As Flores da Guerra, 2011.




Semana passada postei algumas impressões de "A árvore do amor" (2010), filme do chinês Yimou Zhang e mencionei que, de sua filmografia, faltava assistir ao "As flores da guerra". Acabo de preencher essa lacuna e posso dizer que, pra variar, não me surpreendi nem um pouco: Zhang nunca fez um filme ruim, e dessa vez não foi diferente: "As flores da guerra" é um grande épico (por mais redundante que isso possa parecer). Se o diretor nos acostumou com filmes passados no período feudal chinês, dessa vez ele nos coloca na Nanquim ocupada pelos japoneses em 1937: espadas são trocadas por rifles e pólvora. E o faz com pulso firme e de maneira brilhante (simplesmente não consigo evitar o uso desse adjetivo quando falo de Zhang). O contraste com seus filmes anteriores é nítido e causa um certo estranhamento no começo: aqui não há o colorido imperial, não há ouro ou lutas que ressaltam a areté dos combatentes, somos mergulhados no pó, na sujeira, nas ruínas de Nanquim - quase todo o filme tem um tom sombrio, de sujeira e decadência: a guerra não é colorida e animada, afinal. Toda essa mudança na paleta de Zhang me deixou desconfortável nos primeiros minutos do filme, me lembrando algo como "O resgate do soldado Ryan", mas logo isso passa e é então que o estilo de Zhang se faz presente: o uso das cores em meio ao caos. É um mundo praticamente acastanhado e cinzento, mas isso não impede de tecidos coloridos voarem em explosões e, principalmente, são as cores que trazem o título do filme: as prostitutas refugiadas na catedral, com seus vestidos exuberantes e maquiagens graciosas, são as verdadeiras flores em meio à guerra.

Em um filme praticamente todo rodado em um único cenário - a catedral - a força do roteiro e as atuações sustentam a obra do começo ao fim. A performance de Christian Bale, pra variar, é bem segura e competente (aliás, pra mim, é um dos grandes atores da atualidade; embora ninguém vença Ricardo Darin) como o "padre" responsável por tomar conta das órfãs e das refugiadas prostitutas. Em um filme de 2h20, Zhang põe sua sensibilidade característica na tela, deixando um filme fluido e tecnicamente impecável. O que mais adoro nesse diretor é a facilidade de transitar por temas tão diferentes em tão pouco tempo e de modo tão singular e excelente. Em 2010, Zhang lidou com as alegrias do amor: agora ele nos entrega a poesia (e por que não a poética?) da morte. 
Sorte nossa.

Alex Martire


Share this article :

Postar um comentário

 
Support : Creating Website | Johny Template | Mas Template
Copyright © 2011. CineImpressões - All Rights Reserved
Template Created by Creating Website Published by Mas Template
Proudly powered by Blogger