Vapor da Vida, 2010.




"...e perguntei se eu poderia, um dia, visitá-la para tomar um café. Ela disse que sim, e em pouco tempo eu a visitei com um buquê de flores. Foi assim que começou e ainda continua..."


Sempre achei que tomar café com alguém é um ato quase mágico, uma espécie de ritual que, para mim, me traz um prazer muito grande e, geralmente, grandes lembranças também. O "Vapor da Vida" é sobre isso: recordações, memórias... aqueles pedacinhos de vida que ficam presos no cérebro e jamais o largam. Esse documentário finlandês, a meu ver, teve uma enorme proeza: mostrar que os homens também sofrem, amam e riem. Pode parecer besteira isso tudo e sempre haverá alguém para dizer: "mas é claro, são humanos". A realidade, porém, é bem diferente. Não é fácil para nós demonstrarmos o que sentimos. E o filme vai, literalmente, despir os homens de suas armaduras e colocá-los em saunas (o que me parece ser algo bem arraigado à cultura finlandesa) para confessarem seus sentimentos. E irão contar histórias maravilhosas... talvez ainda mais interessantes por sabermos que são reais. O momento mais feliz da vida de um - conta ele com a voz embargada aos demais - é o nascimento de sua filha. Outro lamenta o fato de a esposa não deixá-lo ver a filha, de não ter alguém para chorar com ele, pois admite que chorar sozinho talvez seja uma das maiores dores que existem. Há ainda um homem que ficou um bom tempo preso e, numa tarde de sol na cadeia, uma borboleta cruza as grades e pousa sobre sua caneca: esse ato tão simples o faz modificar seus pensamentos suicidas e fazer uma promessa: casar com a primeira moça que se sentasse ao seu lado no banco da igreja quando fosse solto - e a vida o presenteia com esse quase "conto de fadas". 

Aliada às histórias há a fotografia belíssima da Finlândia. Talvez seja bem fácil filmar por lá: basta deixar a câmera parada no tripé em qualquer canto e você terá uma imagem magnífica - são realmente deslumbrantes. O filme todo é feito desse jeito, com a câmera parada: somos sempre observadores. O único momento em que ela se mexe é ao final, fazendo um travelling para dizermos adeus a esses homens, que cantam encantadoramente.

O grande mérito do documentário é realçar o que somos obrigados a esconder no cotidiano: também choramos e temos nossa fragilidade. Às mulheres foi legada essa fortuna; a nós? A nós nos foram proibidas a carência e a demonstração afetiva (vistas como sinal de fraqueza masculina). Mas sabemos muito bem que essa "força" só acontece da boca pra fora...

Alex Martire





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