Django Livre, 2012.



Gosto bastante do Tarantino. Lembro que a primeira vez que ouvi falar de seu nome foi quando assisti ao ótimo Um Drink no Inferno (1996). Na época, Tarantino ainda atuava e só havia dirigido uns curtas e coisas menores. Logo depois, fiquei sabendo que ele dirigiu um filme chamado Pulp Fiction, em 1994, e um denominado Jackie Brown (em 1997), mas só fui realmente me interessar por sua obra a partir de Kill Bill, lançada em 2003 e 2004. Em 2007 saiu o seu filme que considero mais fraco, A Prova de Morte, e em 2009 ele lançou o excelente Bastardos Inglórios. Ou seja, Tarantino fez poucos longa-metragens até agora. Mas ele ainda é um sujeito novo, e creio que fará muitos outros. Ainda bem! 

Existem duas coisas que me incomodam na obra do Tarantino. A primeira é o fato de ele sempre querer "homenagear" um gênero cinematográfico: parece que ele só sabe fazer cinema se for recortando e colando vários tipos de filme; ainda espero um filme realmente original de Tarantino. A segunda coisa, é o modo como Tarantino é supervalorizado pelas pessoas, como se tudo o que ele faz é magnífico e como se fosse errado simplesmente não gostar dele ou de sua obra. Talvez seja até um pecado você comentar com alguém que nunca viu um filme dele ou, pior, dizer que não gostou: a pessoa "entendida" vai torcer o nariz e começar a dar mil justificativas do porquê de Tarantino ser tão bom. Enfim, isso acho extremamente desnecessário, sendo que a obra do Tarantino, por mais que eu goste, não é impecável. Seus filmes não são grandes obras filosóficas, não vão mudar a vida de ninguém - sinceramente, nem acho que essa seja a intenção do diretor. Tarantino quer divertir o espectador, quer que o ingresso valha a pena e que você saia com um sorriso no rosto ao término da sessão. Tendo isso em conta, Tarantino é, sim, um dos grandes diretores do cinema pipoca, mas um cinema que não é baseado em explosões e monstros ou super-heróis: é um cinema inteligente, repleto de ótimas tiradas e diálogos incríveis; mas raso. O seu novo filme não foge a isso.

Django Livre é um western spaghetti bem-humorado, ou seja, eu poderia chamá-lo de western-pipoca. Digo isso porque você certamente irá se divertir vendo um filme que não se leva muito a sério, como aqueles dirigidos pelo grande Sergio Leone. A história de Django Livre é uma história de amor, principalmente. E como toda história narrada por Tarantino, é repleta de violência e sangue jorrando para tudo quanto é canto, mesmo sendo, como eu disse, uma história de amor. Logo no início somos apresentados à dupla que é o cerne do filme: o dentista alemão Dr. Schultz (Christoph Waltz) percorre os estados sulistas dos EUA em 1858 (ou seja, um pouco antes da Guerra Civil estourar) atrás de traficantes de escravos que são procurados pela lei do Texas. Ele encontra uma dupla de traficantes que têm entre seus presos Django (Jamie Foxx), um escravo que desperta simpatia em Schultz e acaba libertado após o assassinato da dupla de traficantes pelo dentista. Daí pra frente, Schultz e Django trabalham em conjunto, percorrendo as fazendas sulistas atrás de procurados pela lei e os matando em troca da recompensa (e em nenhum momento eles fazem jus ao termo "vivo" nos cartazes de "vivo ou morto"). Contudo, Django, agora um homem livre, tem o desejo de voltar a encontrar sua esposa Broomhilda, que foi separada de si durante uma venda. Schultz decide ajudar Django em sua empreitada e, após percorrer centenas de quilômetros, chegam ao Mississippi, local onde existe a fazenda de Calvin Candie (Leonardo DiCaprio), um rico proprietário de escravos que tem, entre seus criados, a bela Broomhilda (Kerry Washington), e um servo com mentalidade escravocrata, o Stephen (Samuel L. Jackon). A partir daí, Django e Schultz bolam um plano para resgatar Broomhilda e o casal poder viver, enfim, em paz.

É um história simples, sem muitas reviravoltas. A primeira metade do filme é muito, mas muito divertida. Mesmo sendo um filme de 2 horas e 45 minutos, sua primeira metade passa voando quando vemos Django e Schultz se conhecendo melhor e indo em busca dos traficantes de escravos. A segunda metade perde um pouco do fôlego, sendo praticamente toda encenada dentro da residência de Candie, mas se sustenta nos diálogos afiados. Django Livre, no entanto, é um filme bem comedido para os padrões de Tarantino: praticamente toda a violência exacerbada ocorre apenas nos 10 minutos finais, e não empolga tanto como nas obras anteriores do diretor. Aqueles famosos zooms nos rostos do atores aparecem um aqui, outro acolá: o mesmo para a "viagem" rápida da câmera de um ator para outro. Porém, Tarantino sabe extrair quase tudo de seus atores e temos interpretações brilhantes de Christoph Waltz e Leonardo DiCaprio: eles roubam todas as cenas em que aparecem. Infelizmente, o Django de Jammie Foxx, mesmo que bem interpretado, só é exigido mais no fim do filme, contradizendo um pouco o seu papel, que é o de personagem principal na trama.

De resto, Django Livre deve perder o grande prêmio no Globo de Ouro e, mesmo que merecidamente indicado, também não deve ganhar o prêmio de Melhor Filme no Oscar. Nem tanto pelo fato da Academia ter birra com Tarantino, mas porque o filme é bom; nada mais do que isso (embora devamos lembrar que Martin Scorsese acabou ganhando o Oscar pelo Os Infiltrados, uma obra menor em seu currículo). A briga vai ser boa mesmo entre Waltz e DiCaprio, mas infelizmente só um deles pode ganhar. Esperar para ver. Enquanto isso, a gente faz o que deve ser feito: assistir a esse divertido filme de Tarantino munido de bastante pipoca. 

Alex Martire


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