável por ganhar a categoria Melhor Filme: foi a primeira obra falada a ser prestigiada no Oscar, e seu nome é Melodia da Broadway. Não é pouca coisa ter sido o primeiro filme falado a ganhar o Oscar de melhor obra: Melodia da Broadway abriu um longuíssimo caminho na história da premiação, que acompanhou um fato que já ficara bem claro quando surgiram as vozes nos filmes - o cinema mudo havia acabado. De 1930 até 2011, todos as obras que receberam o prêmio de Melhor Filme no Oscar foram sonoras. Um filme mudo só voltou a ganhar um Oscar em 2012, com o fraquíssimo O Artista (que, por sinal, não é uma obra completamente muda, diga-se de passagem). 

O musical divertido conta a história das Irmãs Mahoney (sempre confundidas com Maloney), a morena Hank (Bessie Love) e a loira Queenie (Anita Page), que são trazidas à Nova Iorque pelo seu tio Jed (Jed Prouty, em um papel muito engraçado como agente gago) e apresentadas ao cantor performático Eddie Kearns (Charles King), que promete às garotas um número de destaque na Broadway. Eddie era apaixonado por Hank, mas logo cai de amores por Queenie, que não via há tempos. Queenie, amando secretamente Eddie para não magoar sua irmã, porém, começa a ser perseguida por um dos financiadores do espetáculo na Boradway, Jock Warriner (Kenneth Thomson), um ricaço mulherengo que promete muitos bens materiais à garota. Entre espetáculos bem ou mal sucedidos na Broadway, o triangulo amoroso vai se desenvolvendo de maneira bem natural, regado à canções muito lindas e "grudentas", como a que dá título ao filme. Mas a relação das irmãs Mahoney não pode ser a mesma enquanto amam o mesmo homem: uma delas vai ter de ceder, e isso acontece já no finalzinho do filme, com duas cenas seguidas bem marcantes: um drama que realmente mareja os olhos e uma trapalhada digna dos bons momentos do cinema sem falas.

Melodia da Broadway, por sinal, tem muitos resquícios do cinema mudo, principalmente porque ainda existiam filmes sem voz sendo rodados: Tempos Modernos, de Chaplin, por exemplo, foi produzido em 1936, mas já era uma exceção. O último filme mudo que os estudiosos apontam é O Beijo, com Greta Garbo, e lançado em 1929 pela MGM, a mesma produtora de Melodia da Broadway, ou seja, no mesmo ano tivemos essa transição entre o mudo e o sonoro documentada pela Metro-Goldwyn-Mayer. Melodia da Broadway é musical com toques de comédia que foi dirigido por Harry Beaumont, um cineasta que realizou - pasmem - 100 filmes! Como a maioria de sua filmografia é anterior a 1929, fica bastante nítido que muitos enquadramentos - e equipamentos de filmagem - são os mesmos do maravilhoso e elegante cinema mudo estadunidense. Também percebe-se que os atores ainda estavam numa fase de adaptação: a todo momento ocorrem certos exageros gestuais e expressivos, como caretas e movimentação corporal. Por Melodia da Broadway ser um filme engraçado e cantado em muitas cenas, o elenco também veio do cinema de comédia muda, e pode-se notar isso de forma clara em muitas cenas que não exigem diálogos. Por sinal, se o filme fosse mudo, provavelmente sentiríamos pouquíssima diferença em sua estrutura , pois ainda não estava tão estabelecido o formato de narração visual que temos hoje em dia. O maior exemplo disso talvez seja a presença de intertítulos na mudança de cenas e cenários: aparecem sempre as palavras indicando o local que veremos a seguir. No começo causa estranheza ao espectador, mas logo se mostra muito interessante tentar "pescar" essas reminiscências do cinema mudo em Melodia da Broadway

Mesmo não sendo uma obra tão marcante como filme em si, o seu caráter histórico e sua importância dentro das grandes premiações cinematográficas (o segundo filme a ganhar um Oscar) fazem de Melodia da Broadway um filme que precisa ser visto por quem ama Cinema. Com certeza, é um filme muito divertido!

Alex Martire





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